terça-feira, maio 12, 2009

COISAS DA POLÍTICA

Tucanos em paz por algum tempo

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 12/05/09

O ninho tucano é talvez, hoje, o mais curioso ambiente da política no país. É frequentado por alguns dos mais educados e brilhantes políticos da atualidade, como o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, só para citar alguns nomes. Mas é onde se trava, provavelmente, a maior batalha intrapartidária do momento: a disputa entre Serra e Aécio para saber quem será o candidato do PSDB a presidente. E aí – não se iluda o leitor ou eleitor! – a batalha é cruel. Como toda guerra política, com intrigas, ressentimentos, histórias de traições, palavrões de bastidores, alianças difíceis de explicar.

Assim vinha o clima no tucanato, com os aliados de Serra seguros de que Aécio exigia prévias até setembro porque se preparava para deixar o partido, caso fosse derrotado, até outubro, prazo limite de filiação a outra legenda estabelecido pela Justiça Eleitoral para quem quer concorrer às eleições de 2010. O próprio Aécio jogava lenha nessa fogueira, flertando ora com o PMDB, ora com o PSB. Seus aliados diziam cobras e lagartos de Serra e, mais tarde, até mesmo de Fernando Henrique Cardoso, depois que o presidente começou a dar sinais de preferência pelo governador de São Paulo. Mais: a disputa entre os estados de São Paulo e de Minas entrou como um ingrediente explosivo nessa guerra, com ares até de secessão federativa.

Mas, agora, quem circular pelo tucanato verá que os ânimos estão menos exaltados. Há um certo clima de paz. E o que fez isso? Foi um encontro entre Serra e Aécio, no fim de abril, em que os dois acertaram aquilo que no Congresso se chama acordo de procedimentos: já que não dá para fechar um acordo definitivo, estabelece-se um acordo em torno dos procedimentos a serem adotados por ambas as partes até o momento da disputa. E qual foi o acordo de procedimentos entre Serra e Aécio? Foi o seguinte: Serra aceita, enfim, que as prévias definirão o candidato do PSDB a presidente, não mais as pesquisas eleitorais ou qualquer outro critério. E Aécio aceita que as prévias ocorram depois de outubro, o tal prazo de desfiliação. Ficaram lá para janeiro ou fevereiro do próximo ano.

– Acho que a relação entre os dois está equacionada, e isto tranquilizou muito o partido. Na verdade, o Aécio deu uma demonstração de grande fidelidade ao PSDB, espantando os fantasmas de que poderia deixar o partido – explica o líder dos tucanos no Senado, Arthur Virgílio Netto (AM).

Isso quer dizer que Arthur vai votar em Aécio (afinal, ele e Serra nunca foram muito afinados pessoalmente)? O senador responde:

– Vou votar naquele que mais ajudar o PSDB a vencer as eleições. Hoje, meu voto vai para o Serra, porque ele está na frente nas pesquisas. Mas o Aécio aceitou deixar as prévias para depois porque acredita que, até lá, também estará bem nas pesquisas de opinião. Se ele estiver melhor que o Serra, voto nele. A coisa ficou assim: vamos parar de fofocas e deixar tudo caminhar naturalmente. Quem melhor se estabelecer até o início do ano que vem é quem será ungido candidato.

Nessa hora lembrei que o próprio Arthur Virgílio vinha se dizendo pré-candidato às previas para presidente. Desistiu? Aí o senador gaguejou um pouco, mas respondeu:

– Na verdade, nunca achei que venceria o Serra ou o Aécio. Coloquei meu nome para forçar que o partido não decidisse esse assunto numa reuniãozinha de meia dúzia de membros da cúpula, o que resultou no fracasso das últimas eleições presidenciais para o PSDB. Nesse sentido, já alcancei parte dos meus objetivos com o anúncio das prévias. Agora, para retirar definitivamente meu nome, basta que um dos dois se mostre verdadeiramente interessado e inteirado dos problemas da minha região, a Amazônia. Com profundidade.

E, aí, Virgílio liga a metralhadora:

– A verdade é que nem o Serra, nem o Aécio demonstraram preocupação real com o tema. Nem eles, nem qualquer outro pré-candidato a presidente têm um conhecimento sobre o tema que vá além de uma consulta rápida ao Google. Estão brincando com fogo. O mundo está de olho na Amazônia e, se o Brasil continuar alheio, acaba que a região vai virar um protetorado da Organização das Nações Unidas. E o pior é que nem o meu partido, nem o Serra nem o Aécio despertaram para o tema.

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