quarta-feira, agosto 05, 2009

BRASÍLIA - DF

Geopolítica da crise


Correio Braziliense - 05/08/2009



A permanência do senador José Sarney no Senado passou a ser a âncora da política de alianças do presidente Luiz Inácio lula da Silva, que estava invertida na Casa, com o PMDB aliado ao DEM e o PT ao PSDB, desde a derrota do senador petista Tião Viana(AC). Por uma dessas ironias da política, a crise ética no Senado, com as denúncias contra Sarney e a instalação da CPI da Petrobras, tendo como alvo petistas alojados na cúpula da empresa, reaproximaram o PMDB e o PT e aglutinaram a oposição. O pano de fundo, como faz questão de lembrar o Palácio do Planalto, é a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.

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Lula não está nem um pouco preocupado com a imagem do Senado, está de olho no apoio do PMDB à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Teme que a renúncia do presidente do Senado, provocada por uma eventual deriva da bancada petista para o lado dos que se opõem ao velho cacique maranhense, leve seus aliados nos estados a cuidar apenas de seus interesses locais, deixando a candidata petista sem um palanque firme no Maranhão, Amapá, Alagoas, Paraíba e Distrito Federal, onde o PT já é adversário do PMDB.

Soldos// O governador José Roberto Arruda (DEM) foi recebido ontem na Presidência da Câmara dos Deputados por líderes da base de apoio ao governo Lula. Ele pediu apoio para o regime de urgência do projeto que estabelece o novo Plano de Cargos e Salários da Polícia Militar do Distrito Federal.

Saquaremas


Foi no antigo Senado que surgiu a política de conciliação do Marquês de Paraná, na qual pontificou Nabuco de Araújo. Na oposição aos luzias, como eram chamados os liberais do Recife, o conselheiro Nabuco aceitou participar do gabinete por lealdade ao imperador Pedro II, mesmo estando em oposição na sua província. A fórmula da convivência, no governo federal, entre adversários que se digladiam nos estados vem daí. Foi adotada por Getúlio Vargas, que fundou os antigos PSD e PTB para administrar os conflitos, e reproduzida nos dois mandatos de Fernando Henrique. Agora, está mais robusta, haja vista a disputa entre o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), na Bahia, dois esteios do governo Lula.

Murici


Se o presidente Lula largar a mão de Sarney, prevalecerá a máxima do coronel Tamarindo em Canudos: “É a lei de Murici, cada um cuida de si”, a senha para uma debandada desastrosa. Os caciques do PMDB vão tomar o rumo que acharem melhor nos estados, inviabilizando uma coligação formal com o PT de Dilma. Além da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Roraima, Tocantins e Goiás, que integram o sistema de alianças governistas, ficarão à matroca.

Dissidências


Isso abre espaço para a ampliação do bloco de aliados dos tucanos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco, Piauí, Pará e Mato Grosso do Sul. Sergipe, Acre e Mato Grosso, hoje alinhados com Lula, não pesam no jogo interno do PMDB.

Ganhou



Prevaleceu a tese do senador Delcídio Amaral (foto), do PT-MS: a bancada do PT não se reuniu ontem, como queriam os oito senadores que apoiam o afastamento de Sarney. Alinhadíssimo com o presidente Lula, o senador pantaneiro avalia que a bancada do PT não deve fazer nenhum movimento novo na crise do Senado. Apenas esperar, para ver como é que fica.





Elite



A tropa de elite do presidente José Sarney fez um balanço da situação, ontem, num café da manhã no gabinete do senador Gim Argelo (foto), do PTB-DF, onde se reuniu com o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Acertaram a estratégia de confronto com a oposição os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), e no Congresso, Ideli Salvati (PT-SC), e os líderes de bancada Aloizio Mercadante (PT-SP) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Brilhou no breakfast, o ex-presidente Fernando Collor (PTB), grande artilheiro de Sarney.

Mãozinha/ Bem encaminhado numa aliança com o PT pelo governo do Paraná, o senador Osmar Dias (PDT) pedirá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuda para convencer o governador Roberto Requião (PMDB) a aderir à chapa como candidato ao Senado. Dias aguarda chamado do Palácio do Planalto para ter a conversa
esta semana.

Sem TV/ Não foi despropositado o início da sessão de hoje do Conselho de Ética do Senado ter sido marcada para as 15h. Descontados os habituais atrasos para o começo dos debates, a sessão deve ser aberta em torno das 16h, horário em que a TV Senado passa a transmitir a sessão no plenário. Se houver barraco, passará longe do escrutínio dos espectadores.

Calma/ A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, decidiu adiar sua participação na agenda de eventos proposta pelo PT no interior de São Paulo. Dilma ponderou que sua presença em palanques não relacionados ao PAC ou ao presidente Lula seria facilmente interpretada como campanha indevida.

Colateral


Confrontado na tribuna, anteontem, pelos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTB-AL), Pedro Simon (PMDB-RS) saiu no lucro com a repercussão do bate-boca. Até as 11h30 de ontem, o gaúcho havia recebido mais de
530 e-mails de solidariedade.

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