Como judeu, descendente de avós que perderam pais e irmãos no Holocausto nazista, é de embrulhar o estômago ver a guerra mundial contra Israel.
Nem um século se passou desde que o mundo observou passivamente Hitler e seus aliados exterminarem 6 milhões de judeus indefesos no coração da Europa, e o coro histérico e irracional contra os judeus voltou com força e abrangência. É o antissemitismo travestido de antissionismo.
Sim. Até Emir Sader sabe que não é possível distinguir o Estado judeu dos judeus. Odiando-se um, odeia-se os outros.
E os inimigos de Israel (dos judeus) deixam isso bem claro. Seja no (re)uso do acervo iconográfico antissemita clássico, como vemos nas charges na mídia oficial árabe e "progressista" europeia, seja no grito por boicotes à vibrante e independente academia israelense, que traz de imediato à memória os boicotes aos negócios de propriedade judaica nos primórdios da Alemanha nazista.
Que se conteste e proteste contra atos e políticas adotadas pelo governo de turno em Jerusalém, como os próprios israelenses não param de fazer desde antes de o Estado judeu ser oficialmente declarado por David Ben-Gurion, em 1948.
Mas suspeito, para dizer o mínimo, do tom de ódio indignado de parte importante da opinião pública (a mais vocal, mas não necessariamente a mais numerosa) em relação a tudo o que Israel faz.
Não se está aqui, obviamente, apoiando as mortes no barco com ativistas e militantes que rumava para Gaza. Mas o conflito no Oriente Médio é muito mais complexo do que maniqueísmos reducionistas e manipulações grosseiras. Estas só servem para enganar desavisados de boa-fé e promover extremistas de má-fé.
A guerra próxima não é entre israelenses e palestinos, mas entre os israelenses e palestinos que querem a paz contra os israelenses e palestinos que não querem a paz. O segundo grupo é minoria nos dois lados, mas consegue impor o conflito justamente porque sua complexidade dificulta tanto um acordo e o sangue já derramado fomenta tanto ódio e medo.
E há ainda a guerra mais distante que Israel trava contra o extremismo islâmico e seus apoiadores no mundo árabe-islâmico. O uso cínico que ditaduras opressoras como Irã e Síria faz da causa palestina, a eterna bucha de canhão de terceiros interesses no Oriente Médio, talvez seja hoje o principal combustível do conflito.
Israel retirou suas tropas do sul do Líbano em 2000 e desde então a região está tomada pela milícia terrorista extremista islâmica xiita Hizbollah, apoiada pelo eixo Damasco-Teerã. O Estado judeu retirou suas tropas da faixa de Gaza em 2005, e o grupo extremista terrorista islâmico sunita Hamas tomou o controle da região, apoiada pelo eixo Damasco-Teerã.
Servindo a seus patronos estrangeiros, Hizbollah e Hamas transformaram as regiões recém-desocupadas por Israel em bases de foguetes contra o país, o que levou a guerras sangrentas nos dois palcos e afastou ainda mais a possibilidade de paz.
Os palestinos precisam ter seu Estado, até o premiê nada moderado de Israel, Bibi Netanyahu, já o admitiu. Hostilizar Israel da forma com que os apoiadores cegos dos palestinos fazem só atrasa esse justo objetivo ao reforçar mais uma vez a ideia de que a discriminação contra os judeus segue muito viva.
Viva a tolerância. Não viva o ódio.