quarta-feira, agosto 14, 2013

100% satisfaction - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 14/08


Quem acompanha meus textos sabe que arrasto um trem pelos Beatles, ainda que os Rolling Stones tenham igualmente sonorizado minha adolescência. Na hora de responder à pergunta clássica – Beatles ou Stones? –, eu cravava Beatles sem meio segundo de vacilação.

As coisas mudaram. Hoje, se me fizessem de novo a mesma pergunta, desconversaria, pois a comparação não procede. Apesar de serem bandas contemporâneas e conterrâneas, a guitarra de um não bate com a guitarra do outro. Isso só ficou evidente pra mim quando, no último dia 13 de julho – Dia do Rock! – tive a sorte e o privilégio de assistir a um show dos Stones em pleno Hyde Park, em Londres, num início de noite ainda com céu claro e calor intenso.

Eles entraram no palco às 20h30min e o meu queixo tremeu, o olho marejou, e mesmo me conscientizando ali de que estava diante de quatro pessoas de extrema importância na minha vida, coloquei a culpa do meu faniquito na idade – a deles, claro. Me emociono com os perseverantes.

O fato é que durante as duas horas exatas em que a banda apresentou seus hits mais contagiantes com uma qualidade de som que eu nunca tinha escutado ao vivo e um pique que jamais caiu, me dei conta de que a matéria-prima do rock é a testosterona – e nada menos sexual do que os Beatles.

Mick Jagger seduz com todos os instrumentos de que dispõe: voz, corpo, guitarra, gaita de boca, e a boca, ela própria. Perdoe a vulgaridade do termo, mas não encontro jeito mais suave de expressar: cada música é como se fosse uma trepada com a plateia. Sai-se esgotado da experiência, eles ainda mais do que nós. Se depois de um show assim vigoroso dá vontade de acabar a noite acendendo um cigarro e tomando um uísque, não tenho dúvida de que para eles a noite acaba no hospital tomando soro. Mas com a missão cumprida.

Já os Beatles passam longe do obsceno. Fundadores de um estilo único, experimental, poético e sofisticado, conquistaram o pódio com sua extraordinária inventividade – nunca um disco igual ao outro. O que eles fizeram em apenas 10 anos de carreira ninguém chegou nem perto. Não era rock. Eles criaram um gênero musical chamado... Beatles.

Rolling Stones são definitivamente roqueiros. Há 50 anos oferecem mais do mesmo, e nenhum problema em não mudar. O mundo em volta é que mudou. Em 1969, quando tocaram no Hyde Park pela primeira vez, a plateia era formada por simpatizantes do flower power, todos curtindo paz e amor, muitos em viagem de ácido.

Em julho de 2013, a plateia era formada por simpatizantes do Steve Jobs, todos assistindo ao show pelo monitor do seu iPad, iPhone e tuitando com uma obsessão de viciado. Milhares de cinegrafistas amadores reunidos a fim de documentar o que estavam – estavam? – vendo.

Só o meu queixo tremido é que ninguém viu nem filmou. Ficou sem registro digital. Minha emoção segue totalmente analógica.

Os fascistas 'do bem' - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 14/08

Em nome de que minorias alguém se levanta e puxa um coro para avacalhar quem quer que seja?


O vídeo circulou na internet. Dois jovens toparam com o pastor Feliciano num avião e resolveram se manifestar. Enquanto o deputado, famoso pelas opiniões homofóbicas, mexia no computador com aparente concentração, eles se levantaram, cantando "Robocop Gay", antigo sucesso dos Mamonas Assassinas.
Estavam achando tanta graça na coisa que nem conseguiam cantar direito. Pediram aos demais passageiros que aderissem ao coro, sem muito sucesso. Ouve-se, no máximo, uma voz feminina fora do alcance da câmera.
Atrás de Feliciano, um homem sentado começou a se incomodar e pediu aos dois rapazes que ficassem quietos. Foi rapidamente hostilizado também: "Você é o guarda-costas dele?".
O deputado, que já disse inconveniências sobre afrodescendentes e defende que psicólogos possam anunciar tratamento para a homossexualidade, mantinha-se impávido. A dupla não sabia bem o que fazer; recuar ou avançar?
Um deles avançou. Estendeu o braço, no que pode ser interpretado como uma tentativa de fazer carinho na cabeça do pastor.
Depois, eles desistem. O vídeo continua com uma entrevista de outra passageira, que cita Freud e critica, de modo razoável, a repressão sexual.
Pelo que diz minha sensibilidade para o assunto, os dois manifestantes não tinham jeito de gays. Talvez, se tivessem, eu não estaria escrevendo este artigo. Não sei.
Tinham, isso sim, as características claras do jovem fascista urbano brasileiro. A voz desarticulada, o espírito do oba-oba cervejeiro, o celular na mão e a ideia pronta na cabeça.
Não preciso dizer que tenho máxima antipatia por Feliciano e seus congêneres. O deputado ganhou a loteria ao se tornar presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. É exemplo do tipo de acordo surrealista que se faz para garantir a base parlamentar de apoio para o governo Dilma --e provavelmente qualquer outro que apareça no futuro.
Representa, com ridículo e insistência, a espécie de dinossauros de gomalina que prosperam na política brasileira. Será um fascista? Depende da definição.
Atrasado não é sinônimo de fascista, ignorante também não. Preconceituoso, conservador, racista, homofóbico --é possível ser tudo isso sem ser fascista.
Na minha definição, pelo menos, para ser fascista é preciso algo além disso. Cito alguns ingredientes.
Em primeiro lugar, a nostalgia da horda primitiva. O fascista está feliz em grupo; só age quando sente que a maioria está a seu favor. Ou melhor, age quando se sente protegido pela aprovação da maioria.
Fosse apenas isso, qualquer multidão seria fascista, o que não é verdade. Nem mesmo o uso da violência pode ser identificado ao fascismo. Revoltas podem ser violentas sem ser fascistas, o que não significa que eu aprove a violência.
Imagine-se, por exemplo, duas torcidas de futebol enlouquecidas. Entram em confronto. Dos dois lados, há selvageria, fanatismo, estupidez. O fascismo, a meu ver, aparece em outra ocasião.
Suponha a torcida de um time que acabou de ganhar o campeonato. Encontra, no meio da festa, uns quatro ou cinco adeptos do time derrotado. Não contente com a vitória, a torcida vencedora resolve hostilizar os perdedores. Hostiliza, xinga, cai de pancada em cima dos coitados --para lhes "dar uma lição".
Isso, para mim, é puro fascismo, e não depende de nenhuma orientação ideológica. Trata-se de oprimir, em grupo, o derrotado, o minoritário, o sem defesa.
Os dois marmanjos do avião escarneceram de Feliciano porque se julgavam, com razão, em maioria naquele ambiente mais ou menos civilizado, onde haverá poucos homofóbicos militantes.
Há 30 ou 40 anos, é possível que fizessem o mesmo se algum transexual estivesse a bordo. Qual o propósito de hostilizar Feliciano? Puni-lo por ser quem ele é? Em nome de que minorias você se levanta da cadeira do avião e puxa um coro para avacalhar quem quer que seja?
Gostei de ver as faixas contra Feliciano nas manifestações de junho. Gostei das manifestações, também.
Mas o fascismo, por vezes, esteve por perto. Não porque --como dizem-- muitos manifestantes "negavam os partidos políticos". Uma tradição pacífica do anarquismo sempre desconfiou dos partidos, e não tem a ver com fascismo.
Foi fascista, entretanto, quem se juntou para quase linchar o PM Wanderlei Paulo Vignoli, na manifestação de 11 de junho. Por sorte, não eram tantos assim. Também por sorte, Vignoli não era nenhum Robocop.

Manifestações e passeatas - ROBERTO DaMATTA

O GLOBO - 14/08


O repórter fuzilou: professor, como explicar essas manifestações?

Não é fácil ser professor e cronista. O papel de cronista leva para uma querida reclusão, para uma ampla liberdade interior. O de professor tem uma face inevitavelmente resignada, coercitiva e pública. O resultado é que o meu pobre eu, que melhor do que ninguém entende a sua imensa ignorância, brigava com o meu senso de responsabilidade pública. Esta, queria colaborar; aquele, conhecedor dos seus limites, só queria dizer o que ninguém disse: que eu não sei, que ninguém sabe ou sabia...

Que falar do mundo é um palpitar de ignorâncias e aproximações. Que o futuro a Deus pertence e que o futuro, como ensinava Santo Agostinho, é o presente prolongado. A Certeza, essa deusa em cujo altar depositamos flores (e grana), é tão difícil quanto a Verdade. A “notícia” é justamente o imprevisto que desmancha planos e, supomos, aponta caminhos. A vida é cheia de surpresas. Projetos perfeitos para melhorar o Brasil produziram efeitos contraditórios. A esquerda, como disse o próprio Lula, não estava velha? E a popularidade de Dilma não subiu? E os fatos envolvendo o PSDB? Afinal é tudo farinha do mesmo saco?

Nossas ações têm consequências imprevistas. O bem pode gerar o mal e até mesmo a má-fé pode engendrar o bem. Aliás, o ditado — há males que vêm para o bem — diz muito quando é lido pelo avesso: há bens que vêm para o mal. Tudo o que fazemos, leitores, deixa rastro por mais calculistas, delicados ou cautelosos que possamos ser.

Então, professor, como explicar o atual momento? Pensei imediatamente na dificuldade que tem o pensamento moderno (que privilegia o individuo) para entender algum movimento coletivo (no qual o ator é uma coletividade). A soma não nos intriga, mas a interligação nos deixa apalermados. Curioso como a tecnologia traz de volta o mundo como um todo. Agora mesmo, Obama discute um modo de disciplinar a espionagem global que, do ponto de vista dos Estados Unidos, faz parte de sua patriótica defesa. Uma tecnologia específica nos obriga a tomar consciência de suas implicações abusivas e relembra a totalidade da qual somos parte.

Lembrei-me do Lévi-Strauss de “Tristes Trópicos” (de 1955), quando, com aquela sua excepcional visão distanciada que transforma tudo o que é atual e presente em algo minúsculo e relativo, afirma que todo avanço tecnológico implica num óbvio ganho, mas igualmente numa perda. Freud adverte em 1930, em “O mal-estar na civilização”, como é um engano pensar que o poder sobre natureza — esse apanágio de nossa “civilização” — seja visto como o centro da felicidade. Falamos com um filho que está em outra cidade pelo telefone, ou lemos a mensagem de um amigo querido que fez uma longa viajem. Curamos igualmente muitas doenças e prolongamos a vida. Mas isso não prova um estado permanente de felicidade. Muito pelo contrário, tais exemplos não seriam a prova de um “prazer barato”? Como numa noite fria pôr a perna de fora do cobertor e depois cobri-la novamente? Porque, acrescenta Freud, se jamais tivéssemos saído da aldeia, nossos filhos e amigos estariam ao nosso lado e toda essa tecnologia seria inútil. Ademais, complementa, “de que nos vale uma vida mais longa, se ela for penosa, pobre em alegrias e tão plena de dores que só poderemos saudar a morte como uma redenção?”

Em seguida a essas observações realistas (e proféticas), mais do que pessimistas como o próprio Freud as classifica, ele chega a um ponto essencial: não temos o direito de considerar que um estado subjetivo, como a nossa felicidade, seja imposto a outras pessoas, épocas e coletividades. Mudar de ponto de vista e relativizar é uma sabedoria e uma cambalhota.

O controle da natureza não justifica o controle sobre outras formas de vida.

Sou visitado por minhas netas, jovens, animadas, lindas como uma praia de janeiro e cada qual abastecida de um celular. Amorosas, elas conversam com o Avô, mas nenhuma deixa de teclar o seu aparelho, que é mais uma prótese a provar a nossa sempre carente humanidade. Contador inveterado de histórias, lembro de um evento ocorrido quando era menino e vi meu pai feliz tirando de sua pasta maços de dinheiro cheiroso — uma bolada! — a qual correspondia a um aumento de salário pago retroativamente. Somos reativos: só agimos depois das tragédias e dos escândalos; mas somos também retroativos porque, dependendo da categoria e da pessoa, o “governo” paga direitos passados. O “legal” é tão generoso como um beijo na boca...

Logo percebi que as netas ouviam pela metade. Claro: cada uma delas estava enredada, falando ao mesmo tempo com outras pessoas as quais eram muito mais (ou tão reais) quanto eu com meu corpo e minhas fábulas infelizmente permanentes.

Entendi que minhas netas não estavam sós. Cada qual era uma multidão. Uma delas, inclusive, manifestou que contava o que eu contava para mais dez amigas — na hora e no ato. Eu pensei estar num encontro de família e estava, sem sair de casa, numa passeata.

Aécio, Serra e o DEM - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 14/08

Os aliados do candidato do PSDB estão saboreando o desempenho de Aécio Neves no Datafolha e a contestação de José Serra. Avaliam que os fatos tem seu lado positivo: baixaram a crista dos tucanos e cacifaram os aliados. Possessos com Serra, os aecistas dizem, com ironia, que todas os dias ele deve cantarolar verso de Caetano Veloso: "É que narciso acha feio o que não é espelho".

No ar o plantão da madrugada
O Senado se rebelou ontem contra os assessores que dirigem a TV Senado. Estes decidiram reprisar as sessões da Casa depois da meia-noite, exibindo no horário nobre programas estrelados por seus jornalistas. Roberto Requião perguntou: "De quem é a TV? É dos jornalistas que nela trabalham?" Pedro Taques sentenciou: "Não cabe a eles decidir o que será transmitido". Randolfe Rodrigues definiu: "Impensada decisão". Álvaro Dias protestou: "Não é de madrugada que a população poderá nos fiscalizar". Paulo Paim resumiu: "Jogar para depois da meia-noite? Aí, não dá!" Eles querem que a Mesa coloque ordem na TV institucional do Senado e dos senadores.



"Uma CPI dos Cartéis tem que investigar tudo. Não pode ser uma CPI do Cachoeira, que esqueceu a Delta e fez do governador Marconi Perillo seu foco"
Carlos Sampaio
Líder do PSDB na Câmara (SP)

Vai dar samba
O cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor se filiou ontem ao PR. Ele esteve em Brasília só para acertar a filiação. O partido não decidiu ainda se ele vai concorrer ao Senado ou a deputado federal. A definição só será adotada após o ingresso de Romário no partido. Neguinho e o ex-atleta vão se sentar e avaliar qual deles tem mais chances eleitorais.

Destituído
O PSB tirou Romário da presidência da Comissão de Desporto da Câmara. Ele saiu do partido na semana passada e queria manter o cargo. Ontem, os socialistas pediram ao presidente Henrique Alves (PMDB) que comunicasse a Romário.

Ao sabor das ondas
A cúpula do DEM não pretende enquadrar a governadora Rosalba Ciarlini (RN). A posição dela é a seguinte: se a presidente Dilma estiver bem, ela anuncia seu apoio; se estiver mal, ela segue o partido no apoio ao tucano Aécio Neves.

Aposta no crescimento
O governo vai lançar nos próximos dias um programa para fortalecer a indústria de autopeças instalada no país. O objetivo, diz o ministro Fernando Pimental (Desenvolvimento), é atender a demanda das montadoras que produzem veículos no país. O programa "Inovar Autopeças" contará com uma oferta de crédito entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão para o setor.

Abacaxi
Integrantes do governo comemoram a decisão de se adiar a licitação do trem-bala. Argumentam que, diante das suspeitas que pesam sobre a atuação da Siemens e da Alstom, o melhor a fazer era jogar para a frente e esperar os esclarecimentos.

Brasil vence pela primeira vez
O jornalista Marcos Martinelli ganhou o Oscar do Marketing Político, em Miami, o "Reed Awards Latino". A campanha premiada é a do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), em 2012, cujo slogan era "Melhorou, vai melhorar".

Os DEPUTADOS do PR reclamaram ontem para a ministra Ideli Salvatti de eles não têm acesso ao ministro do partido, César Borges (Transportes).

Mãos à obra - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 14/08

Depois de despejar recursos federais sobre a capital paulista, Dilma Rousseff desembarca em São Bernardo do Campo na próxima segunda-feira para anunciar investimentos bilionários em habitação e mobilidade nas grandes cidades da região do ABC. Pesquisa Datafolha do fim de semana revelou que a recuperação da popularidade da presidente é mais lenta justamente nos municípios mais populosos do país. Só em São Bernardo, são esperados repasses de R$ 1,5 bilhão.

Bem na foto A Presidência também convidou cerca de 100 prefeitos de pequenas cidades para o evento. Cada um deles receberá a chave de uma retroescavadeira comprada pelo governo federal.

RSVP Dilma vai à posse do novo presidente do Paraguai, Horácio Cartes, com seus assessores tendo construído uma saída para a volta do país vizinho ao Mercosul.

Novo membro A ideia é que o Paraguai retorne em dezembro, quando termina a presidência provisória da Venezuela no bloco. O Paraguai sempre se opôs à entrada dos venezuelanos no Mercosul.

Climão Foi pesado o encontro de Dilma com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ontem. Segundo relatos, ele justificou o uso da rede de espionagem do país, mas a impressão de assessores do Planalto foi de que ele não se esforçou o suficiente.

O Alquimista 1 Ao falar dos desafios da relação com o Brasil, abalada pelas revelações de monitoramento pela NSA, em almoço fechado com 40 convidados do chanceler Antonio Patriota, Kerry citou "o grande romancista brasileiro Paulo Coelho".

O Alquimista 2 "Quando menos esperamos, a vida nos apresenta um desafio para testar nossa coragem e vontade de mudar. O desafio não espera. A vida não olha para trás", disse, em inglês, citando um trecho de "O Demônio e a Srta. Prym".

Valeu Apesar da negociação fracassada com o governo no orçamento impositivo, deputados elogiaram a tentativa de Miriam Belchior (Planejamento) de trabalhar por um acordo ao longo do dia.

Na galera Em evento do PT ontem, Gilberto Carvalho ficou na plateia enquanto outros ministros estavam no palco, e aproveitou para tirar fotos com militantes. Depois, ele foi acomodado ao lado do comando petista.

Divã Em reunião no Palácio do Jaburu com Michel Temer, anteontem, parlamentares como Jader Barbalho (PA) se queixaram da relação com PT em seus Estados. O vice vai procurar Rui Falcão para retomar reuniões sobre cenários eleitorais de 2014.

Barreira Cartórios de São Paulo têm rejeitado 32% das assinaturas protocoladas para a criação da Rede, segundo o núcleo jurídico do partido. A taxa de rejeição fica acima da média de Estados como o Rio, onde 15% das assinaturas são invalidadas.

Road trip O PSDB fechou roteiro com 10 cidades paulistas que Aécio Neves (MG) visitará até o fim do ano, para se tornar conhecido no Estado. O giro começa em São José do Rio Preto, no dia 23, e prevê viagens a Campinas, Bauru, Santos e outras cidades.

Combustível Nas inserções de TV que o PSB paulista exibe a partir de hoje, Eduardo Campos cita os protestos de rua como uma oportunidade para debater o Brasil.

Vacina O governo Geraldo Alckmin (PSDB) quer divulgar em propagandas na TV cifras que revelem quanto conseguiu economizar em licitações de trem e metrô. A ideia é mostrar que as gestões tucanas lutaram contra a formação de cartéis no setor.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Enquanto Dilma critica a antecipação das campanhas de 2014, Lula lança Padilha em São Paulo. É a lógica oportunista do PT."
DO DEPUTADO ESTADUAL CAUÊ MACRIS (PSDB-SP), sobre a declaração de Dilma Rousseff de que não tem motivos para antecipar a disputa eleitoral.

contraponto


À moda da casa
Ao entrar na sala em que se reuniria com líderes dos partidos aliados na Câmara dos Deputados, anteontem, para discutir a delicada pauta de projetos que serão votados nos próximos meses, Dilma Rousseff percebeu que o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), usava uma boina na cabeça.

--Você está bolchevique! -- disse a presidente.

Cunha, que usava o adereço por conta de um transplante capilar que havia realizado na semana anterior, respondeu para Dilma:

--É para esconder a cabeleira...

Grande irmão - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 14/08
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse ontem que os Estados Unidos não vão parar com o monitoramento a cidadãos no país e no exterior. Argumentou que o esquema de espionagem faz parte do sistema de segurança nacional americano, para garantir proteção não só para quem está nos Estados Unidos, mas também em outros países. "Achamos que nosso serviço de inteligência protege nossa nação, assim como outros povos. Continuaremos a fazê-lo", disse.

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Kerry descartou a suspensão do monitoramento, depois do encontro com o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, ontem, no Itamaraty. O chanceler brasileiro fez uma cobrança explícita de mais informações dos Estados Unidos sobre a espionagem de cidadãos, empresas e instituições brasileiras, nos meios de comunicação, que foi revelada por Edward Snowden, ex-funcionário de uma empresa terceirizada que prestava serviços à Agência de Segurança Nacional (NSA).

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Parece um diálogo de surdos, mas não é. O presidente Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff têm um encontro marcado em outubro, com agenda que envolve grandes interesses econômicos e de cooperação na área de ciência e tecnologia.

Aduanas// Fiscais aduaneiros do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai farão uma paralisação, hoje, por duas horas, em protesto simultâneo contra o enfraquecimento da fiscalização nas fronteiras. Também se manifestam contra o Porto 24 horas.

De gala
O chanceler Antônio Patriota fez juz ao nome ao criticar a espionagem norte-americana, mas não pôs em risco a visita de Estado de Dilma à Casa Branca. Será uma homenagem concedida a poucos chefes de estado, com tapete vermelho e jantar de gala. O último brasileiro recebido dessa forma foi o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995.


Raspa de tacho
O governador Jaques Wagner (foto) fez um corte drástico nas despesas de custeio e demitiu o secretário de Fazenda, Luiz Petitinga. Para oxigenar o governo e promover um aperto fiscal , nomeou um técnico sem partido para a pasta: Manoel Vitório, deslocado da secretaria de Administração.

Escândalo
A Comissão de Transportes e Comunicações, da Assembléia Legislativa de São Paulo, que virou um campo de batalha entre tucanos e petistas, convidou para depor sobre o escândalo do metrô paulista o presidente da Siemens no Brasil, Paulo Stark; o secretário estadual de Transportes, Jurandir Fernandes;e o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinicius Marques de Carvalho.

Pedágios
A bancada capixaba rebelou-se contra a licitação da BR-262 (trecho de 130 km no Espírito Santo), por causa da cobrança de pedágio no valor de R$ 36, 00. "Vamos até as últimas consequências para rever esse modelo equivocado", anunciou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que esteve ontem com o ministro dos Transportes, César Borges, para pedir a mudança no edital. O estado vive uma crise por causa da cobrança de pedágio na Terceira Ponte.

Azebudsman
Em relação à nota intitulada "cabeçadas", publicada na coluna Brasília-DF de domingo, a Receita Federal garante que cumpre os requisitos legais para parcelamento de dívidas das prefeituras com o INSS: "Quando um ente federativo faz a opção pelo parcelamento, ele autoriza de forma expressa a retenção das parcelas e dos débitos previdenciários, no Fundo de Participação dos Estados e Municípios, para os períodos posteriores ao pedido de parcelamento. Para os débitos previdenciários desses períodos posteriores, primeiramente, deve ser procedida a retenção desses valores no respectivo Fundo. Somente após esta retenção, o ente poderá solicitar novo parcelamento do saldo de débitos", explica.


Verdade
A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro ouvirá hoje, no plenário de Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, quatro militares acusados pelo sequestro e a morte, sob tortura, de Mário Alves, dirigente do PCBR assassinado em janeiro de 1970, no DOI-Codi do Rio. São os ex-tenentes do Exército Luiz Mário Correia Lima, Roberto Duque Estrada e Dulene Garcez, além do ex-major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá. Os depoimentos serão coordenados pelo presidente da CEV-RJ, Wadih Damous (foto).

Mérito/ O ex-presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) Henrique Maués será homenageado com a entrega da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho em 2013, hoje, na sede do Tribunal Superior do Trabalho.

Jovens/ A Organização Ibero-Americana da Juventude (OIJ) e a Microsoft lançaram uma convocação para identificar e capacitar instituições sem fins lucrativos focadas no público jovem, em 19 países da América Latina. A parceria visa ajudar organizações sociais a arrecadar fundos para seus projetos, gerar empregos e promover o empreendedorismo. O programa YouthSpark pretende atingir, em três anos, 300 milhões de jovens em todo mundo.

Economia/ O PMDB realiza hoje, em Brasília, um seminário sobre a Política Macroeconômica do Governo, das 14h às 17h. O Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Hollanda, participa do evento.

Arrocho
Os cortes de custeio no governo da Bahia, em algumas secretarias, chegam a 90%

Aliança pela gasolina mais cara - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 14/08

Mágicas e milagres do governo criaram problemas que levam a pedidos de reajuste do combustível

FORMOU-SE uma aliança esdrúxula pelo aumento do preço da gasolina (e talvez de outros combustíveis).
Trata-se da coalizão incongruente de Petrobras, de seus acionistas, de economistas "do mercado", de produtores de cana e etanol, de empresas fornecedoras de equipamentos e serviços para o negócio do álcool, de sindicatos de trabalhadores desse complexo econômico e, ufa, do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, entre outros prefeitos.
O governo federal ora se opõe ao aumento.
A Petrobras e seus acionistas querem o reajuste porque a petroleira vende gasolina e diesel a um preço inferior ao do mercado internacional, onde de resto compra parte do combustível que vende, tendo baita prejuízo. Com menos receita, a Petrobras tem menos dinheiro para investir (tem menos caixa e se torna menos atraente para investidores).
O pessoal do complexo da cana e do álcool quer gasolina mais cara a fim de vender mais etanol e a preço maior. Sem preço melhor, não expandem a produção do biocombustível, o que é um problema econômico, ambiental e tecnológico para o país.
Haddad quer que o governo volte a cobrar um tributo (a Cide) sobre a gasolina (deve querer dizer: sobre combustíveis). A receita do imposto ficaria com os municípios (pela lei atual, fica com o governo federal, na maior parte, e com os Estados). Com o dinheiro extra, reduziria o preço do ônibus, o que faz sentido social e ambiental.
Todo mundo nessa aliança impremeditada tem bons motivos e argumentos. O governo federal a princípio parece ter suas razões: não quer o reajuste porque teme inflação extra. Mas foi o governo federal que, no fim das contas, criou o problema que deu origem à série de reivindicações pelo reajuste.
O governo (este e o de Lula) na prática tabelou o preço da gasolina por anos, a fim de controlar artificialmente a inflação, derivada em boa parte de má gestão econômica. De resto, estimulou a venda e uso de carros.
Dilma Rousseff pediu aos governos de São Paulo e Rio que adiassem o reajuste das tarifas de transporte, a fim de maquiar a inflação do início do ano. Em junho, vieram os reajustes retardados e os decorrentes protestos, os quais levaram à revogação dos aumentos e criaram problemas para o caixa e para a política dos governos de SP e Rio.
Em suma, tentativas de mágicas e milagres do governo Dilma resultaram em montes de desequilíbrios.
A frente improvável pelo aumento da gasolina, porém, tem objetivos diversos e, dado o momento político e econômico, conflitantes.
Haddad e prefeitos querem que o governo volte a cobrar a Cide (tributo temporariamente zerado a fim de enfeitar o resultado da inflação). Argumentam que o aumento do imposto e a queda do preço da passagem se anulam, tendo efeito zero na inflação. A ver. Ainda assim, a volta da Cide não resolve o proble- ma da Petrobras e do pessoal do etanol, que não levariam um tostão, ao contrário.
Voltar a cobrar a Cide e reajustar o preço dos combustíveis, porém, daria um calor na inflação. No curto prazo, parece politicamente inviável, dada a situação periclitante, em termos eleitorais e econômicos, do governo Dilma Rousseff, que agora enfrenta as consequências de ser aprendiz de feiticeiro da economia.

A gasolina sob pressão - CELSO MING

O ESTADÃO - 14/08

É dos amigos, e não da oposição, que o governo Dilma recebe o maior tiroteio contra a atual política de subsídios aos combustíveis, principalmente à gasolina.
Segunda-feira, foi o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, que advertiu o governo de que o atual nível de preços ao consumidor é insustentável. Se não houver correção, argumentou, deteriora-se tanto a capacidade de investimento quanto a capacidade de endividamento da Petrobrás, a ponto de comprometer irremediavelmente seu plano de negócios.
Pelos padrões internacionais, hoje o consumidor paga entre 20% e 24% menos do que deveria, tanto pela gasolina quanto pelo diesel. E esses números tendem a subir em consequência do avanço das cotações do dólar no câmbio interno, que veio para ficar (veja o Confira).
Nesta terça-feira, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, voltou à carga nas suas críticas de que os subsídios à gasolina praticados pelo governo Dilma concorrem para emperrar o trânsito nas grandes cidades e para tirar eficiência no transporte coletivo. Ele defende o aumento dos preços da gasolina (mas não do diesel) com uma taxação por meio da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), com duplo objetivo: o de desestimular o uso do automóvel nas grandes cidades e o de pagar parte da tarifa do transporte urbano.
Tanto para a Petrobrás como para o prefeito Fernando Haddad, o governo vem negando esses reajustes, sob o argumento de que seriam inflacionários. O estudo do professor Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado nesta terça-feira, mostra que a cobrança de um tributo adicional de R$ 0,50 sobre o preço ao consumidor do litro de gasolina reduziria em R$ 1,20 a tarifa da condução, fator que concorreria para diminuir a inflação, e não para aumentá-la.
O problema é que a aceitação da proposta do prefeito Fernando Haddad não resolveria o problema da Petrobrás. Para eliminar ambas as distorções, só os preços da gasolina teriam de ser aumentados em cerca de 40%.
A questão principal é a inversão de prioridades do governo Dilma que até agora ignorou o transporte coletivo e tudo fez para estimular o transporte individual.
Os subsídios à gasolina e o achatamento subsequente dos preços do etanol foram apenas um dos fatores que concorreram para a distorção. O automóvel foi até agora o grande xodó do governo Dilma, o que se explica não só pelo lobby das montadoras, mas, também, pela força dos sindicatos.
Durante meses a fio, o automóvel foi beneficiado pela redução de impostos, sob o pretexto de que seria preciso garantir o aumento de produção e o emprego do setor. Com encorajamento do governo, somente nos últimos dois anos e meio, nada menos que R$ 52 bilhões do sistema foram direcionados para o financiamento de veículos apenas para pessoas físicas.
As manifestações de junho parecem ter abalado essas políticas. Até agora, a tendência foi de deixar a solução para depois das eleições. Se for isso, as distorções aumentarão, ficará ainda mais caro corrigi-las e é preciso verificar, ainda, se a Petrobrás aguenta.

Ajuste fiscal e investimento público - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 14/08

A insuficiência do investimento público resulta da incapacidade gerencial do governo


Voltando ao tema da infraestrutura abordado na semana passada, acho oportuno esclarecer alguns mitos que insistem em sobreviver, apesar da abundância de dados em contrário.
Indo direto ao ponto, há quem pareça acreditar na oposição entre o ajuste fiscal e os investimentos em infraestrutura, em particular aqueles executados pelo governo. Afinal de contas, não foi a necessidade de cumprir a meta fiscal (nas priscas eras em que a meta significava alguma coisa) que levou ao fraco desempenho do investimento público?
Por paradoxal que possa soar, a resposta é negativa. A insuficiência do investimento público resulta essencialmente da incapacidade gerencial do governo, e não da necessidade de atingir a meta fiscal (que, na prática, deixou de existir a partir de 2008). Isso fica claro a partir dos números calculados pela própria Secretaria do Tesouro Nacional.
Em 2003, por exemplo, o governo federal registrou um superavit primário da ordem de 2,3% do PIB, contabilizando gastos (exceto transferências a estados e municípios) de 14,8% do PIB, dos quais investimentos equivaliam a 0,4% do PIB.
Nove anos e meio depois, nos 12 meses terminados em junho de 2013, o superavit federal se reduziu para 1,6% do PIB, com despesas equivalentes a 18,3% do PIB, entre as quais o investimento representou meros 1,3% do PIB.
Deve ficar claro que não houve, portanto, nenhuma tentativa (bem-sucedida, ao menos) de contenção do gasto. Pelo contrário, o dispêndio federal aumentou em 3,5% do PIB de forma quase contínua ao longo desses anos. Nada impediria, portanto, que esses recursos fossem destinados majoritariamente ao aumento do investimento, mas, concretamente, não foi o que se observou.
Mesmo se desconsiderarmos a mudança na contabilização do investimento no período (os subsídios com o Minha Casa, Minha Vida foram incorporados nessa rubrica a partir de 2012), a elevação do gasto de capital de 2003 para cá mal alcançou 1% do PIB. Em contraste, o gasto corrente federal aumentou em 2,5% do PIB.
Tais números não casam com a suposta prioridade que se daria ao investimento no Orçamento federal; muito menos com a noção de que restrições fiscais teriam forçado o governo a "cortar na carne". Mostram, em vez disso, despesas crescentes e a verdadeira preferência do governo: de cada R$ 100 a mais de gasto federal, apenas R$ 27 foram direcionados à ampliação da capacidade produtiva do país.
Descartados, portanto, problemas de natureza fiscal, sobra apenas a incapacidade gerencial do governo para explicar o desempenho do investimento público muito aquém do necessário.
Se, para aumentar o gasto corrente, basta uma canetada, o processo de investimento requer habilidades administrativas mais sofisticadas, assim como um ambiente que reduza ao máximo possível eventuais obstáculos de ordem regulatória.
Nenhuma dessas condições está presente no Brasil hoje. Em particular, o cipoal de regras (licitatórias, ambientais, concorrenciais etc.) que circunda o processo de investimento assegura dificuldades consideráveis, além daquelas que qualquer projeto normalmente sofreria.
Esse ambiente regulatório não é independente da incapacidade gerencial do setor público, mas parte integrante de uma visão de mundo que atribui peso excessivo ao governo e, apesar do discurso supostamente mais arejado nos últimos anos, ainda não parece convencida das vantagens de passar as responsabilidades para o setor privado.
Apenas isso pode explicar a extensão dessas dificuldades para os processos de concessão na forma de controles de toda sorte, inclusive a obsessão com os limites ao retorno nos projetos de infraestrutura.
A verdade é que o governo não faz o necessário e parece se esforçar para criar um conjunto de regras que tornarão difícil que o setor privado resolva o problema. E há que ache que "o pessimismo é exagerado"...

O novo pacto do Banco Central - CRISTIANO ROMERO

Valor Econômico - 14/08

Em meados de 2011, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, voltou estarrecido de uma reunião na Basileia, Suíça, com comandantes de outros bancos centrais. A mensagem era clara: as economias avançadas, depois de ligeira recuperação em 2010, estavam desaquecendo e reavivando riscos de disrupção como os que assombraram o mundo na crise de 2007/2008.

Tombini concluiu que o efeito daquele fenômeno sobre o mundo seria desinflacionário. Em 2011, o Brasil estava em meio a um processo de aceleração da inflação - nos 12 meses até julho, o IPCA atingira 6,87% e, em setembro, chegaria a 7,31%. Em reação a isso, o BC adotara medidas macroprudenciais para moderar a concessão de crédito e iniciara ciclo de aperto monetário.

Convicto de que a desaceleração mundial teria efeito negativo sobre os preços das commodities e a atividade econômica no Brasil, Tombini foi à presidente Dilma Rousseff. Na conversa, disse que o momento era difícil, mas criava uma oportunidade histórica para se reduzir a taxa de juros (Selic).

O presidente do BC sabia que sua tese se sustentava desde que não se cometesse o erro de 2009, quando, em meio à redução do juro e sabendo que a atividade já havia se recuperado do baque ocorrido durante a crise, o governo deu novos impulsos fiscais à economia, obrigando o Comitê de Política Monetária (Copom) a interromper o ciclo de alívio monetário. Por isso, no contato com Dilma, Tombini deixou claro que seria necessário cumprir a meta cheia de superávit primário das contas públicas em 2011 e 2012 (3,1% do PIB). Seria de bom grado, também, anunciar um reforço desse compromisso.

Assim foi feito: na véspera da reunião do Copom, no fim de agosto de 2011, o governo se comprometeu a aumentar em R$ 10 bilhões o esforço fiscal. A ideia era fortalecer a reputação da equipe econômica num momento crucial - o mercado, surpreso com a decisão do Copom, reagiu mal, como mostra a acentuada deterioração das expectativas ocorrida nas semanas seguintes.

Durante um ano, o BC cortou a Selic. Já perto do fim de 2011, entusiasmado com a medida, que desde a campanha eleitoral era uma bandeira política da presidente Dilma, o governo se sentiu à vontade para mudar outro aspecto "incômodo" da política econômica herdada dos governos FHC e Lula: o regime de câmbio flutuante.

O Ministério da Fazenda impôs, então, taxação sobre a entrada de capitais, com a alegação de que era preciso desestimular a entrada de capitais "especulativos", e forçou o BC a mudar o patamar da taxa de câmbio e a permitir uma desvalorização. Na prática, o câmbio voltou a ser administrado.

Num primeiro momento, o BC concordou com a ideia de que era preciso fazer algo, especialmente porque os bancos centrais da Europa e de outros países ricos, seguindo o rastro dos Estados Unidos, estavam expandindo a liquidez de forma inédita e provocando desequilíbrios nos mercados. Tombini se preocupava com o "tailwind" (vento de cauda), isto é, com os efeitos negativos que o excesso de liquidez poderia provocar - alta exagerada dos preços de commodities, formação de bolhas de crédito, etc.

O governo trabalhava com a ideia de que, com uma nova matriz macroeconômica, caracterizada por juro baixo e câmbio desvalorizado, os empresários retomariam os investimentos e a economia aceleraria o crescimento. Porém, à medida que, a cada trimestre, o IBGE informava que, em vez de avançar, a atividade estava recuando, o governo começou a entrar em modo pânico.

Em vez de repensar a estratégia, o Palácio do Planalto decidiu redobrar a aposta. Economistas próximos a Dilma passaram a clamar por juros ainda menores e câmbio mais depreciado. Seu diagnóstico: o que foi feito até então tinha sido insuficiente. Para reanimar a economia inerte, abandonou-se o compromisso de austeridade fiscal firmado com Tombini. Era preciso acelerar o PIB a qualquer custo, principalmente, por meio de desonerações tributárias seletivas. O propósito era estimular o consumo de produtos industriais.

A realidade se impôs: o PIB não acelerou, as contas públicas se deterioraram e a inflação manteve-se pressionada, mesmo após a superação dos choques de oferta ocorridos na segunda metade do ano passado. O pior: o setor empresarial perdeu a confiança na equipe econômica.

Sem respaldo da política fiscal e percebendo que seus colegas de governo planejavam usar o câmbio como válvula de escape, Tombini tomou duas decisões: a primeira foi mostrar ao governo que o câmbio depreciado estava elevando o IPCA no fim de 2012; a segunda foi avisar que, por causa da inflação, os tempos de juro real abaixo de 2% haviam terminado - mais precocemente do que ocorrera no ciclo de corte de juro de 2009.

A inflação está na casa dos 6% não é de agora, mas desde 2008 (apenas em 2009, por causa da recessão, caiu abaixo da meta). Já naquele ano, o BC, pressionado politicamente, teve dificuldade para combater a carestia. Dos 67 meses desde janeiro daquele ano, em 37 o IPCA esteve mais próximo de 5,5% do que de 4,5%. No período, a variação acumulada, para quem acha 6% um índice módico, foi de 36,07%. Em 2013, não caiu, em 12 meses, uma só vez abaixo de 6%.

Tudo isso, além da mudança no cenário mundial provocada pelos EUA, justifica o ímpeto recente do BC. É verdade que não há risco de descontrole inflacionário, mas o Copom entende que precisa agir agora para suavizar os efeitos da perda de valor do real em relação ao dólar. O BC não vai olhar para trás, o que significa que a queda do IPCA em julho não é um elemento a ser levado em conta pelo Comitê daqui em diante.

Outra mensagem relevante do BC: o real já andou bastante. A autoridade não quer deixar a moeda nacional se depreciar muito além do ponto em que já está (R$ 2,30). A prioridade desde abril é recuperar a confiança dos agentes econômicos por meio da redução do IPCA. O mercado tem dificuldade para aceitar isso, mas o BC não sinalizou nada diferente até agora.

A diretoria do Banco Central, por sua vez, sabe que a maioria dos participantes do mercado desconfia de seus propósitos e que, por essa razão, terá que comprar reputação com ações concretas. Sabe também que a desconfiança dos agentes em relação ao restante do governo torna mais árdua a sua tarefa.

No meio do redemoinho - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 14/08

Tempestade perfeita é uma expressão meteorológica que a economia tomou emprestada para definir uma coincidência de eventos que formam uma crise. O Brasil está assim na área de combustíveis. O consumo foi incentivado pelo subsídio ao automóvel e à gasolina, a importação cresceu, gerou um déficit, o dólar subiu, a Petrobras pede aumento, mas a inflação está alta.

Tudo o que podia ser feito de errado foi feito, e tudo o que podia dar errado deu. E os problemas se juntaram em um nó cego. O governo incentivou a compra de carros com reduções de IPI, para aumentar o crescimento econômico. Não conseguiu o que queria, mas multiplicou os carros nas ruas, entupindo o trânsito e tornando a mobilidade urbana desesperadora.

Como a inflação tem estado alta, o governo postergou o aumento da gasolina. O consumo aumentou e a Petrobras teve que importar mais. O custo não foi repassado aos preços e isso incentivou mais o consumo. O subsídio à gasolina tirou consumidores do etanol e aumentou o custo da Petrobras.

O governo tentou aliviar o peso da estatal eliminando devagar o imposto sobre a gasolina, a Cide. Ela foi criada para ser um amortecedor da volatilidade do preço do petróleo ou do dólar. Funcionava assim: quando o custo subia bruscamente, a Petrobras passava a receber mais, e o Tesouro recebia uma parcela menor do imposto pago pelos consumidores. Assim, a Petrobras ganhava, na prática, um aumento, mas o consumidor não tinha que pagar mais. Foi pensado para ser um colchão, mas virou uma forma de adiar o reajuste. A Cide foi sendo reduzida desde 2008 até ser eliminada da gasolina. Quando a mágica acabou, o governo autorizou um aumento do combustível.

O fim da Cide tirou uma fonte de financiamento de obras da infraestrutura de transportes. Uma conta publicada aqui tempos atrás, feita por Adriano Pires, indica que o governo perdeu R$ 22 bilhões de 2008 até a eliminação do imposto. Agora, os prefeitos pedem a volta da Cide para ajudar a financiar o sistema de transporte público.

A tempestade continuou. O aumento da importação da gasolina foi tão alto que o governo autorizou a Petrobras a deixar para 2013 o registro de parte da importação, mas a importação continuou aumentando e chegou a 250 mil barris/dia no primeiro trimestre. Foi assim que se chegou a um déficit de US$ 15 bilhões na conta de importação e exportação de petróleo e derivados este ano.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Fed anunciou que pode encerrar o período de expansionismo monetário. O aviso prévio elevou a cotação do dólar no mundo inteiro. Com a alta da moeda americana, o custo de importação de combustíveis subiu e, por isso, a Petrobras está agora pedindo novo aumento. Alega que teve que aumentar seu endividamento para cobrir investimentos e corre o risco de ultrapassar o limite da relação entre dívida líquida e geração de caixa. O governo não quer corrigir os combustíveis, mas não pode descapitalizar a Petrobras até porque ela terá, no modelo de partilha do pré-sal, que ser a operadora de todos os campos e tem outros pesados investimentos sendo feitos.

Em resumo, o governo conseguiu até agora subsidiar o uso de um combustível fóssil importado, desorganizar a produção local da alternativa menos poluente, aumentar a dependência do petróleo externo depois de proclamar a autossuficiência, abrir mão de um imposto que financiaria obras de infraestrutura de transportes, causar perdas à Petrobras, abrir um rombo na balança comercial, alimentar a desconfiança das empresas sobre o intervencionismo do governo na economia, piorar o trânsito nas cidades e deixar todo mundo insatisfeito.

Mudanças - ANTONIO DELFIM NETO

FOLHA DE SP - 14/08

Na última semana, alguma coisa se moveu. No campo político, assistimos à redução de dois estresses institucionais que devem trabalhar na direção de diminuir a angústia depressiva que se apropriou da sociedade.
Primeiro, a presidente tomou a iniciativa do diálogo e diminuiu a tensão entre o Executivo e o Legislativo, que ameaçava tornar-se um cabo de guerra na apreciação de cada projeto e de seus vetos. Segundo, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que po- de eventualmente condenar membros do Legislativo, mas que a cassação do mandato obtido na urna deve ser feita pelo Congresso.
Dois movimentos no sentido do mútuo respeito à independência harmônica dos Poderes da República e, portanto, no sentido da consolidação institucional.
No campo econômico externo algumas notícias como a aceleração das exportações chinesas e coreanas, e o aumento dos indicadores de compras industriais nos EUA e Europa, parecem dar alento a uma recuperação ainda que lenta da produção. No interno, tem havido uma mudança no comportamento do governo em relação à cooptação do setor privado para competir nas obras de infraestrutura cuja eficácia será testada nos próximos leilões de concessões de rodovias, ferrovias, portos e energia.
Talvez nada indique melhor a confusão que está levando os agentes econômicos a cultivarem um desânimo devastador do que a sua reação à situação externa mencionada acima. Em resposta ao que pode ser um movimento pontual aleatório das exportações chinesas, a Bovespa subiu 3,12%. Até a ação da OGX-ON subiu 9,25% (infelizmente para R$ 0,50!).
Isso revela que boa parte do pessimismo é, seguramente, exagerado. É claro que nossa situação não é confortável: crescimento medíocre por falta de investimento público e dificuldade de cooptar o do setor privado; taxa de inflação no teto superior da "meta" e um déficit em conta corrente de mais de 75 bilhões de dólares. Mas deve ser claro, também, que não há qualquer ameaça à estabilidade de nossa economia.
Recentes mudanças na política econômica: 1º) a melhoria da interlocução do governo e o reconhecimento de que ele deve melhorar a qualidade dos leilões nas concessões; 2º) o reconhecimento de que não há mais espaço para a política fiscal e que empréstimo interno do Tesouro não é recurso, a não ser quando financiado com superavit fiscal; 3º) a nova disposição do Banco Central de buscar a "meta" da inflação num prazo adequado, mas não indefinidamente prorrogável e 4º) Tudo isso e mais a flutuação da taxa de câmbio, que deverá aliviar a indústria, sugerem que estamos nos preparando para melhorar.

O discurso de cada um - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 14/08
Sem praticamente abrir a boca, a ex-senadora Marina Silva sobe sem parar nas pesquisas de opinião. Abrindo mais a boca do que o costume, e viajando sem parar, a presidente Dilma recupera alguns pontos de sua popularidade, investindo mais do que nunca em propaganda oficial.

Abrindo pouco a boca em público, mas trabalhando muito nos bastidores, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mantém atitude dúbia em relação à sua candidatura a presidente em 2014, aguardando que os cenários fiquem menos nebulosos.

O senador Aécio Neves trabalha em silêncio, aprofundando suas características mineiras, fazendo acordos de bastidores que hoje parecem improváveis, mas que mais adiante poderão ser viabilizados pelas trapaças da política.

Falando muito, e negociando bastante, o ex-governador José Serra tenta manter-se na disputa, avaliando que as mutações do cenário eleitoral podem levar um dia, quem sabe, a que a maioria do eleitorado se decida por escolher "quem sabe fazer acontecer". Neste momento, ele se considera o homem certo e pretende estar no lugar certo. Precisa decidir primeiro se esse lugar é o PSDB ou se pode ser outra sigla que o acolha e ao seu projeto de disputar pela terceira vez a Presidência. Por enquanto, o eleitorado que não quer que Dilma se reeleja continua majoritário, e procura um nome novo para substituí-la.

O fato de Marina continuar subindo como consequência da onda dos protestos mostra que há parcela silenciosa do eleitorado que vê nela a alternativa de uma maneira diferente de fazer política. Mesmo que as grandes manifestações espontâneas tenham refluído, o sentimento de insatisfação continua latente.

Depois da ressaca de junho, as ruas foram ocupadas por grupos políticos organizados, manipulados por partidos tomados de susto com a espontaneidade das multidões, que mostraram sua indignação sem lideranças e rejeitando bandeiras partidárias. As reivindicações de saúde e educação "padrão FIFA", numa fina ironia, ou de combate à corrupção continuam valendo, e são elas que levarão à escolha do futuro presidente.

Não adianta grupos ligados ao PT, como o Fora do Eixo e seus derivados, e o Movimento Passe Livre, tentarem dominar as ruas partidarizando os protestos, porque não dominarão as mentes da classe média, que saiu das ruas devido à violência dos Black Blocs e de outros grupos de ativistas violentos, mas continua querendo mudanças.

Marina pode ter dificuldades para ser o escoadouro dessa insatisfação se não colocar de pé sua Rede de Sustentabilidade. Qualquer partido político gostaria de tê-la como candidata, mas aí terá que fazer acordos com os tais políticos tradicionais, o que retirará, pelo menos em parte, sua legitimidade.

O PSDB espera se transformar em abrigo natural desse eleitorado descontente e sem partido, por sua estrutura partidária mais forte e pelos acordos que estão sendo costurados por baixo do pano. Aécio faz política à moda antiga para ter condições logísticas de levar sua mensagem de renovação na política mais longe.

Seu mote de choque de gestão tornou-se subitamente uma resposta adequada aos anseios das ruas. Caberá a ele provar durante a campanha, com as experiências em Minas e outros estados governados pelos tucanos, que a boa gestão é condição prévia para serviços de boa qualidade.

Subitamente a multidão nas ruas passou a exigir qualificação dos serviços públicos oferecidos pelos governos, e a boa gestão pública passou a ser um ativo valorizado pelos eleitores. Resta saber se o PSDB conseguirá representar esse papel, que é também o que pretende desempenhar na campanha presidencial Eduardo Campos, se é que será mesmo candidato.

As denúncias de corrupção nas obras do metrô de São Paulo sem dúvida dificultarão essa tarefa. Dilma terá que descontar muitos prejuízos para se colocar novamente como boa gestora depois de quatro anos sem crescimento econômico e derrapadas de diversos calibres na gestão da coisa pública, sendo o trem-bala a mais exemplar, embora menos prejudicial, pois cada atraso da concorrência evita gastos desnecessários.

O problema de Marina será quando ela tiver que abrir a boca para dar suas receitas de boa gestão pública. Pode ser que aí comece a perder eleitores.

Triste paisagem - TEREZA CRUVINEL

CORREIO BRAZILIENSE - 14/08
Os políticos estavam em franca movimentação de tropas para a disputa eleitoral de 2014 quando o povo entrou em cena. As manifestações produziram, entre tantos outros efeitos, a suspensão daqueles ensaios. Agora, as massas refluiram e ficaram nas ruas apenas os grupos radicais e os vândalos. E, com isso, os partidos voltaram a testar suas armas. No Congresso, trocam denúncias, armam CPIs, empinam fatos e factoides. Dizendo querer apenas governar, a presidente Dilma Rousseff retoma a agenda de lançamentos e inaugurações.

As CPIs virão, não exatamente para apurar o que já está sendo investigado, mas para servirem de ribalta. PT e aliados preparam o sinal verde, no Senado, para a instalação de uma CPI mista do cartel dos transportes paulistas sobre trilhos, na era tucana, que na Câmara entraria em uma longa fila. Tucanos e satélites da oposição tentam responder com a CPI da Petrobrás, que o PMDB inventou para pressionar o Governo, e na qual pode agora tornar-se alvo, a partir das denúncias de que um diretor ligado ao partido pilotou ali um caixa dois de campanha. E, no mesmo dia em que o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, reafirma em Brasília que a espionagem universal vai continuar, para segurança dos americanos e de todo o mundo, os senadores resolvem também instalar a CPI da Espionagem. O que vão investigar, ninguém sabe, mas algum barulho se fará.

Apesar dos temas complexos que estão na agenda legislativa, o Senado ontem deu-se ao luxo de dedicar toda a tarde a uma troca de acusações entre os pares. Treze deles se sublevaram, em apoio aos senadores Randolfe Rodrigues e João Capiberipe: acusados de terem participado de um certo "mensalão do Amapá". Já foram inocentados pela Procuradoria Geral da República mas, no Conselho de Ética da Casa, o processo continua aberto, permitindo que sejam atacados e caluniados no estado. Isso foi contado com discursos exaltados, que produziram réplicas não menos acaloradas.

Os campos opostos trocam chumbo e, ao mesmo tempo, guerrilham internamente. No PSDB, os serristas, que haviam se recolhido, agora ressurgem contestando a escolha praticamente certa do senador Aecio Neves como candidato a presidente. Dificilmente, reverterão o fato consumado pela unidade partidária em torno do ex-governador de Minas. O fogo amigo ajuda o outro lado, que começa a superar o mau momento imposto pelos fatos de junho. Na base governista, enquanto isso, prosseguem os conflitos com o Planalto, em torno do orçamento impositivo e da divisão dos royalties do petróleo.

Estas pequenezas, somadas aos desatinos desnecessários, como o uso de verba oficial para abastecer jatinhos, é que derruba a aprovação do Congresso e o mantém na mira dos protestos. Que arrefeceram mas não sumiram, ainda, da paisagem.

Olhar da Indústria
O pessimismo está passando e a indústria já pensa que o ano terminará melhor do que o esperado. O crescimento do setor pode acabar sendo de mais de 1%, chegando talvez a 1,5%. A avaliação vem do presidente da CNI, Robson Andrade, apontando as razões da mudança de humor no setor: o recuo da inflação trouxe mais segurança, a mudança no âmbio aumentou o conforto e a competitividade de alguns setores, e os editais que o Governo prepara para o segundo semestre geram boas expectativas. Apesar do adiamento do edital do trem bala, Andrade acredita que as concessões de rodovias serão muito bem sucedidas, assim como as dos aeroportos do Galeão e de Confins. Este, ele acha, ficaria mais atraente se o edital deixasse claro que o aeroporto da Pampulha não voltará a operar voos interestaduais. "Estas concessões, se concluídas este ano, terão impacto muito positivo sobre a economia, em 2014", acredita ele.

De novo em cartaz
STF retoma hoje o processo do mensalão, com o julgamento dos recursos apresentados pelos réus. Há uma mudança no ambiente do tribunal, e não apenas pela presença dos dois novos ministros, Roberto Barroso e Teori Zavascki. Entre os veteranos, alguns gostariam de rever "excessos" cometidos na fase da dosimetria. E o próprio presidente Joaquim Barbosa emite sinais de que terá, agora, um protagonismo mais moderado. O Ministro Gilmar Mendes, pelas declarações de ontem contra os recursos, mantém-se na mesma sintonia da primeira fase.

Cadeira vazia
O procurador-geral da República Roberto Gurgel deixa o cargo amanhã, depois de participar hoje, pela última vez, do julgamento do mensalão, razão maior de seu mandato, na apreciação inicial dos recursos. Será substituído, interinamente, pela procuradora Helenita Acioli, eleita vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público, que lhe garante o posto de substituta oficial. A presidente Dilma parece não ter pressa em indicar o nome do sucessor de Gurgel

Tudo como dantes no cartel de Abrantes- JOSÉ NEUMANNE

ESTADÃO - 14/08

Em junho, as multidões saíram às ruas para reclamar de tudo o que está aí a inflação que corrói o valor da moeda com que é pago o salário do trabalhador, a corrupção desenfreada, a péssima Gestão Pública (principalmente na saúde, na educação e na segurança pública, mas não apenas nesses setores) e outras mazelas institucionais. Eram todos contra tudo. Em julho, milhões foram à Praia de Copacabana se encantar com o papa humilde que carrega a própria maleta de mão, é favorável aos humildes e tolerante com os casais divorciados e os homossexuais. Agosto entrou com Francisco no Vaticano e os brasileiros em casa, deixando ao papa o que é do papa e aos políticos o que dos políticos é. Entre mortos e feridos salvaram-se quase todos.
De início, os políticos assustaram-se. A presidente Dilma Rousseff, de estilo bruto, embora oscilante, choramingou em particular e despejou ideias em público para "atender ao clamor das massas" Nada do que ela propôs pegou. Tentou dar o golpe da Constituinte exclusiva para a reforma política para consolidar na Constituição ações para fazer o próprio partido crescer e prosperar, cobrarás contas pesadas das campanhas eleitorais pegando dinheiro do bolso furado do contribuinte extenuado e transferir do cidadão a escolha de seu representante para a elite dirigente partidária pelo voto de lista. O resto acabar com os suplentes no Senado e com as votações sigilosas nos plenários do Congresso Nacional - era a perfumaria para disfarçar o odor desagradável do oportunismo golpista sem disfarce do que só interessava de fato ao seu Partido dos Trabalhadores (PT). Ninguém havia exigido na rua a reforma política, mas o cinismo passou batido, de vez que a fábrica de factoides dos marqueteiros do Planalto trouxe à baila o plebiscito, uma consulta prévia ao povo para fazer o que não salvaria um paciente mal atendido num hospital público nem educaria uma criança no ensino público, que continua não apenas indigente como sempre foi, mas só faz piorar.
E em resposta às queixas contra a saúde pública Dilma propôs aumentar de seis para oito anos a duração dos cursos de Medicina, restaurando os trabalhos forçados extintos no século 19 no Brasil por outra mulher, a princesa Isabel. A ideia absurda foi abandonada, mas o alvo, não. Aproveitando-se do fato de os médicos muitas vezes não se comportarem à altura do que deles é exigido no cumprimento do juramento que fazem repetindo as palavras de Hipócrates, o governo transferiu para eles toda a culpa pelo péssimo atendimento, aproveitando-se do contato direto que eles têm com os pacientes, ao contrário dos gestores públicos, que ficam a confortável distância dos doentes.
Nada do que ela propôs deu solução a nada. E com a queda espetacular de 28 pontos porcentuais na preferência do voto para sua reeleição na pesquisa Datafolha em três meses (de 58% em 20 e 21 de março para 30% em 27 e 28 de junho), seus aliados se viram em condições de aumentar o preço do próprio passe, enquanto os opositores passaram a sonhar com o milagre da vitória em 2014. Mas em 7 e 9 de agosto o índice dela subiu cinco pontos e Os áulicos agora aguardam a nova rodada da pesquisa para decidir se continuam mamando nas tetas oficias e permanecem em seu palanque ou lhe viram as costas em busca de perspectivas mais alvissareiras.
A pesquisa da Datafolha publicada no domingo foi uma ducha gelada no ânimo dos ingênuos que acreditam que o povo seja um coletivo virtuoso de uma massa composta por ingredientes diversos e imperfeitos de uma multidão disforme. Esta reclamou de tudo o que está ruim, mas está longe de ter a mínima ideia do que se fazer para melhorar. Dilma é o que é e a alternativa ao governo chinfrim não é algum opositor sem nada melhor a oferecer nem o ex-aliado indeciso entre os sobejos do ágape governista ou o jejum do deserto sem poder.
Ora, ora, a alternativa a Dilma é Lula, que também ganhou cinco pontinhos entre o clamor das massas e a fria calma da ressaca atual, mas passou para 51% da preferência, ou seja, mantém a perspectiva da vitória em primeiro turno. O ex-presidente não é candidato, mas continua seu padrinho e basta que transfira o cacife dele - feito de que já se mostrou capaz há três anos - para levá-la a uma inédita vitória petista no primeiro turno. E se isso não ocorresse, ela levaria vantagem sobre todos os eventuais adversários no provável segundo turno, conforme a pesquisa.
Fora do palácio, Marina Silva, da Rede, é a que mais se aproxima da favorita, mas não tão próxima assim (46% a 41%) e ainda sem condições sequer de disputar, pois não tem partido formalizado. Outro sem partido, Joaquim Barbosa, ficou em terceiro lugar, 23 pontos abaixo de Dilma (53% a 30%), com índice bem semelhante ao do tucano José Serra (52% a 31%), que deixou o correligionário Aécio Neves na poeira (53% a 29%). O desempenho de Eduardo Campos (55% a 23%) indica que o melhor que ele tem a fazer é esperar 2018.
Tudo ficou como dantes no cartel de Abrantes, o que não surpreende quem aprendeu com o Barão de Itararé que "de onde nada se espera é de onde nada virá".Tendo perdido uma eleição municipal para o neófito Fernando Haddad, Serra nada acrescentou ao que já se sabe: ele quer ser presidente, mas não convence eleitores suficientes de que merece seu voto. Em vez disso, protagoniza o escândalo de um eventual cartel para licitações no Metrô e em trens suburbanos, que permitiu aos adversários um neologismo cruel (o trensalão) e uma dúvida nunca esclarecida de que tucanos e petistas seriam "farinha do mesmo saco". E a presidência nacional do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) de nada serviu para o senador Aécio Neves provar que é melhor do que Dilma.
As ruas calaram por falta do que propor e a sucessão não saiu da mesmice pela falta de quem proponha algo melhor.

Tentando entender - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 14/08

A vontade de entender o que está acontecendo no país desde as passeatas de junho tem se manifestado através de artigos e ensaios, mas também por meio de palestras e mesas-redondas. Só esta semana houve dois encontros: um na segunda-feira à noite como parte do projeto OsteRio e outro ontem de manhã na Casa do Saber. Como tenho mais perguntas do que respostas sobre o momento político, assisti ao que teve como principal tema a Mídia Ninja, e participei do que tratou da mobilização jovem. No primeiro, debateu-se o papel desse coletivo de jornalistas que se destacou transmitindo ao vivo as manifestações de rua de dentro dos acontecimentos e com exclusividade, já que os repórteres da imprensa tradicional foram hostilizados e impedidos de trabalhar.

Como não disponho de espaço para resumir as muitas horas de discussões, limito-me a fornecer minhas conclusões a partir do que ouvi. A principal é que entusiastas da Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) saúdam o fenômeno como um “novo jornalismo”, ou melhor, “pós-jornalismo”, dando a impressão de que a imprensa acaba de ser inventada. No entanto, o “mídia ativismo” que reivindicam, ou seja, o direito à parcialidade e ao engajamento já era moda quando comecei na profissão nos anos 50. Deixaram de ser, e isso a meu ver foi um avanço. Também não acredito em isenção — como já dizia Goddard, a câmera ou é de direita ou de esquerda —, mas nossa obrigação é persegui-la. Não sinto saudades do tempo em que era comum o jornal pertencer a um partido, assim como não concordo que o papel da mídia seja “ativar desejo” (na terra do Ancelmo, o que ativa desejo é... deixa pra lá).

No debate de ontem, em que a maioria era formada por jovens, muitos da periferia, pude corrigir algumas impressões da véspera. Graças a uma plateia incrivelmente bem informada e aos esclarecimentos de uma garota Ninja articuladíssima na mesa, pude constatar que, para além da má vontade de parte a parte, da Ninja em relação à mídia tradicional e vice-versa, vale a pena considerar que essas práticas são ou devem ser complementares, são tecnologias convergentes e não antagônicas. Os Ninjas não inventaram o jornalismo e também não vão acabar com ele. A seu favor, porém, o fato de que, apesar dos possíveis equívocos e da inocente presunção, eles tiveram o mérito de fazer com a imprensa o que as manifestações fizeram com a política: refletir sobre si mesma.

Um pouco como esses novos atores da cena nacional fizeram ontem com este velho jornalista — ou “pós-jornalista”?

Congresso desconectado -FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 14/08

BRASÍLIA - Causa um pouco de tristeza a queda da aprovação do Congresso Nacional na recente pesquisa Datafolha. De junho até agora, aumentou de 33% para 42% a taxa dos que consideram ruim ou péssimo o trabalho de deputados e senadores.
Segundo o levantamento, 40% acham o Congresso regular. Só 13% enxergam como bom ou ótimo o serviço prestado pelos congressistas.
De junho para cá, a popularidade da presidente Dilma Rousseff parou de cair e chegou a subir, com a aprovação ao seu governo indo de 30% para 36%. Ou seja, embora existam exceções, há algo de errado no comportamento geral dos congressistas.
Não faltam exemplos para justificar a péssima imagem do Poder Legislativo. O mais gritante é a resistência a cortar na própria carne quando necessário. É bem verdade que muitos congressistas já foram cassados nos últimos anos. São exceções que confirmam a regra e têm efeito inócuo. O conceito dos políticos não melhora se eles agem quando já é tarde demais. Fica a impressão, correta, de que apenas cumprem a obrigação.
Tome-se o caso do deputado federal Natan Donadon, eleito pelo PMDB de Rondônia. Desde 2010, ele está condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Sua pena supera 13 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. O que fez o Congresso de 2010 até junho deste ano? Nada. Absolutamente nada.
Poderia ter sido aberto há muito tempo um processo para cassar Donadon. Mas os deputados esperaram passivamente até o STF dar um basta nas manobras protelatórias do condenado. Só quando Donadon foi para a prisão, em 28 de junho, é que a Câmara começou a se mexer.
Nas próximas semanas, Donadon será cassado. A Câmara dirá que cumpriu sua obrigação. Só que os brasileiros estão vendo tudo. Sabem que demorou além do aceitável. O Congresso assim flerta perigosamente com uma profunda perda de credibilidade.

Vagando pelo deserto - FERNÃO LARA MESQUITA

O ESTADO DE S. PAULO - 14/08

As manifestações de junho terão sido só um ponto fora da curva se não surgir um mote capaz de dar um foco a toda aquela energia positiva e motivar os seus protagonistas originais a acreditar que voltar às ruas pode servir a algum propósito útil. A máquina de moer esperanças do Sistema trabalha rápido para isolar e destruir o "corpo estranho" que invadiu, ameaçando saneá-lo, o caldo de cultura de que se nutre a luta pelo poder entre nós há 513 anos e restabelecer a tranquilidade do establishment.

Passado o choque da perda do controle das ruas, as viúvas das manifestações "de grife" estilo século 20 tratam de usurpá-las e devolvê-las ao serviço dos que vêm desde sempre se revezando no poder. Embora as mirradas "manifestações" aparelhadas que se seguiram as originais sejam falsificações grosseiras demais para convencer quem quer que seja de que não fazem parte desse mesmo "vale-tudo" que constitui o pouco que o Brasil inteiro, com exceção do irremediavelmente podre, sabe com certeza que não quer mais, há que recordar que não tem sido pelo convencimento, mas pelo cansaço, que eles têm conseguido prevalecer há tanto tempo.

No mais, segue o baile: a ala radical trabalha para rebaixar as defesas do País contragolpes plebiscitários, enquanto a frente "política" vai cevando na corrupção os vendedores de governabilidade e trabalhando para quebrar a fibra moral da Nação. A exumação do escândalo do cartel do Metrô de São Paulo atingindo todas as figuras de proa vivas e mortas do PSDB é o exemplo mais recente. São fatos ocorridos entre 1996 e 2007, investigados e divulgados na época pelos governos dos EUA e da Alemanha, mas que vêm a calhar nesta emergência para o esforço permanente do PT não para reduzir a corrupção, mas para zerar por baixo seu handicap negativo de campeão incontestável da modalidade pelo mote oficializado por Lula desde o mensalão: "Sim, nós somos. Mas quem não é?".

Já os enamorados do nada, dos Black Blocs da vida com suas máscaras negras aos Anonymous, contrafação ultrainformatizada dos primeiros com suas máscaras brancas, não são novidade. Não há porque temê-los para além do que possam perpetrar com as próprias patas ou com seus malwares. O anarquismo é uma constante histórica que tem um apelo inicial sedutor (Hay gobiemo? Soy contra!), mas não tem um projeto de poder. Por isso, no seu radicalismo niilista, consegue, no máximo, sistematizar o terrorismo - hoje praticado também e principalmente no ambiente virtual - durante períodos curtos de tempo.

Também eles contribuem, porém, para afastar do movimento de junho a camada intermediária da classe média rebelada, que mesmo avessa "à bagunça" se reconheceu naquelas manifestações e simpatizou com elas, ainda que hesitando em sair às ruas.

A última pesquisa é inequívoca. Dilma recomeça a subir. O PSDB cai. Marina Silva e Eduardo Campos sobem ainda, mais por não terem tido a oportunidade de decepcionar do que por qualquer virtude especial reconhecida, enquanto os totalmente desiludidos seguem na faixa de quase um quinto do eleitorado. Ou seja, a negação de "tudo isso que está aí" ainda cresce; os miseráveis, que chegaram a balançar, na dúvida começam a voltar a se abrigar na segurança da esmola; os que anseiam por mudanças reais continuam órfãos de pai e mãe.

Nada que prenuncie a visão da Terra Prometida...

Se há algo sobre o que não pairam dúvidas desde o primeiro momento, é que o repertório doméstico de expedientes políticos e remendos institucionais está definitivamente esgotado. Este é, aliás, o único ponto incontroverso deste movimento.

A imprensa, única instituição democrática teoricamente isenta da pressão direta da luta pelo poder, no entanto, tem restringido o escopo do seu trabalho de reportagem às nossas fronteiras físicas e ao repertório exaurido das "fontes" viciadas da discussão política doméstica, onde já se sabe que as respostas não podem ser encontradas, apesar de todas as facilidades para expandir essa pesquisa a experiências mais avançadas de democracia que a rede mundial oferece hoje.

A solução para o impasse brasileiro terá de vir do vasto rol dos arranjos democráticos "nunca antes experimentados na História deste país", no qual podem ser incluídos quase todos os que constituem os fundamentos básicos de uma democracia sem aspas. A lista é vasta, como ilustrava bem a multiplicidade dos cartazes que direta ou indiretamente a eles se referiam nas manifestações originais. E esta é a primeira das dificuldades. Por onde começar? Como reduzir tudo quanto nos falta conquistar a algo em tomo de que possa haver uma decisão "sim ou não"?

A resposta está em focar essa busca na identificação de um método de produção de instituições e de resultados mais sadio que o que temos, e não na repetição do erro de sempre de inscrever os direitos conquistados pelas sociedades que os alcançaram porque adotaram esse método numa lista de desejos que nossa fábrica de instituições defeituosa não está aparelhada para produzir.

Assim como nada define melhor o divórcio do Brasil do Terceiro Milênio deste que ainda se arrasta por aí do que o "não nos representa!" que atroa as ruas desde junho, nada pode responder melhor a esse apelo do que transferir das mãos dos interessados em que nada mude para as dos que precisam desesperadamente de mudanças a iniciativa e o controle final do processo de reformas que teremos de iniciar o quanto antes se quisermos manter a esperança de não sermos definitivamente condenados à periferia do mundo.

É exatamente isso que faz o sistema de voto distrital com recall: ele inverte a ordem que vivemos hoje e põe nas mãos de cada cidadão o poder de iniciativa e de controle do desfecho final de cada ação do poder público que possa afetar a sua vida, sem deixar nas mãos de ninguém poder sobrando para desaguar nem em imposições, nem em arbítrio e, assim, arma a cidadania para forçar os legisladores e o governo a fazer, daí por diante, todas as reformas que lhe parecerem necessárias.

Mais informações sobre como funciona o voto distrital co m recall no site www.vespeiro.com.

Maniqueísmo na política - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 14/08

SÃO PAULO - A dúvida é se os tucanos paulistas foram só incompetentes, ao não perceber que um cartel de empresas fraudou por anos a fio a concorrência do metrô, ou se, como é mais verossímil, tiveram papel ativo nessa história, recebendo propina que, suspeita-se, financiaria o caixa do partido em eleições. Espera-se que as investigações consigam esclarecer esse ponto.

Enquanto isso não ocorre, fica o bate-boca entre petistas e tucanos, no qual uns tentam provar que são iguais aos outros e os outros que são diferentes dos primeiros. Embora a lógica eleitoral e nossos cérebros ideológicos adorem ver o mundo como palco de um embate do bem contra o mal, esse é um erro a ser evitado.

É claro que existem diferenças consideráveis entre as principais agremiações. Se assim não fosse, a própria democracia perderia muito de seu sentido. Isso não significa que elas difiram em tudo. No que diz respeito à distribuição dos vícios e virtudes humanos, as legendas --bem como igrejas, clubes náuticos e sindicatos--, mais se parecem do que se distinguem. Em qualquer grupo que reúna mais do que duas dezenas de pessoas e que tenha acesso ao poder, é uma questão de tempo até que surjam casos de corrupção, tanto dos miúdos como dos graúdos.

Assim, considerando-se que os holofotes da mídia passaram os últimos anos voltados preferencialmente para a sujeira do PT, a notícia de que o PSDB também pode estar envolvido em esquemas mais organizados de desvios tem valor didático.

A questão central, porém, não é determinar quem se comportou pior --ainda que esse seja um exercício válido. Se desejamos aprimorar as instituições para torná-las menos vulneráveis, o primeiro passo é reconhecer que lidamos com fragilidades da natureza humana de distribuição mais ou menos uniforme e deixar de acreditar que a política se divide em anjos e demônios. Superar esse maniqueísmo já seria um belo feito.