quinta-feira, março 19, 2009

ARI CUNHA

Brasil não suporta a carga


Correio Braziliense - 19/03/2009
 



Nosso país está chegando à decrepitude. É hora de parar. Passar a régua. Ir colocando as coisas nos lugares. É longa a jornada. O primeiro passo deve ser dado. 

Poderes não se entendem. Há choques e disputas. Independentes e harmônicos entre si seria o normal. Quem manda no caixa domina tudo. A Câmara foi tolhida pelo mensalão. Dinheiro às mancheias distribuído à vontade. O Executivo passou a ter aprovação de projetos. Foi feita investigação. Ia atingir gente alta. O relógio passou a andar ao contrário. Os que fiscalizaram são os culpados por desvios de conduta. Estão sendo processados. O assunto inicial foi esquecido. 

Um dia a história toda será contada e estarrecerá o país. Todos sabem. Os nomes vão à Justiça e se livram das acusações. 

Dizia dr. Assis Chateaubriand que com três nações que vestem saia não se deve mexer: padre, mulher e juiz. A sentença é antiga, mas válida nos dias atuais. Triste do país que não crê na sua Justiça. Está desmoronando. Não estaremos longe desse caminho se não surgir a voz para levantar o brio de todos. 

O Brasil está na pirambeira. É como carro sem freio descendo a ladeira. O povo deve ser o motorista, não para mandar. Evitar desastre maior. A corrupção está nos três Poderes. Impostos são mais altos do que o valor da vida que levamos. É aí que surge a contravenção. Vem a sonegação. Nem vale a pena ir à Justiça. A demora faz os caminhos tortuosos. O governo espera receber alguns bilhões. Contraventores contam com recursos e os processos vão se multiplicando.

No Congresso, parlamentar passou a ser profissão. Não ganha mais subsídios. Tem salário dividido em partículas. Importante é ganhar muito sem pagar Imposto de Renda. No parlamento, o vencimento é um. Dinheiro para contratar assessores aqui; em seus estados é outro. Cota de gastos pessoais. Ajuda à moradia. E vai mundo afora com o dinheiro da viúva se espalhando que nem água, de maneira que ninguém o junte. 

Quando o Congresso era no Rio, os concursos como os da Câmara eram perfeitos. Vieram para Brasília com a mesma dignidade. Certo dia a coluna falou mal. Uma senhora austera veio ao jornal esclarecer que o colunista estava enganado. Contou sua história. Mudamos de opinião na hora. O Congresso ainda hoje tem assessores do mais alto gabarito e redatores de escol. Congressistas pagam despesas pessoais com o dinheiro do governo. Quando precisam da lei e da verdade, vão procurar os aprovados nos concursos. São competentes e conhecem o emaranhado de leis com as quais convivem os representantes do povo. 

Assumindo Castello Branco, o subsídio ficou no fixo. As vantagens foram extintas. Vereador, conforme o tamanho da população, era cargo honorífico, sem remuneração. A maioria dos homens de bem procurou representar seus estados. No Rio, parlamentares chegavam, alugavam apartamento e escritório. A profissão que exerciam cobria despesas pessoais e da família. 

A mudança para Brasília trouxe privilégios. No projeto, parlamentares teriam ônibus para os levar ao Congresso no horário das sessões. Aqui a coisa mudou. Foram compradas centenas de veículos. Até ônibus para levar os filhos aos colégios. 

No Senado, o presidente acossado. Determina que todos os diretores entreguem os cargos. A casa começa pelo telhado. Funcionalismo desfruta também das vantagens mais importantes. Vale, porque é dado o primeiro passo. A ordem também desapareceu. 

A empena do Teatro Nacional, onde havia a obra mais importante de Athos Bulcão, foi demolida. Era para refazer os blocos que faziam o desenho dançar conforme o sol passasse. Projetaram refazer a obra do grande escultor. Seria como demolir a estátua das Bandeiras e fazer outra no Ibirapuera. Veio um libertino. Preferiu usar spray para marcar seu protesto. Pelo desenho, não é pichador profissional, e sim um revoltado. Polícia o está procurando, para prendê-lo. Os que motivaram o protesto continuam nos mesmos postos. Esse é o nosso país, autossuficiente em petróleo, e cobra a mais cara gasolina que o povo nem sempre pode pagar. 

O aeroporto vai entrar em reforma. Taxistas que dão plantão protestam e atrasam as obras. Negam as vantagens de que desfrutam. Carros subsidiados e modelos a escolher. Na verdade, deveriam ser pintados para caracterizar o uso para serviço ao povo. Parecem carros particulares. Terminado o prazo, vendem com bom lucro. 

Esse é o país que vemos amanhecer. A alvorada não deve tardar. Há dinheiro de impostos para tudo. Vamos passar a régua. É hora de fazer balanço e colocar as coisas em seus lugares. Esse, pelo menos, é o querer do povo. Lembrem que essa voz é como a de Deus. Vale e orienta.


História de Brasília

O carnaval em S. Paulo será orientado por medidas enérgicas, já tendo sido proibido o uso de biquíni e de shorts em qualquer baile ou desfile público. (Publicado em 25/1/1961)

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