quinta-feira, janeiro 17, 2013

A denúncia do “jeitinho monetário” brasileiro - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 17/01


Não é segredo que no Brasil vigora uma espécie de culto às soluções fáceis e engenhosas. "Não conseguiu ingressos para um show nem passou no exame para motorista?

Não se preocupe; você precisa apenas encontrar um jeitinho", disse o diário inglês Financial Times, num artigo publicado no dia 15 de janeiro sobre a economia brasileira.

O artigo - que se chama "O jeitinho monetário brasileiro" - explica mas não traduz o hábito nacional de se apoiar numa criatividade que chega a resvalar na ilegalidade para resolver desde os problemas mais prosaicos do dia a dia até as questões mais delicadas de política monetária.

Cita como exemplo o pedido feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para que não aumentasse já as passagens de ônibus para que a decisão não tivesse impacto sobre as taxas de inflação.

É claro que as autoridades reagiram. Haddad disse que o pedido de Mantega não significa jeitinho, mas gestão. A questão é que, incomodando ou não, é impossível deixar de dar razão ao Financial Times.

E os exemplos de jeitinho que o jornal citou são esclarecedores, sem dúvida. Mas estão longe de representar uma relação abrangente desse hábito que, convenhamos, já passou da hora de ser eliminado da vida brasileira.

O Brasil parece ter a mania de produzir leis apenas pelo prazer de vê-las burladas. Um princípio universal transformado em lei diz, por exemplo, que o orçamento de um determinado exercício tem que ser aprovado no ano anterior.

Acontece, porém, que até agora o Congresso Nacional não se dignou a aprovar a relação de receitas e despesas públicas previstas para o ano de 2013. E, para não cometer uma ilegalidade, Brasília deu um jeitinho.

E baixou uma medida provisória que autoriza que os gastos prossigam até a chegada de uma lei que será aprovada Deus sabe quando. Para tentar aquecer a economia, o governo recorre com frequência ao jeitinho da renúncia fiscal a determinados setores em lugar de abrir uma discussão séria e profunda em torno de uma alteração para valer na ordem tributária.

E assim, de jeitinho em jeitinho, os problemas vão sendo empurrados com a barriga até o dia que for possível.

Visto pelo ângulo da necessidade de mudança de rumos, até que o artigo do Financial Times pode produzir resultados positivos. Mesmo porque, na medida em que o hábito começa a ser percebido e apontado como um problema por observadores internacionais influentes, a possibilidade de se encontrar uma solução aumenta.

O Brasil precisa deixar de recorrer à meia-sola para resolver os problemas de sua economia. Reformas consistentes e profundas são mais do que necessárias para que o jeitinho deixe de ser a ferramenta principal e passe a ser apenas - e em casos absolutamente secundários - um traço do bom humor brasileiro.

O modelo de leilão pelo menor preço - ADRIANO PIRES

BRASIL ECONÔMICO - 17/01


A presidente Dilma lançou em 2012 ambiciosos planos para ferrovias (investimentos de R$ 91 bilhões), rodovias (R$ 42 bilhões), portos (R$ 57 bilhões) e aeroportos (R$ 19 bilhões), com o objetivo de ampliar e melhorar a infraestrutura no país.

A maioria dessas licitações será feita com base no objetivo de modicidade tarifaria. Apesar de o barateamento das tarifas ser desejável, este modelo de leilão traz consigo uma série de problemas, principalmente quanto à eficiência e qualidade do serviço.

A base teórica para adoção de leilões pela menor tarifa se encontra no artigo de Demsetz (1968), no qual postulou que esta forma de leilão resolveria um dos problemas fundamentais dos reguladores, que consiste na definição do preço ótimo do serviço em um contexto de assimetria de informações sobre custos das firmas reguladas.

Segundo a sua teoria, assumindo um leilão suficientemente competitivo, os participantes estariam dispostos a fazer lances, oferecendo preços dos serviços cada vez menores até atingir os seus respectivos custos médios.

No critério de menor preço do serviço, o vencedor seria o de menor custo médio. Assim, além do certame baseado no menor preço do serviço se constituir em um mecanismo de revelação da informação sobre o preço ótimo do serviço regulado para o regulador, também viabiliza que o escolhido seja aquele participante com maior eficiência.

O problema deste mecanismo foi apontado por Williansom (1976). A crítica se baseia na tendência dos participantes do certame de realizarem lances com valores abaixo daqueles minimamente consistentes com a sua função custo.

Isso ocorreria num ambiente no qual os participantes do leilão acreditam ser possível convencer o regulador a permitir o incremento dos preços dos serviços, acima daquilo que foi ofertado no leilão.

A base da teoria de Williansom é a de que faltaria capacidade do regulador de se comprometer a não ceder às pressões para o ajuste de tarifas acima do combinado.

Tal fato decorre, especialmente, das dificuldades do poder público para trocar o fornecedor do serviço rapidamente e com baixo custo. Um dos maiores geradores de custos de troca de fornecedores são os elevados sunk costs (custos afundados), que permitem comportamentos oportunistas tanto do concessionário como do próprio Estado.

Se os participantes do certame esperam a falta de comprometimento do regulador com as tarifas fixadas no leilão, o valor do preço do serviço proposto em seus lances passa a ser desvinculado dos seus reais fundamentos de demanda e custo.

Pode-se chegar ao caso limite, no qual o valor do preço do serviço ganhador reflita não a sua eficiência própria, como custos menores, mas sim a capacidade de realizar um lobby bem-sucedido junto ao regulador quando o contrato estiver em operação. Ou seja, vencerá quem tiver melhores conexões políticas.

Tia Peregrina - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 17/01


Velha piada: qual é a diferença entre um visitante francês e um visitante judeu? O visitante francês vai embora sem se despedir, o judeu se despede mas não vai embora. Nós tínhamos uma tia — a famosa tia Peregrina — que seguia o método judeu. Quando a tia Peregrina começava a se preparar para sair, sabíamos que aquilo era apenas o inicio de uma longa retirada, prolongada por assuntos que ainda não tinham sido tratados. A tia Peregrina podia ficar em silêncio durante toda a visita, mas na sua saída começam a brotar assuntos e fofocas e revelações que tinham ficado esquecidas, todas lembradas pela tia Peregrina. A migração da tia Peregrina da sua cadeira até a calçada, que era onde a conversa ficava mais animada, podia levar horas. E se alguém sugerisse que voltassem para a sala e sentassem-se de novo para continuar a conversa, a tia Peregrina era a primeira a protestar:

— Não, não. Estou indo embora. Já me despedi de todo o mundo. E não ia embora.

Durante muitos anos a tia Peregrina fez parte do folclore da família. Quando alguém se atrasava para sair de casa, ouvia:

— Vamos, tia Peregrina!.

Até amigos que nunca conheceram a tia Peregrina, mas conheciam sua fama, a evocavam para desculpar um atraso.

— Epa, desculpe. Dei uma de tia Peregrina.

Confesso que não sei qual era o parentesco dela conosco, nem que fim levou. Parte do seu habitat, a calçada onde todas as conversas terminavam, ficou inabitável. Mas duvido que assaltantes e balas perdidas fossem impedi-la contar a última. Sempre imagino a tia Peregrina sendo velada, e no momento em que vão tampar o caixão, levantando o dedo e dizendo:

— Esperem, tem uma que eu não contei.

Se alguém sugerisse que voltassem e sentassem-se de novo para continuar a conversa, a tia Peregrina era a primeira a protestar: — Não, não. Estou indo embora. Já me despedi... E não ia embora.

Acelera, Mengo! - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 17/01


A Peugeot-Citroën vai patrocinar o Flamengo este ano. Aliás, dia 30 agora, a montadora lança o modelo 208, na fábrica de Porto Real, RJ. O principal acionista da francesa, Thierry Peugeot, virá para a festa.

Calma, gente I
Frei David dos Santos, da ONG Educafro, protocolou ontem uma representação no Ministério Público do Rio contra os clubes Paissandu e Caiçaras, a quem acusa de “discriminação racial e social”, por proibirem a entrada de babás não uniformizadas.

“A medida”, diz a representação, “mesmo que imposta por associação privada, implica discriminação odiosa, ao revelar um tratamento hierárquico irrazoável e violador do princípio da igualdade e da não discriminação”.

As mucamas...
Para Frei David, conhecido por sua luta a favor de cotas para negros nas universidades, “o traje acarreta automática identificação de empregadas domésticas e babás no ambiente do clube, no intuito de registrar para todos os frequentadores sua condição social, reproduzindo o cenário das célebres gravuras de Debret, com a representação de “sinhôs”, “sinhás”, “sinhozinhos” e suas “mucamas”, em pleno século XXI”.

Calma, gente II
Juliana Paes, grávida, caminhava com Pedro, seu filho, dia destes, à noite, pelo Jardim Oceânico, na Barra, no Rio, quando notou a aproximação de um carro com vidros escuros. Segurou o miúdo e, assustada, temendo ser um assalto ou um sequestro, pensou em correr. O carro chegou um pouco mais perto da atriz e, do banco do carona, saiu um... flash. Era um paparazzo.

OLHAI POR NÓS
Os mirantes do Rio precisam de mais carinho. No Mirante do Pedrão, no Morro Santa Marta, em Botafogo, veja acima, a situação é de abandono. Lixo se acumula por toda parte e fios cruzam o local na altura do parapeito, ao alcance de uma criança de 5 anos. No Parque Penhasco Dois Irmãos, no Leblon (ao lado), um dos deques está interditado pela Defesa Civil. O pior é que não há sinal de que será reformado. Lá, a escultura de aço feita por Oscar Niemeyer (1907-2012) sofre com a ferrugem. Até que o parque está bem cuidado, diga-se de passagem, mas a obra do mestre-arquiteto precisa de restauro.

Dado condenado
O ator Dado Dolabella terá de pagar R$ 40 mil de indenização à camareira Esmeralda Honório. A 11ª Câmara Cível do Rio reformou, por unanimidade, a sentença que julgara improcedente o pedido desta condenação. A causa foi ganha pelos advogados Marcelo Salomão e Maria José Arruda de Almeida.

Segue...
Na decisão em primeira instância, a juíza argumentou que Dado seria inocente porque “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Mas a desembargadora Myriam Medeiros da Fonseca Costa, relatora da apelação, não entendeu assim. Esmeralda, como se sabe, acusa o Dolabella de tê-la agredido durante uma briga dele com a então namorada Luana Piovani, em uma boate, no Rio, em 2008.

Arte moderna
Helena Severo e Antonio Cicero serão os curadores de uma exposição itinerante pelo Brasil de 80 quadros da coleção do banco Santander (arte moderna). “Narrativas poéticas” irá celebrar o diálogo entre poesia e artes plásticas.

Crítica ao capitalismo
Estas esculturas espalhadas pelo Rio, uns amontoados de objetos usados, como sofás, TVs, malas etc, têm chamado atenção. São, na verdade, uma espécie de anúncio da peça “Edukators”, que estreia hoje. Inspirado no filme homônimo, o espetáculo conta a história de jovens que invadem uma mansão e fazem protestos anticapitalistas. O trabalho é do cenógrafo Thomaz Velho e envolveu adolescentes do Novo Degase.

Chuva que cai I
Segunda agora completam-se três meses que a Lona Cultural Hermeto Pascoal, em Bangu, está fechada para shows. As chuvas de outubro causaram danos e nada foi reparado. Alô, prefeitura!

Chuva que cai II
A chuva da última terça causou estrago no Centro Cultural Cartola, no Morro da Mangueira, no Rio. O forro do teto caiu, e a água inundou os equipamentos do centro de digitalização. Além disso, as fantasias que estavam sendo preparadas para o “Baile das Rosas”, em homenagem ao centenário de Dona Zica (1913-2003), viúva de Cartola, foram destruídas.

Imagina na Copa
Um bonecão do Fuleco, o mascote da Copa de 14, foi colocado, terça, próximo ao Rio Joana, quase de frente para o Maracanã. Só que, com aquele temporal, o boneco... caiu no rio e foi levado pela correnteza. De um prédio, um gaiato, como se encorajasse um nadador, ficou gritando: — Vaaai, Fuleeeeeco! Vaaaiiiii...

Loucos e adolescentes suicidas - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 17/01


É raro que alguém atravesse a adolescência sem pensar, às vezes, que o futuro pode não valer a pena


Nos EUA, desde o massacre na escola primária Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, o debate não para: quem mata, as armas ou os homens? Obviamente, quem mata são homens com armas -e é mais fácil controlar as armas do que controlar os homens, os quais são bastante imprevisíveis.

Para a NRA (Associação Nacional dos Rifles), ao contrário, as armas não seriam problema à condição de que elas não caíssem nas mãos de malucos. Como evitar que isso aconteça? O presidente da associação propõe a criação de uma lista nacional das pessoas que, em algum momento da vida, precisaram de atendimento em saúde mental. Os que estivessem nessa lista seriam barrados na hora de adquirir uma arma.

Não se sabe se a lista incluiria só os que recorreram a psiquiatras e a medicações ou também os que recorreram a um psicoterapeuta (sem contar os que pediram ajuda a padres, pastores, rabinos e outros "sábios").

Mesmo supondo que se trate só dos pacientes medicados, imagine as consequências. Dez anos atrás, você ficou triste porque perdeu o emprego, e um médico (talvez desavisado) quis ajudar e lhe prescreveu antidepressivos (que, aliás, provavelmente não serviram para nada). Pois bem, desde então, você está na tal lista nacional (a qual, não se iluda, não será consultada só quando você pedir para adquirir uma arma).

Anos atrás, psicoterapeuta nos EUA, eu atendia pacientes que tinham direito ao reembolso da terapia pelo seu seguro de saúde, mas que preferiam pagar meus honorários de seu bolso: eles não queriam que ficasse registrado em lugar algum que eles tinham precisado de assistência em saúde mental -achavam que essa "fraqueza" mancharia seu currículo. Essa preocupação me parecia descabida, mas talvez eles tivessem razão.

Recorrer à psicoterapia e à medicação psiquiátrica se tornou banal. Isso não é só consequência de diagnósticos e prescrições apressados, mas também de uma mudança na ambição da psiquiatria e da psicologia clínica, que querem, como a medicina, cuidar da gente, ou seja, exercer seu poder sobre nossas vidas.

Em vários casos, a nova versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5), da Associação Americana de Psiquiatria, prevista para este ano, baixa o limiar do que pertence à patologia, designando como transtornos -passíveis de cuidado médico e psicológico- afetos, pensamentos e humores que, até hoje, eram considerados parte da experiência humana normal.

Em outras palavras, somos cada vez mais considerados como "doentes" (e convidados a procurar tratamento) por uma psicologia e uma psiquiatria que não param de definir nossa "normalidade" -com as melhores intenções.

Isso é bom ou ruim? Nem sempre é fácil responder. Eis um exemplo, complicado.

Acabo de ler uma pesquisa sobre suicídio na adolescência, de Matt Nock (professor de psicologia em Harvard) e outros, publicada em 9 de janeiro no "JAMA Psychiatry", o Jornal da Associação Médica Americana on-line (íntegra: http://migre.me/cNp2O).

Numa amostra de mais de 6.000 adolescentes de 13 a 18 anos, os pesquisadores acharam que 12% pensaram em suicídio de maneira consistente e continuada -as meninas mais do que os meninos: entre elas, 6% fizeram planos de suicídio e 5% tentaram se matar. Esses números não destoam de minha experiência, tanto de clínico como de ex-adolescente, mas, claro, preocupam.

No entanto, a repercussão do estudo é devida a outro dado: como o "New York Times" destacou, segundo a pesquisa, mais da metade dos adolescentes suicidários tinham recebido algum tipo de tratamento antes de planejar ou mesmo tentar o suicídio.

Receávamos que nossos adolescentes não tivessem acesso ao tratamento do qual precisam, mas o problema, aparentemente, é que os tratamentos não estariam funcionando direito. Claro, é preciso aperfeiçoá-los, estender seu alcance etc. Mas será que nossos tratamentos não funcionam ou será que estamos esperando deles o impossível?

Mal precisa dizer que devemos evitar que os adolescentes se suicidem. Por outro lado, é raríssimo que alguém atravesse a adolescência sem pensar, de vez em quando, que o futuro poderia não valer a pena.

Seria fácil, mais uma vez, designar esse pensamento normal como transtorno e, para curar alguns adolescentes, pretender curar a adolescência, tentando tirar dela aquela dor de viver que, bem ou mal, a define.

Tardes de Ipanema - CORA RÓNAI

O GLOBO - 17/01


Rubem Braga era mais calado do que o Millôr, mas sua mítica rabugice era solúvel no álcool e na amizade. Os dois eram extraordinários conversadores, cultos, rápidos, engraçados

Rubem Braga me ligou.

— Você vai à Biblioteca Nacional?

Não, eu não ia à Biblioteca Nacional. O que é que eu ia fazer lá?

— Você não recebeu o convite? Hoje é o lançamento daquele programa de livros infantis para bibliotecas públicas. Nossos livros foram incluídos nisso.

Lembrei-me vagamente do convite, que jogara fora dias antes. Afinal, quem iria a uma cerimônia daquelas, cheia de autoridades e de discursos intermináveis?

— Então você acha que a gente não precisa ir?

— Lógico que não, Rubem! Vai ser uma chatice só. Eu com certeza não vou, tenho milhares de coisas para fazer, tenho que terminar um frila que já devia ter entregue há uma semana...

— Quantos exemplares dos nossos livros eles compraram?

Essa informação eu sabia onde encontrar: tinha acabado de receber correspondência da editora.

— Compraram 10 mil exemplares.

— Muita coisa. Temos que ir.

— Não vou, não. Estou toda enrolada! Estão me cobrando um frila, a empregada não veio, o marceneiro ficou de aparecer. Para piorar, estou sem carro.

— Isso não é problema, eu estou. Pego você aí daqui a meia hora.

— Mas Rubem...

Clic.

Havia como dizer não àquele homem? Claro que não. Larguei o que estava fazendo, bati o recorde mundial do banho tomado e, trinta minutos depois, estava na portaria. Chegamos à Biblioteca Nacional bem na hora. E aí fiquei muito contente de ter ido. Evidentemente, a maior parte dos nossos colegas pensara como Rubem. Assim, em vez da cerimônia chatíssima que imaginara, havia lá uma verdadeira festa, cheia de amigos que eu não via há um tempão.

Cumprimentei um aqui, outro ali, mal entabulei uma conversa e logo o Rubem estava ao meu lado, me pegando pelo braço.

— Você tinha toda razão, isso aqui está insuportável. Vamos embora.

— Agora que já viemos até aqui, vamos ficar mais um pouco? Só mais um pouquinho! O tempo de cumprimentar as pessoas.

— Não, é muito perigoso. Quando começarem os discursos nós não vamos conseguir escapar mais.

— Então vamos fazer o seguinte, eu fico mais um pouco e você vai.

— Nós viemos juntos.

— Mas daqui eu ainda vou ao “Jornal do Brasil”...

Era mentira. Da cerimônia eu tinha mesmo que voar para casa, para a pilha de trabalho que me esperava.

— Então vamos. Eu deixo você lá.

Assim é que eu fui parar na redação num dia em que não tinha absolutamente nada para fazer lá. Só achei graça na história porque a teimosia do Rubem era irresistível.

De outra vez, estávamos numa festa. Festa mesmo, não cerimônia na Biblioteca Nacional. Música, vozes, uma barulheira. Eu me sentei ao lado dele para conversar um pouco. Àquela altura, Rubem já estava bastante surdo.

— O que é que você disse? Fala mais alto!

Aumentei o volume.

— Não estou ouvindo nada. Fala mais alto!

Aumentei um pouco mais.

— Por que é que você está gritando desse jeito?

Houve também aquele dia em que nos encontramos e ele me disse:

— Vi uma orquídea linda e me lembrei de você na mesma hora.

Meu ego foi às alturas. Rubem Braga vira uma flor e se lembrara de mim!

— Ela tinha uns desenhinhos por dentro que eram iguais a um computador.

Sempre que passo em frente ao prédio da Barão da Torre penso na cobertura agrária e no seu antigo morador. De tantas pessoas que já se foram desde que tomei consciência do mundo, Rubem Braga é das ausências que mais sinto. Por quem era, pelo que escrevia, por dias que não esqueço. Às vezes Millôr e eu íamos para lá no fim da tarde: das poucas ocasiões em que eu, que falo muito, ficava quieta. Ou quase.

A conversa dos dois obedecia a um ritmo próprio, ia e vinha no tempo. Além da discussão e da análise das notícias do dia, havia meandros antigos povoados por personagens que eu não conhecia, vivendo em bares e restaurantes já desaparecidos; havia as viagens que os dois tinham feito juntos e gostavam de revisitar; havia histórias que já tinham contado inúmeras vezes, mas que ainda assim gostavam de ouvir de novo.

Rubem era mais calado do que o Millôr, mas sua mítica rabugice era solúvel no álcool e na amizade. Os dois eram extraordinários conversadores, cultos, rápidos, engraçados. Tinham, ambos, uma memória prodigiosa, que não servia só para lembrar os fatos que presenciaram. Às vezes o fio de um poema era puxado por acaso, por uma palavra ou circunstância: um começava a recitar, o outro terminava, ou terminavam os dois juntos, e ríamos todos, não porque fosse engraçado, mas pela alegria da lembrança.

A tarde caía, o sol se punha. Rubem acendia o abajur ao lado do sofá, eu servia uísque para um e para outro, botava mais gelo nos copos e agradecia à sorte que me havia levado até lá.

Não havia espetáculo em cartaz no Rio, ou em qualquer outra cidade do planeta, que se comparasse àquelas tardes de Ipanema.

De mudança para Patagônia - FERNANDO REINACH

O Estado de S.Paulo - 17/01


Para ver o futuro, basta observar o passado. Como a vida existe há mais de 1 bilhão de anos, quase tudo o que ocorre já ocorreu de modo semelhante. Quer saber por que as florestas desaparecem? Estude o passado: elas já surgiram e desapareceram da região amazônica várias vezes. O raciocínio vale para o aquecimento global. Para tentar prever as consequências do atual aquecimento, pesquisadores estudam grandes episódios semelhantes que ocorreram. A novidade é que identificaram um rápido evento de aquecimento global, muito semelhante ao atual, que se iniciou por volta de 250 milhões de anos atrás.

Ele foi causado pelo rápido aumento na quantidade de gás carbônico na atmosfera, graças à liberação de carbono sequestrado no subsolo. Essa liberação repentina (ao longo de mil anos) provocou um efeito estufa e um aumento na temperatura da atmosfera e dos oceanos. O interessante é que o ritmo de aumento foi semelhante ao que vem ocorrendo desde 1950, quando começamos a extrair e queimar combustíveis fósseis.

Para estimar o aumento da temperatura ao longo do tempo, os cientistas utilizam a quantidade de um isótopo de oxigênio que se acumula na apatita, um componente das partes sólidas dos animais. Coletando animais marinhos de diversos estratos, iniciando com fósseis de 253 milhões de anos e terminando nas camadas de 245 milhões de anos, os cientistas determinaram a temperatura dos oceanos durante esse episódio de aquecimento e resfriamento que durou aproximadamente 8 milhões de anos.

No início desse período, a temperatura na superfície dos oceanos estava pouco abaixo da atual, de 22°C a 24°C. Com a liberação do gás carbônico em alguns milhares de anos, ela subiu de 25°C a 30°C, intervalo semelhante ao que encontramos nos trópicos. Mas ela continuou a subir e se estabilizou em aproximadamente 34°C, 4°C acima da atual, com pico de até 40°C, por volta de 254,6 milhões de anos atrás. Você acha pouco um aumento de 4°C a 6°C? Então continue a ler.

Uma vez determinada a variação de temperatura ao longo desse período, geólogos e paleontólogos examinaram fósseis de animais e plantas, escolhendo diversas regiões em que fosse possível determinar a biodiversidade dos fósseis durante esse intervalo.

Para mapear o que estava acontecendo em todo o planeta, foram feitos levantamentos em regiões próximas ao equador e em mais distantes. Os resultados mostram que, logo após o aumento de temperatura, a diversidade de fósseis na região do equador diminuiu bruscamente, o que indica que milhares de espécies se extinguiram rapidamente. Os peixes praticamente desapareceram do equador e as plantas terrestres, incapazes de fazer fotossíntese nas altas temperaturas, também desapareceram. Esse desaparecimento em massa de seres vivos já era conhecido como Grande Extinção do Fim do Cambriano. Agora sabemos que ela foi causada por um rápido aumento de temperatura causado pela liberação de gás carbônico.

Por mais de 5 milhões de anos, enquanto durou a alta temperatura, a vida se abrigou perto dos polos. Peixes, plantas e vertebrados terrestres sobreviveram nas regiões mais frias, Sibéria e Antártida, como mostram os registros fósseis. Esse efeito estufa só se dissipou há 247 milhões de anos e, então, os fósseis indicam que a vida recolonizou a região tropical.

O que ocorreu é semelhante ao que ocorre hoje: trópicos perdendo biodiversidade e calotas polares derretendo. O que ainda não estamos observando de maneira radical é o desaparecimento da vida nos trópicos e sua mudança para as regiões menos quentes. Por outro lado, nosso aquecimento começou há somente 150 anos e, no passado, a extinção de espécies e a migração dos sobreviventes levou milhares de anos.

Por mais sugestivo que seja este estudo, é preciso cautela com as comparações. No fim do Permiano, quando isso aconteceu, o mundo e a vida eram muito diferentes. Os mamíferos nem sequer haviam aparecido e os continentes não haviam se separado. Por outro lado, é impressionante que a temperatura já era muito semelhante à atual, o que demonstra que a maior parte dos seres vivos foi selecionada para sobreviver em intervalos muito pequenos de temperatura. Pequenos aumentos ou diminuições podem ser catastróficos.

Esse estudo sugere que é necessário levar a sério aumentos de 2°C a 4°C na temperatura. Pequenas mudanças podem transformar os trópicos em um deserto desabitado por milhões de anos. E é claro que a região subtropical, mesmo aquecida, não será capaz de abrigar e alimentar 11 bilhões de pessoas. Prevenido é um amigo meu que está construindo uma casa de veraneio no sul da Patagônia.

Inflação não se administra - MARIA CLARA R. M. PRADO


Valor Econômico - 17/01


O governo optou pela tática de administrar a taxa de inflação. Não é a primeira vez que isso ocorre no país. Houve ocasiões, no passado, em que índices de preços foram manipulados. Em outras, tentou-se o tabelamento de preços e acordos informais com o setor privado visando "segurar" o aumento de preços. Nada disso funcionou. Inflação represada não desaparece como por encanto, ela simplesmente existe, em algum momento mostra a sua cara e pode ressurgir com picos ainda mais altos, uma desagradável surpresa para quem ousou intervir na formação natural dos preços.

A perspectiva de um IPCA mais alto é, talvez, o pior que poderia acontecer nesta fase do governo da presidente Dilma Rousseff. A menos de dois anos das eleições, há o risco de uma inflação crescente comer parte da renda dos 40 milhões a 50 milhões de brasileiros que emergiram para uma vida mais civilizada nos últimos dez anos. Há certo exagero aqui, mas nunca é ruim exagerar para prevenir o pior.

A inflação não nasce por geração espontânea. Se roda hoje ao redor de 5,5% a 6% ao ano é porque a economia funciona de forma a que os preços praticados sejam mais altos. Há explicações conjunturais e estruturais para isso.

Falta ao governo uma visão mais clara de como funciona a economia e as relações entre as inúmeras variáveis

As conjunturais classificam-se no nicho das condições climáticas. Preços que sobem em decorrência de chuvas ou de seca em excesso. Isso atingiu muitas commodities no ano passado. O grupo alimentação sofreu aumento de preços na faixa de 10,02% em 2012 contra 5,41% em 2011, por exemplo. E não se espera que se repita este ano variação tão alta quanto a do ano passado.

Também no campo dos efeitos conjunturais está a crise que afeta internacionalmente os mercados em geral e que ajuda a achatar os preços pela baixa demanda dos Estados Unidos e Europa. Quanto tempo mais vai durar essa situação é difícil de prever, mas fica patente que o governo brasileiro não pode confiar indefinidamente nos benefícios que a conjuntura internacional propicia à formação dos preços internos.

No rol das explicações estruturais para a elevação da inflação está o aumento da demanda decorrente da melhoria de renda das classes mais baixas. Isso atinge inexoravelmente os preços dos serviços em geral e veio para ficar.

"A reestruturação da renda na economia mudou o patamar de preços dos serviços e essa transformação transparece nos indicadores do enorme contingente de pessoas que saiu da informalidade e de atividades como cabeleireiro, manicure e empregada doméstica para o emprego formal", observou para a coluna o economista Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-RJ e especialista na análise da formação dos preços. Ele complementa: "Aquele movimento afeta para mais os preços dos serviços que eram oferecidos pelas atividades menos formais e também pressiona para mais outros tipos de serviços que passam a ser demandados pelo contingente que mudou de patamar de renda".

Os deslocamentos da curva de demanda e da curva de oferta de serviços no país explica o aumento de preços e prenuncia que, mantido o atual nível de renda da chamada nova classe C e até que a oferta se ajuste à realidade, a inflação naquele segmento tende a manter-se elevada. Luiz Roberto lembra que os preços do segmento serviços do IPCA têm subido entre 8% e 9% ao ano e devem manter o mesmo ritmo este ano, oscilando entre 7,5% e 8%.

"Esse é o preço que a sociedade brasileira tem de pagar para ter essa mudança estrutural da renda que, aliás, chega ao Brasil com mais de um século de defasagem se consideramos outros países, como a Inglaterra", acredita ele.

Para 2013, as projeções são incertas. Manobras que adiam reajustes nos preços da gasolina e dos transportes urbanos, assim como a manipulação da incidência de impostos que afetam os preços, criam uma armadilha para o governo e dificultam os planos dos empresários. As perspectivas não são, porém, animadoras. Luiz Roberto estima o IPCA-15 deste mês entre 0,80% e 0,85%, podendo alcançar a faixa de 0,75% a 0,80% para janeiro. Tende a cair bastante em fevereiro com o impacto da redução do preço da energia elétrica, compensando parte do aumento estimado para a gasolina, mas isso não trará grande alívio no curto prazo. Ele estima IPCA ao redor de 1,65% no primeiro trimestre (contra 1,22% em 2012), desconsiderando o aumento do transporte urbano no Rio e em São Paulo, adiado para mais adiante. Para o ano, supondo alívio dos alimentos, o IPCA chegaria de novo perto dos 6%, confirmando perigosa tendência. Em 2012, foi de 5,85%.

A questão é como fazer a inflação voltar para a marca de 4,5% que o governo definiu como o centro da meta e que, diga-se, é um nível já alto para padrões internacionais? Com certeza, não será com medidas de intervenção, do tipo tapa buracos, que apenas postergam a variação dos preços com péssimo efeito sobre as expectativas.

Têm-se a impressão de que falta ao governo uma visão mais clara de como funciona a economia e as relações entre as inúmeras variáveis. Taxa de juros mais baixa, uma corajosa iniciativa do governo, pode ter implicações complicadas quando há insuficiência na oferta de bens e serviços para uma demanda expandida. Um dólar mais valorizado pode ajudar nas contas externas, mas pressiona internamente os preços dos bens duráveis e semi-duráveis. Um planejamento mais abrangente talvez ajudasse!


O novo poder - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 17/01


A combinação Calheiros-Alves-Cunha ditará destinos das medidas da presidente na Câmara e no Senado


A presidente Dilma Rousseff está sendo cercada por uma armadilha que comprometerá o seu poder de decisão nos dois anos restantes do mandato. Esse é o sentido da montagem dos novos comandos do Senado, da Câmara e da decisiva bancada de deputados do PMDB.

As revelações de ilegalidades, irregularidades e suspeitas (a variedade é mesmo grande) acumulam-se sobre os favoritíssimos candidatos a presidir o Senado e a Câmara.

Renan Calheiros, forçado a renunciar ao mandato em 2007 para evitar a cassação por improbidade, falsidade ideológica e outras características de sua atividade, reelegeu-se para continuar como um dos principais idealizadores e condutores, ou o principal, de tudo o que é reprovável no Senado.

Seu provável comando administrativo e político da Casa não admite a expectativa de coisa alguma diferente do que se conhece.

Quase desconhecido fora do Rio Grande do Norte e de parte do Nordeste (o mar ficou incólume), apesar das suas quatro décadas de parlamentar, Henrique Eduardo Alves é o típico peemedebista do PMDB de Calheiros & cia.: a política não é uma prática de conceitos doutrinários e de princípios, é um jogo de interesses fisiológicos e nada mais.

Daí que tanto esteve a favor como agiu contra Fernando Henrique, Lula e Dilma, ainda que integrando a "base aliada" dos três e disso tirando os múltiplos proveitos possíveis. São essas as suas credenciais para a presidência da Câmara.

Eduardo Cunha é, provavelmente, o mais original dos deputados. Neófito em Brasília, entrou no meio político com a sem-cerimônia e a audácia das chamadas velhas raposas. É presença permanente em transações cercadas de suspeitas.

Poucas pessoas podem ser tratadas com tanto cuidado pela frente e tão mal referidas pelas costas.

Explica-se: Eduardo Cunha é uma figura temida, pela certeza de que seus revides são adaptações da política feita ao tempo dos punhais, agudos e impressentidos.

Foi dado, por exemplo, como o controlador de um sistema de escutas telefônicas clandestinas que instabilizou a raia graúda do Rio durante anos. Não há indicação de que o sistema esteja extinto.

Há pouco, confusos negócios em torno da ex-refinaria Peixoto de Castro sofreram forte bombardeio do governador Sérgio Cabral, porque se trataria de uma transação de Eduardo Cunha, seu adversário. De repente, assunto encerrado. Como, por quê, não se sabe.

Agora, Cabral e o prefeito Eduardo Paes, subitamente, se saem com o único caso de apoio público a Eduardo Cunha, o inimigo, para líder do PMDB na Câmara.

Eduardo Cunha é cria de Paulo Cesar Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então Telerj, telefônica do Rio.

Eleitos esses três, o Congresso estará absolutamente sob controle do PMDB. Do PMDB dos três, ao qual muitos poucos peemedebistas cometerão a exceção de continuar alheios. E se assim será com o Congresso, assim será do Congresso com o governo.

A combinação Calheiros-Alves-Cunha ditará as condições e os destinos das medidas e necessidades da presidente da República na Câmara e no Senado.

Dilma Rousseff apoia as eleições de Renan Calheiros e de Henrique Alves, e parece apenas neutra quanto à de Eduardo Cunha.

Ueba! Tem biblioteca no 'BBB'! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 17/01


Uma foto do Rio: uma rua alagada, um carro boiando e o slogan do Paes: SOMOS UM RIO! O Rio virou um rio!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Sudeste vira Chuveste! Acabo de receber uma foto do Rio: uma rua alagada, um carro boiando e o slogan do Paes: SOMOS UM RIO! O Rio virou um rio!

E uma amiga carioca disse que vai trocar o Corsa por uma gôndola! E com um gondoleiro bem dotado!

Atenção! BOMBA! Tem biblioteca na casa do "BBB"! Quando eu vi, quase desmaiei! Deve ser o quarto do castigo!

Por isso que o Bambam saiu! Quando viu a biblioteca foi direto pro confessionário! Rarará! A biblioteca é cenográfica, mas machuca!

E acabo de ouvir aqui no prédio um grito lancinante, desesperado, "AAAIIIIII"! Era o meu vizinho recebendo o IPVA! E agora vamos ter IPVA pra carrinho de supermercado, carrinho de bebê, rolimã, skate e sandália Havaianas! Taí um imposto que eu pagava sem reclamar: IPVA sobre sola de sandália Havaianas!

E o mês de janeiro é a maior prova que Cristo é brasileiro: vivia fazendo milagres, andava sem dinheiro e se ferrava na mão do governo!

Janeiro é mês de realities: "BBB" e "Mulheres Ricas"! Ops, Bizarras! Mulheres Bizarras. O que elas tomam pra ficar tão loucas daquele jeito? Champanhe tarja preta. Champanhe com Gardenal!

Aliás, essas ricas tão mais pra sidra do que pra champanhe! E um amigo disse que, depois que viu aquelas mulheres ricas, não acha mais a Suzana Vieira estranha. Eu continuo achando. Rarará!

E humor negro de direita: a Venezuela é governada por um morto, Cuba é governada pelo irmão do morto. E a Argentina é governada pela mulher do morto! Rarará!

E dia 15 foi o Dia do Compositor. E o site Kibeloco fez uma homenagem singela aos novos compositores brasileiros: Bará Berê Bará Berê Tchê Tchererê Tchê Tchê Tchu Tchá Tchá Tchu Tchu Tchá!

Mas como diz um amigo: pra quê letra? Letra é pra Bob Dylan. Letra a gente deixa pro Bob Dylan! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasileiro é Cordial! Olha esta placa em Andrelândia, Minas: "Proibido tocar nos ninhos de pássaros. Sujeito a levar paulada". Rarará!

E esta em Cachoeiro de Itapemirim: "Quem jogar lixo aqui tem mãe na zona". Ueba! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!


É a economia… - SONIA RACY


O ESTADO DE SP - 17/01


Dilma e Lula devem almoçar, dia 25, aproveitando a vinda dela a São Paulo para o aniversário de 459 anos da cidade.

Se o ex-presidente repetir o que tem dito a empresários e banqueiros que o procuram, afirmará à sua interlocutora estar preocupado com o andar da carruagem da economia brasileira em 2013.

E mais: ressaltará que, para ele, o nível e a intensidade das reclamações feitas pela iniciativa privada ultrapassaram a normalidade. Quando alguns empresários choram, tudo bem. Mas, segundo Lula, quando todos começam a chorar, há algo de errado no horizonte.

Agendado
Dentro da leva de conversas que vem mantendo com empresários, Dilma recebe Emilio Botín, do Santander, dia 22.

Mãos à obra
Alckmin reuniu seu secretariado e definiu a meta: quer R$ 20 bilhões em PPPs assinadas ainda este ano.

Entre os projetos escolhidos, o trem regional – menina dos olhos do governador. Mais 4 hospitais, 7 piscinões e a implantação de educação interativa na rede de ensino.

Na telinha
E, a dois anos da eleição, a ordem é colocar Alckmin na TV. Mais precisamente, nas bancadas dos telejornais das cidades que visita.

O tucano já aderiu à ideia. Nos últimos dias, esteve nos estúdios do Jornal Tribuna, da afiliada da TV Globo na Baixada Santista, e também no Jornal da EPTV, de Campinas.


Fôlego
Em apenas três dias no comando do STF, Ricardo Lewandowski recebeu cem processos para julgar – a maioria habeas corpus e pedidos de liminar. Substitui Joaquim Barbosa até o fim do mês.

Para todos
De carona na polêmica da concessão de passaportes diplomáticos a líderes evangélicos, Jean Wyllys iniciou campanha para que a ialorixá Stella de Oxóssi também receba o documento. “Afinal, ela representa uma religião, ou não?”, questiona o deputado.

I have a dream
Ana Serra deixou a presidência da agência Age e o mercado publicitário, onde atua há 30 anos. Em seu lugar, assume Carlos Domingos.

O que vai fazer? “Começar outro sonho”, diz, misteriosa.

Barack Muniz
A convite da revista Time, Vik Muniz criou obra representando o rosto de… Obama. A colagem foi feita com recortes de antigas edições da publicação.

Pronta desde dezembro, ainda não foi exposta ao público.

Polêmica
Valéria Rios resolveu tirar do ar o site Viajando com Filhos e abandonar o Facebook – depois de ser hostilizada por publicar post com “orientações” de como tratar a sua babá.

Exemplo? Levá-la a um fast food antes de a família comer em… um restaurante caro.

Com arroz e feijão

Camilla Belle veio de Hollywood a convite da Bobstore. A atriz, filha de mãe brasileira, afirmou adorar novelas e expressou o desejo de passar o carnaval no Rio.

Você se identifica com os costumes brasileiros?

Fui criada em uma casa com música brasileira, novela, arroz e feijão toda semana.

Viu Avenida Brasil?

Todos os dias (risos).

Tem residência no Brasil?

Ainda não, mas estou querendo comprar uma casa no Rio.

Como foi fazer O Mundo de Jack e Rose, aos 16 anos, com Daniel Day-Lewis?

Aquele papel me mostrou que atuar não era mais uma diversão de criança. Havia se tornado minha paixão.

Que filme mais te marcou?

10.000 a.C. Passamos seis meses na Nova Zelândia, na África… Vi coisas que jamais teria visto se não estivesse fazendo o filme.

Como foi trabalhar com elenco brasileiro em À Deriva, do diretor Heitor Dhalia?

Amei atuar com a Débora Bloch, o Cauã Reymond. Sempre falo que os atores brasileiros são muito talentosos.

Gostaria de trabalhar com algum diretor em particular?

Fernando Meirelles, Mauro Lima… Admiro os cineastas latinos, pois correm mais riscos, são mais criativos.

Vai à festa do Oscar?

Oscar? Não! Quero estar aqui, curtindo o carnaval (risos).

Quais seus próximos projetos?

Em fevereiro, estreia Open Road, do Márcio Garcia. Com Andy Garcia, Christiane Torloni e Carol Castro no elenco.

Tem vontade de fazer algum papel em especial?

Atuar em um musical. Também adoro filmes de época.


MEUS BENS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 17/01


A Anatel não registrou ainda o recebimento dos documentos da Oi que comprovariam que três imóveis vendidos pela companhia não faziam parte do rol de bens reversíveis, aqueles que devem voltar à posse da União ao final da concessão. Em 12 de dezembro, os prédios, no Rio, foram vendidos por R$ 299,7 milhões. A agência deu prazo de dez dias para a operadora se justificar, sob pena de multa de até R$ 50 milhões.

MEUS BENS 2
Procurada pela coluna, a Oi soltou comunicado, direcionado também aos acionistas, no qual declara que "apresentou previamente à Anatel todos os elementos que permitem a aferição da adequação da venda de tais imóveis". A Anatel diz, no entanto, que o caso ainda se encontra em análise. "Está em tramitação a anuência prévia para a alienação dos bens interposta pela Oi."

MEUS BENS 3
Membro do Conselho Consultivo da Anatel até 2009, a advogada Flávia Lefèvre, diz que a "Oi vendeu sem poder vender. Não houve autorização prévia, conforme diz a lei". Em nome da ProTeste, associação de defesa dos consumidores, solicitou à agência medidas para evitar a perda dos bens.

"Pelo menos um dos prédios vendidos pela Oi deve voltar à posse da União ao final dos contratos", afirma.

TRÊS VEZES
A meta do PTB é quase triplicar a bancada de deputados federais em 2014: passar dos atuais 18 para 50, diz o presidente da sigla em SP, deputado Campos Machado. Ele também defende alinhamento a Geraldo Alckmin em 2014 -e candidato próprio ao Bandeirantes em 2018. A estratégia será discutida com mais 26 presidentes estaduais do PTB, após o Carnaval.

TRATAMENTO
Roberto Jefferson, réu condenado no mensalão e presidente licenciado do PTB, terá sessões de quimioterapia até abril. Ele trata de um câncer no pâncreas descoberto na véspera do julgamento no Supremo Tribunal Federal.

AGORA VAI
O Acadêmicos do Baixo Augusta está "em negociação avançada" com a prefeitura para desfilar em 3 de fevereiro, diz o presidente do bloco, Alê Youssef. Em 2012, a agremiação ficou parada, sem seguir com o cortejo. "Não conseguimos qualquer autorização municipal." O bloco tem Pitty como madrinha, Wilson Simoninha de puxador e Marcelo Rubens Paiva é porta-estandarte.

MÊS DE REIS
A árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, ainda não foi desmontada. O Bradesco, que patrocina o enfeite, diz que a retirada está dentro do cronograma e deve terminar até fevereiro. A tradição manda desmontar os enfeites no Dia de Reis, 6 de janeiro.

A NOITE É UMA CRIANÇA
O cantor Nasi, ex-Ira!, estreia um programa no Canal Brasil, em maio. "Nasi Noite Adentro" será exibido nas madrugadas de sábado e terá como tema lugares e pessoas da noite em diferentes cidades. Erasmo Carlos será o primeiro entrevistado nas gravações em fevereiro.

O Tremendão visitará uma hamburgueria na rua Augusta, em SP, e comentará as mudanças na via paulistana nos últimos 40 anos.

NINGUÉM VIU
"Expedicionários", de Otavio Cury, foi o filme brasileiro menos visto entre os 83 lançados em 2012. Teve 104 espectadores e rendeu R$ 546,50. Está em 73º no ranking do informe de acompanhamento de mercado divulgado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), na última segunda-feira. Dez longas não forneceram dados de bilheteria.

CURTO-CIRCUITO
A peça "São Manuel Bueno, Mártir" estreia hoje no Espaço Sobrevento. 16.

A Leroy Merlin lança hoje campanha assinada por Andrucha Waddington.

O espetáculo "Comida dos Astros" reestreia hoje no teatro Itália. Livre.

Frederico Mendonça autografa hoje o livro "Avaliação de Imóveis", em Cuernavaca, no México.

O "espírito animal" - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 17/01


Há algum tempo se discute no país o que é preciso fazer para despertar o "espírito animal" do investidor para que voltemos a crescer. O termo é de John Maynard Keynes em "A teoria geral do emprego, do juro e da moeda" (1936). Quando fala das expectativas de longo prazo, ele escreve que a hora certa para investir se dá quando o "espírito animal", tipo especial de confiança, sobrepõe-se a cálculos matemáticos. "Isso acontece quando o receio do prejuízo, que volta e meia acomete os pioneiros, é colocado de lado como um homem saudável esquece a expectativa da morte".

Esse "otimismo espontâneo" geraria uma inclinação natural "para a ação, em vez da inação", fazendo a "engrenagem" da economia girar. A presidente Dilma tem chamado para conversas privadas ou coletivas os mais importantes empresários brasileiros, numa demonstração de que afinal compreendeu que precisa se comunicar diretamente com eles para dissipar eventuais dúvidas que os fazem recalcitrantes diante da possibilidade de ampliar investimentos no Brasil.

Esse "espírito animal" que o governo pretende despertar depende, no entanto, muito mais de atitudes concretas do que de conversas. A economia este ano será crucial para as pretensões da presidente Dilma de se reeleger, não apenas para viabilizá-la junto ao eleitorado como para desmobilizar movimentos internos no PT e na base aliada para a volta de Lula, que parecia fora das cogitações do ex-presidente, mas passou a ser um dado fundamental do xadrez político a partir do momento em que Lula viu-se acuado por uma série de denúncias, existindo a possibilidade de que venha a ser investigado sobre o mensalão.

Para reagir ao que considera uma campanha de desconstrução de sua imagem, Lula começou a sugerir uma possível volta ao cenário eleitoral, para alimentar uma expectativa de poder que o fortalece e protege de ameaças. Lula pretende sair pelo país em viagens para enfrentar a tal campanha diante do povo, e a ala petista descontente com a gestão da presidente Dilma, assim como políticos de diversas tendências abrigados na aliança governamental, também se anima com essa possibilidade, pois Lula sempre teve uma relação com os políticos mais próxima do que a presidente Dilma.

As políticas assistencialistas do governo certamente são a base de sua popularidade, mas talvez essa imagem de distância do mundo político permita que ela seja tão popular mesmo sem ser nada carismática. Já o carisma de Lula o mantém altamente popular mesmo com a revelação constante de sua leniência com políticos de todas as tendências.

Exatamente porque a economia será uma definidora fundamental das chances de reeleição da presidente Dilma, os políticos começam a abrir os olhos para o que está ocorrendo nessa área, e outro tipo de "espírito animal" começa a se manifestar: o que faz com que procurem com lupa sinais que identifiquem as reais possibilidades de cada potencial candidato à Presidência em 2014.

Esse "espírito animal" faz com que seja pule de dez o apoio à reeleição de Dilma se a economia se recuperar nestes dois anos, mesmo que não venha nenhum "pibão".

Mas o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, está sendo identificado como uma peça fundamental nesse jogo, e sua habilidade política de se manter na base aliada "até 2013", deixando aberta a possibilidade de candidatura própria, tem chamado a atenção de seus pares. A candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) ainda não se inclui na lista das possibilidades reais, pela fragilidade da oposição e pelos problemas tucanos internos. Mas a capacidade de Aécio de formar alianças faz com que ele não seja desprezado nessa corrida, ainda mais se a situação econômica corroer a imagem da presidente. A presença de Marina Silva e seu novo partido no páreo é outro elemento importante nas análises, e não escapa aos políticos a possibilidade real de um grande acordo oposicionista, em eventual segundo turno, unindo esses três candidatos.

O que não foi possível em 2010 porque no segundo turno a alma petista de Marina acabou rejeitando um acordo com o tucano José Serra que poderia levá-lo a vencer Dilma. A eleição de 2014 começa a ser jogada este ano e está nas mãos do "espírito animal" dos investidores e dos políticos.

Combustível político - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 17/01


Interessante um encontro entre o vice-presidente da República, Michel Temer, e a presidente da Petrobras, Graça Foster. Mais impressionante ainda é o fato de Temer discutir gás e ingressar numa área que até aqui era estritamente discutida com a presidente Dilma Rousseff. Pelo menos, essa foi a versão oficial do encontro entre os dois, ontem, com ambos garantindo ao final que não há risco de desabastecimento de gás no país. O problema é que ninguém acreditou que tenha sido apenas esse o motivo do encontro.

Graça foi até Michel Temer por ordem da presidente Dilma Rousseff. Busca um canal político. Ela sabe que o ano não será fácil para a Petrobras no parlamento. Todos os dias há um pronunciamento com reclamações sobre o aparelhamento da empresa, a queda do valor das ações na Bolsa e falta de recursos para atender a todos os investimentos. Lá, onde a Petrobras é criticada não só pela oposição como também pela base governista, Michel é rei. Ele e o presidente do Senado, José Sarney, são tidos como os únicos que ainda conseguem ter uma certa ascendência não apenas sobre o PMDB, como também sobre outros partidos. Embora nem sempre tenham sucesso, são ouvidos pelos seus pares.

A Petrobras, este ano, precisará de todo o apoio político que puder agregar para não ficar a toda hora exposta a audiências no Congresso e sendo alvo de críticas que repercutem fora do Brasil. Vem aí aumento no preço dos combustíveis, em data ainda a ser definida, depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltar das férias. Tem ainda uma série de obras que a Petrobras simplesmente não conseguirá entregar em tempo eleitoral, e outras que adiou porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. As refinarias prometidas ainda no governo Lula para entrarem em funcionamento no fim do governo Dilma continuam se arrastando.

As refinarias e o aumento dos preços não são as únicas questões ligadas à Petrobras que rondam os sonhos e pesadelos dos políticos. Os cargos por ali interessam — e muito. O PMDB tem a Transpetro nas mãos do ex-senador Sérgio Machado que, volta e meia, entra em conflito com a poderosa Graça Foster. A Diretoria Internacional da empresa, que já foi do lote peemedebista sob o comando de Jorge Zelada, hoje é exercida pela própria Foster. Os peemedebisas estão inconformados com a demora em nomear suas indicações. A próxima reunião ordinária do Conselho Deliberativo da estatal, que promove a nomeação de diretores, será em 4 de fevereiro, data da eleição do futuro presidente da Câmara.

Diante de um portfólio político tão vasto, nenhum deputado acredita que Graça tenha se reunido com Temer apenas para fazer um balanço da produção de gás. A especulação, no fim do dia, era a de que teriam tratado de possíveis indicações do PMDB para a Diretoria Internacional. Afinal, todos sabem que o PMDB deseja manter uma participação na empresa, ainda que minoritária. Também é sabido que, se o partido quiser manter esse cargo, terá que ser sob as bênçãos da presidente da Petrobras. Por isso, ela e Temer foram afinar os ponteiros, o que não significa nomeações já.

Enquanto isso, na sala da Justiça…

A decisão do presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, de negar o pedido dos parlamentares do Espírito Santo, que queriam evitar a votação dos 3 mil vetos, tira de foco uma disputa entre os Poderes da República, mas não resolve o problema. Esse será o primeiro desafio do futuro presidente do Senado, a ser escolhido em 1º de fevereiro.

Por falar em Senado…

A semana política se abriu com o candidato a presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) dando explicações sobre seus assessores e emendas parlamentares, e se fecha com o candidato a comandante do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), que está na mesma situação de seu colega da Câmara. Para muitos, essas nuvens vão se dissipar na semana anterior ao carnaval, temporada da eleição.

Mas nada é tão simples assim. Até esta semana, Renan não teria adversários. Surgiram dois. Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Pedro Taques (PDT-MT), que vão se unir se o pedetista obtiver o apoio do PSDB — partido que, em abril de 1998, acolheu Renan de bom grado como ministro da Justiça. Renan ajudou recentemente o PSDB na CPI que investigou as relações perigosas de Carlos Cachoeira. Portanto, é bem possível que o PSDB apoie Taques de público, mas não lhe entregue todos os votos na eleição secreta. Mas essa é outra história.


Quem dá mais? - FÁBIO ZAMBELI - PAINEL


FOLHA DE SP - 17/01


O Ministério da Casa Civil apronta a formatação do "road show" em que apresentará as condições financeiras para atração de investidores estrangeiros que se habilitem a assumir os carros-chefe da infraestrutura do país, sobretudo obras de aeroportos, portos, rodovias e ferrovias. Sob o comando de Bernardo Figueiredo (EPL) e com a anuência do BNDES, a turnê deve ser lançada em São Paulo, antes do Carnaval, e segue depois para Nova York, Tóquio e capitais europeias.

Show do bilhão Gleisi Hoffmann conduz as tratativas finais com Figueiredo desde semana passada. Nos cálculos do governo, são esperados R$ 133 bilhões em investimentos em 20 anos.

Segunda... Michel Temer e Dilma Rousseff acertaram os detalhes da reunião da Comissão de Alto Nível Brasil-Rússia, prevista para o dia 20 de fevereiro. A agenda havia sido pedida pelo primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev durante a Rio+20

... tentativa O vice tentará reverter o embargo à carne brasileira na Rússia. Em dezembro passado, a presidente não avançou na primeira negociação com o colega Vladimir Putin, em Moscou.

Neoaliado No périplo que fará ao Nordeste a partir de amanhã, Dilma contemplará quatro Estados dirigidos pelo PSB (Piauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco) e um pelo PSDB (Alagoas). Teotônio Vilela foi o único tucano na "caravana solidária" a Lula no ápice do Rosegate.

Penetra 1 Aliados de Eduardo Cunha (RJ) afirmam que Sandro Mabel (GO), rival na disputa pela liderança do PMDB na Câmara, tenta há uma semana reunião com Sérgio Cabral, sem sucesso.

Penetra 2 Para cortejar o governador do Rio, que apoia Cunha, o deputado goiano aparecerá em evento organizado na capital do Estado para Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), candidato favorito à presidência da Casa.

Alto risco Interlocutores do Planalto consideram "delicada" a permanência de Geddel Vieira Lima na Caixa Federal, pois Dilma quer integrantes do governo longe das disputas no Congresso. O dirigente do banco faz campanha ostensiva para Cunha.

Coaching Durante a reunião de ontem com Fernando Haddad e secretários do PT, Lula foi enfático ao defender que a prefeitura dê prioridade a programas específicos para moradores de rua. O ex-presidente acha que essa pode ser uma marca da gestão de seu afilhado político.

Sempre ela Para inspirar haddadistas, Lula mencionou projetos da gestão Marta Suplicy (2001-04), como o corte de cabelo gratuito.

Guru João Carlos Meirelles, conselheiro de Geraldo Alckmin na campanha presidencial de 2006, retorna ao Bandeirantes. Será assessor especial do governador.

Faxina Em manifesto a ser entregue hoje a Haddad, a Rede Nossa São Paulo cobrará do prefeito ações articuladas com o Estado e a União para combater a corrupção policial como medida de curto prazo contra a violência. O texto fala em "situação de guerra civil" na capital.

Pedágio urbano De um deputado, sobre as denúncias envolvendo as frotas do Legislativo e do Judiciário. "E ainda tem gente que não sabe o motivo de tanto congestionamento em São Paulo".

Visita à Folha Herman Voorwald, secretário de Educação do Estado de São Paulo, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com João Cardoso Palma Filho, secretário-adjunto, Fernando Padula, chefe de gabinete, e Maurício Tuffani, assessor de comunicação.

com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA

tiroteio
Foi, sem dúvida, uma estreia em grande estilo. Haddad agora precisa tomar cuidado para não se tornar o subprefeito de Lula.

DO VEREADOR ANDREA MATARAZZO (PSDB), sobre a reunião do ex-presidente com o prefeito e dez secretários, ontem, na sede do governo paulistano.

contraponto


Bairrismo no palanque

Vice-presidente da Comissão de Educação do Senado, Paulo Bauer (PSDB-SC) conversava durante sessão no ano passado com Ana Moser, ex-atleta da seleção brasileira de vôlei que, assim como ele, nasceu em Blumenau. Foi quando chegou Vanessa Grazziotin, também catarinense, mas eleita pelo PC do B do Amazonas. Ao tietar a atleta, relatou que Bauer foi a Manaus pedir votos para o tucano Artur Neto, seu rival na disputa pela prefeitura:

-No discurso, ele pedia para o povo votar no meu adversário para me deixar aqui no Senado. Assim, Santa Catarina contaria com mais uma representante!

O candidato dos verdes - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 17/01


O ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) será a grande estrela do programa do PV hoje, em rede nacional, na TV. Gabeira vai anunciar que seu nome está à disposição para disputar as eleições presidenciais de 2014. No mês que vem, o partido voltará a dar visibilidade a Gabeira em inserções comerciais na TV. Os verdes decidiram lutar por seu patrimônio político, ameaçado pela avulsa Marina Silva.

Temer tranquiliza Dilma
A presidente Dilma e o vice Michel Temer conversaram, na segunda-feira, sobre a liderança do PMDB na Câmara. Dilma estava preocupada com o apoio do PMDB. Temer, segundo um relato, foi taxativo: "Fique despreocupada. Ganhe quem ganhar, todos têm compromisso com o governo. Não haverá problema." O vice relatou ter conversado com os candidatos Eduardo Cunha (RJ), Osmar Terra (RS) e Sandro Mabel (GO), e ressaltou sobre o favorito: "Mesmo o Eduardo Cunha. Consultei a planilha de votações, e ele votou todas com o governo. No caso da MP da Energia, que ele tinha forte posição contrária, ele veio e me disse que votaria com o governo."

“Tenho certeza disso (os candidatos a líder o PMDB têm compromisso de apoiar o governo Dilma)”
Michel Temer 
Vice-presidente da República, respondendo a indagação da presidente Dilma

O espantalho tucano
PMDB e PT de Minas Gerais se uniram para ampliar seus espaços no governo Dilma. O estado só tem um ministro, Fernando Pimentel (Desenvolvimento). Dizem que, desse jeito, os mineiros votarão em peso em Aécio Neves.

Junta médica
O ex-presidente Lula vai dar início à 3ª edição da Caravana da Cidadania entre março e abril. Está traçando o roteiro que deve começar por estados do Nordeste. Ele não vai passar por todas as capitais, mas, seguramente, por todas as regiões do país. E vai levar a tiracolo médicos para se certificar de que está tudo em dia com a saúde.

Na marra
O Ministério da Saúde está pedindo na Justiça a devolução de cerca de 300 ambulâncias que não estão sendo utilizadas pelas prefeituras país afora. Com isso, o governo irá redistribuí-las para cidades que estejam realmente interessadas.

Repactuação
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, volta dos Emirados Árabes dia 25. No dia seguinte, irá a Salvador conversar com o vice-governador, Otto Alencar, que tem reclamado de estar sendo desprezado pelo partido. Kassab procura reverter o descontentamento garantindo que ele será candidato ao governo da Bahia, mesmo que isso custe romper a aliança com o PT.

Para garantir
O presidente em exercício do STF, Ricardo Lewandowski, mandou prender o torturador argentino Cesar Enciso. Ele já está preso a pedido da Itália. Mas, para garantir que não fosse libertado, o ministro atendeu a pedido da Argentina.

Sem conversa
O tucano Geraldo Alckmin (SP) tem procurado líderes do PSD, a cada dia mais distante de seu governo, propondo reaproximação. Mas a sigla não quer conversa. Alega que tudo o que é combinado com Alckmin não é cumprido.

OS GOVERNADORES Confúncio Moura (RO) e Silval Barbosa (MT) também decidiram apoiar Eduardo Cunha (RJ) para líder do PMDB, depois de gestões feitas pelo governador Sérgio Cabral (RJ).

O bode Galeguinho - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 17/01


BRASÍLIA - Vamos ver se a gente está entendendo tudo direitinho. O favorito à presidência da Câmara, Henrique Alves, apresenta emendas parlamentares, o dinheiro é liberado pelo governo, chega à prefeitura e volta feito bumerangue para o gabinete do próprio Henrique, via empreiteira de um assessor?

E a tal "empreiteira" tem contratos de R$ 6 milhões com 20 municípios do Estado do deputado, o Rio Grande do Norte, mas funciona numa casinha praticamente vazia, protegida pelo simpático bode Galeguinho?

Essas reportagens de Leandro Colon, aqui na Folha, não são sobre a disputa pelas presidências de um Poder, um pilar da democracia. São, sim, sobre uma realidade tipicamente brasileira, em que público e privado se embolam num palco mais policial do que político. Isso é Brasil!

O curioso é que tanto Henrique Alves quanto o favorito à presidência no Senado, Renan Calheiros (AL), sabiam perfeitamente que entrar em campanha seria sair do conforto para a guerra. Uma coisa é ser mais um no meio da multidão de 513 deputados ou de 81 senadores. Outra, bem diferente, é disputar a presidência e virar alvo. Era óbvio que os, digamos, "podres" iriam aparecer.

Isso anima candidatos alternativos, como Júlio Delgado (PSB-MG) na Câmara e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) no Senado. As chances são muito pequenas, mas eles se oferecem como voto de repúdio. Será que não há uma parcela de indignados e independentes no Congresso?

Renan e Henrique têm o seu partido, o PMDB, e mais o PT, o Planalto, a base aliada e parte da oposição, a começar do PSDB. É uma folgada maioria, mas minorias também têm seu valor. Precisam ser quantificadas nas eleições de fevereiro.

O risco dos favoritos é assumir as presidências enfraquecidos, acossados pelos aliados e com a imprensa nos calcanhares, exibindo os bodes, galeguinhos ou não, que enxovalham a imagem do Congresso.

Desafio de arrumar a federação em um ano - RAQUEL ULHÔA


VALOR ECONÔMICO - 17/01

O principal desafio do Congresso em 2013 será votar uma pauta - carregada e urgente - de propostas relativas às questões federativas. São temas de dificílimo consenso, que dividem as bancadas do Congresso mais pelos interesses estaduais e regionais que partidários.
Perder a chance de buscar repactuação federativa em 2013, ano livre da tensão dos períodos eleitorais, será mais um grande fracasso do Legislativo. O próximo ano será consumido por sucessão presidencial e eleições de governadores, deputados (estaduais e federais) e senadores. Possibilidade zero de consenso.

Sob pressão de governadores e prefeitos, que precisam de dinheiro para investimentos, e num cenário de judicialização cada vez maior nas relações entre os Estados e insegurança jurídica dos investidores, deputados e senadores terão de enfrentar o assunto tão logo assumam os trabalhos, em fevereiro.

Congresso enfrenta pauta federativa carregada

Ao estoque de problemas pendentes de 2012, como o impasse em torno da divisão dos recursos arrecadados com a exploração de petróleo e a indefinição sobre novo critério de rateio do Fundo de Participação dos Estados (FPE), somou-se o pacote enviado pela presidente Dilma Rousseff no fim de dezembro, para acabar com a guerra fiscal praticada entre os Estados.

Acusada pelos próprios aliados de omissão no imbróglio dos royalties do petróleo, que ficou fora de controle e teve um desfecho patético em 2012, a presidente desta vez tomou a iniciativa de encaminhar propostas ao Congresso, supostamente resultantes de entendimentos feitos no Confaz.

Mas, mesmo antes de começar a tramitar, o pacote de Dilma causa polêmica. Representantes de Estados mais desenvolvidos queixam-se de que, no conjunto, as propostas beneficiam as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e estimulam uma "corrida" pela concessão de benefícios em 2013, já que esses serão convalidados.

Foram enviados um projeto de lei complementar que modifica o indexador da dívida dos Estados e municípios com a União e flexibiliza pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e uma medida provisória que prevê compensação aos Estados por perdas resultantes da unificação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), medida que visa acabar com a guerra fiscal.

O governo de São Paulo diz que as propostas do governo descumprem alguns acordos feito no Confaz, como a quebra da unanimidade em certas decisões e fixação de um prazo maior do que o combinado para a unificação do ICMS. Um ponto que surpreendeu até mesmo aliados de Dilma no Congresso que participaram dos entendimentos é a mudança na LRF.

Uma interpretação é que o governo está possibilitando uma brecha para outras flexibilizações na lei, atendendo a pleitos de Estados que se sentem engessados pela norma. O objetivo seria facilitar a negociação da redução do ICMS e, consequentemente, do fim da guerra fiscal.

Um problema apontado por parlamentares é que a MP - que tem força de lei assim que editada, mas pode perder a validade se não for votada em, no máximo, 120 dias - está atrelada à aprovação de uma resolução do Senado que fixa prazos da redução das alíquotas do ICMS. Ocorre que essa resolução tem de ser iniciativa do Senado e, embora ela não esteja formalizada, o conteúdo pretendido pelo governo está detalhado no corpo da MP.

Para alguns, reproduzir na MP uma resolução inexistente seria uma forma de coagir o Senado a não mudar o texto.

Quem deve assumir a autoria do projeto de resolução é o senador Delcídio Amaral (PT-MS), frequente interlocutor da equipe econômica, que deixa a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado em fevereiro. O comando da comissão, pela qual passam todos os temas econômicos de interesse dos Estados, será do também petista Lindbergh Farias (RJ), que, no recesso, está se preparando para conduzir as negociações da pauta federativa.

No Senado, São Paulo, Paraná e demais Estados das regiões mais desenvolvidas levam desvantagem. Cada um dos 27 Estados tem o mesmo número de senadores (três) e a maioria está nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Representantes das regiões Sul e Sudeste admitem que é na Câmara, onde as bancadas são proporcionais à população, que têm votos para defender seus interesses.

Alguns apostam numa discussão casada durante a tramitação das propostas, possibilitando barganha de interesses. Um exemplo é o projeto de lei complementar, que começa a tramitar na Câmara, mas também passa pelo Senado. Alguns Estados têm a intenção de tentar reduzir o limite atual do comprometimento da receita com pagamento da dívida com a União. Esse ponto poderá ser usado pelos envolvidos como moeda de troca na discussão de outros temas, como critérios do FPE e unificação do ICMS.

A MP que cria fundos de compensação pelas perdas com o fim da guerra fiscal passa por uma comissão mista, antes de ser votada na Câmara ou no Senado. Ou seja, o Congresso todo estará tomado por essa pauta.

Até porque também aguarda instalação a comissão mista que vai dar parecer a outra MP, que trata da divisão dos royalties do petróleo. Embora haja maioria favorável a mexer nas regras dos campos já licitados, a possibilidade é remota, depois que Dilma vetou e que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que outros 3 mil vetos pendentes sejam apreciados antes.

Antes mesmo de Dilma enviar suas propostas ao Congresso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) havia encomendado à assessoria que elaborasse uma proposta de agenda legislativa para seu mandato. A ideia era dar prioridade às questões federativas, além de medidas administrativas, como austeridade e maior transparência da gestão.

A história recente do Congresso não recomenda otimismo. Mas, como os temas dessa pauta extrapolam os limites partidários e atendem aos interesses dos Estados e municípios, talvez a pressão dos governadores possa - finalmente - resultar em uma pauta positiva para o Legislativo.

No fio d´água - ARMANDO GUEDES


O GLOBO - 17/01

Em dezembro, a água retida nos reservatórios das usinas hidrelétricas localizadas na região Sudeste/Centro-Oeste foi estimada em 29% do volume máximo armazenável, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico. Isso representa o nível mais baixo verificado para o mês desde 2000, ano que antecedeu os apagões que assolaram grande parte do país.

Segundo o governo, em 2001 os reservatórios cheios seriam capazes de atender a demanda total do sistema, ou seja, sem a necessidade de nenhuma geração adicional, por pouco mais de seis meses. Já para 2013, estima-se que esse período encurtará para cerca de cinco meses.

O aproveitamento hidrelétrico tradicional na matriz elétrica brasileira foi construído para operar com reservatórios de acumulação, cuja função é compensar a redução do volume dos rios nos períodos de seca para permitir a regularização da geração de energia ao longo do ano. Esse equilíbrio é importante porque confere maior segurança e previsibilidade ao sistema, além de reservar às usinas termelétricas um papel complementar no atendimento da demanda de energia.

De fato, a construção de hidrelétricas, em especial as com grandes reservatórios, provoca impactos ambientais tais como a alteração de ecossistemas e o remanejamento de comunidades. Em consequência, essas usinas se tornaram alvo de forte controvérsia, a qual tem influenciado a decisão do governo de construir quase que exclusivamente usinas com menor área alagada e, portanto, menor capacidade de regularização. Conhecidas como usinas "a fio d´água", elas firmam menos energia na matriz - o que implica no maior acionamento complementar de termelétricas nos meses de estiagem, ou no período úmido se seus reservatórios estiverem em níveis de risco, como é o caso atual.

Uma das consequências da maior geração térmica é o aumento da emissão de gases de efeito estufa: a geração térmica a gás natural emite, em média, cerca de 88 vezes mais CO2 equivalente por MWh ao longo de seu ciclo de operação do que a geração hídrica. Outro efeito a ser considerado é o aumento do custo da eletricidade: a energia de termelétricas a gás natural contratada no último leilão foi, em média, 13% mais cara do que a energia da hidrelétrica de São Roque, por exemplo, a última usina contratada a operar com reservatório de acumulação.

A escolha de estruturar a expansão da matriz elétrica em hidrelétricas a fio d´água trará, portanto, maiores custos a toda a sociedade já no curto prazo. A esses serão ainda somados os inevitáveis custos oriundos da decisão do Estado de repassar aos consumidores os riscos hidrológicos referentes às hidrelétricas que tiveram seus contratos de concessão prorrogados de acordo com a Medida Provisória nº 579. Dessa forma, cabe atentar para a possibilidade de os impactos da desejada redução do elevado custo da energia elétrica, anunciada em setembro, serem corroídos ao longo dos próximos anos.

Conclui-se pela necessidade de que licitações de usinas com grandes reservatórios sejam discutidas sem tabus e de forma ampla. As escolhas que estamos fazendo hoje implicarão maiores custos amanhã. Cabe discutir com a sociedade se ela estará preparada para pagá-los.