quarta-feira, novembro 04, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ONLINE


Todo corrupto merece cadeia

4 de novembro de 2009

Os primeiros barulhos do escândalo do mensalão, em maio de 2005, jogaram no colo do PSDB o personagem com que sonham todos os atores políticos. Foi bem no papel de mocinho da história até o depoimento do publicitário Duda Mendonça, atulhado de revelações que transformaram o presidente Lula em forte candidato ao impeachment. Em vez do confronto imposto pela coerência, o partido resolveu poupar o principal adversário, para arrastar até novembro de 2006 um chefe de governo com lama pela cintura e destroçar nas urnas o sonho do segundo mandato.

A opção equivocada deixou Lula fora do pântano onde nadavam de braçada ─ em meio a alevinos adquiridos nos criadouros da base alugada ─ os delúbios, silvinhos, genoínos e dirceus. Os líderes tucanos e os aliados do PFL acharam o cardume de peixes graúdos suficientemente impressionante para dispensar a incorporação da baleia branca. Em agosto, celebravam a estratégia prodigiosa quando foi descoberto o encanamento clandestino construído em Minas Gerais para despejar dinheiro sujo na campanha de 1998.

Construído na gestão do governador Eduardo Azeredo, candidato ao segundo mandato, o duto foi patrocinado por um aprendiz de corrupto extraordinariamente inventivo chamado Marcos Valério. A DNA, uma das agências de Valério, conseguiu um empréstimo de R$ 11,7 milhões no Banco Rural, oferecendo como garantia contratos de publicidade com secretarias estaduais. Repassada ao QG da coligação liderada por Azeredo, a dinheirama irrigou tanto a campanha do governador quanto a de 70 candidatos à Câmara dos Deputados.

Terminada a campanha, Marcos Valério estava pronto para a montagem do esquema do mensalão, completado em parceria com Delúbio Soares, tesoureiro do PT, professor de matemática e mestre em ladroagem. Derrotado, Azeredo elegeu-se senador em 2003 e presidente do PSDB. Em agosto de 2005, alvejado pela bala perdida, subiu à tribuna com o lodo pelas canelas. Desceu só com a cabeça à tona.

Os constrangidos tapinhas nas costas dos correligionários contrastaram com o sorriso coletivo da companheirada. Caíra no pântano um tucano dos grandes. Era tudo o que queria o bando qualificado pelo procurador-geral Antônio Fernando Souza de ”organização criminosa sofisticada”, liderada por José Dirceu. Amparados no caso de Azeredo, os companheiros seguiram recitando a falácia segundo a qual o PT se limitara a fazer o que todos fizeram.

“Os autores das acusações querem me dar o abraço do afogado”, fantasiou Azeredo no discurso. Quem deu esse abraço foi o PSDB, que entrou no pântano agarrado ao senador delinquente. Para não perder o amigo, o partido que não costuma perder uma chance de errar perdeu a bandeira do combate à corrupção em geral e, em particular, aos 40 do mensalão. Há quatro anos, o PSDB deveria providenciado o despejo do culpado. Preferiu endossar o falatório tão verossímil quanto o curso de doutorado de Dilma Rousseff.

Em 2007, perdeu outra chance de hastear a bandeira arriada ao fazer de conta que não soube da denúncia encaminhada pelo procurador-geral da República ao Supremo Tribunal Federal. Nesta quarta-feira, depois da sessão em que o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, pediu a abertura de uma ação penal contra o senador mineiro, a esperança de salvação se ofereceu de novo aos titubeantes vocacionais.

Caso se livre de Azeredo, o PSDB estará autorizado a afirmar que, diferentemente do PT, não se reduziu por vontade própria a esconderijo de bandidos. Ou faz isso ou se proíbe de abrir a boca sobre os fora-da-lei homiziados em outras siglas. A oposição oficial talvez ignore que a legenda não anula o prontuário. A folha corrida pesa muito mais que a sigla. Os brasileiros honestos exigem mais que o enquadramento do protegidos do governo que enriquecem na grande quadrilha federal. Exigem o fim da impunidade.

Pouco importa a filiação partidária. Todo corrupto merece cadeia.

PAULO RABELLO DE CASTRO

É proibido investir em Petrobras


Folha de S. Paulo - 04/11/2009



Como o trabalhador poderá participar da capitalização da Petrobras com dinheiro se a maioria mal consegue poupar?


HÁ PAÍSES ricos e há grandes nações. Uns são aqueles que, por trabalho ou providência divina, veem-se agraciados por um estoque grandioso de recursos. Reservas naturais fazem países ficarem ricos, mas também empobrecerem, na medida das cotações da mercadoria que extraem da terra. Grandes nações, entretanto, não incidem nesse tipo de vulnerabilidade porque sua riqueza está na força de suas instituições fundadoras e na estatura de seus talentos. Entre os maiores exportadores de petróleo da atualidade, todos ricos por definição, talvez apenas um ou dois se qualifiquem como grande nação.
Os demais, embora ricos e abençoados em petróleo, manipulam essa riqueza para subjugar a democracia e perpetuar o atraso.
Para ser grande nação, não é preciso achar e explorar petróleo, mas ter e exercer discernimento na condução dos negócios públicos e da vida coletiva. Na grande nação, o povo tem sempre a atenção preferencial das lideranças e com estas interage na aprovação de decisões importantes. A isso se chama de liberdade política, recurso moral bastante escasso no mundo, mas capaz de transformar países e povos subjugados em grandes nações livres.
O Brasil tem agora a oportunidade de lidar com a condição de país rico sem se afastar do ideal de se construir como grande nação. A votação das regras de exploração do petróleo do pré-sal oferece várias oportunidades de teste de grande nação. Uma delas em relação ao direito do povo brasileiro de aí investir seus recursos de poupança. O relator da matéria da Petrobras na Câmara, deputado João Maia (PR-RN), em parecer apresentado a sua Comissão no último dia 28, proíbe o uso dos depósitos de poupança em FGTS para o fim de capitalizar a empresa, que, por excelência, é vista como de todos os brasileiros. A União federal, no entanto, poderá capitalizar a Petrobras por meio de títulos que lançará. Ou seja, o povo não pode o que o Estado pode.
O trabalhador, se quiser participar do investimento, pelo atual parecer, vai ter que arrumar dinheiro vivo. Mas como? A maioria dos trabalhadores brasileiros mal consegue poupar e, quando o faz, é por meio do que se lhe retira do salário mensal, 8% para o FGTS, e outros 8%, pelo menos, para o pecúlio (?) da Previdência. E note: 16% é igual à taxa de poupança nacional. Não há, portanto, que exigir um tostão a mais de esforço de poupança desse brasileiro. É com seu FGTS que o trabalhador deve, se quiser, investir no pré-sal.
Os argumentos para proibir o povo de participar são formas dissimuladas ou involuntárias de exclusão econômica. Dizer que o FGTS foi, no passado, destinado a habitação e saneamento chega a ser pueril, pois regras adotadas lá nos anos 1960 já mudaram inúmeras vezes.
Afirmar que o direito de investir deveria ser para todos ou para ninguém é pura maldade, pois as diferenças já começam pelo fato de metade dos trabalhadores não dispor de um depósito de FGTS. Mas, se a preocupação com o "para todos" é para valer, melhor fazer cumprir o artigo 68 da Lei de Responsabilidade Fiscal, destinando parcela relevante das ações da União no pré-sal para compor um fundo da Previdência do INSS.
Se proibida a participação popular via FGTS, é certo o caminho judicial para tentar obter do Judiciário o remédio ao arbítrio que ora se ameaça impor. Nesse debate se estará testando não o tamanho do pré-sal, mas a largueza das reservas morais desse país que se pretende líder de outras nações.

GOSTOSA


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VINÍCIUS TORRES FREIRE

FHC, Lula, apatia e "autoritarismo"


Folha de S. Paulo - 04/11/2009



Satisfação com a economia ofusca "desvio da democracia", mas é preciso "balançar o coreto", afirma ex-presidente

A SATISFAÇÃO com a economia é um fator de "apatia" no Brasil. Tal ambiente favorece o "autoritarismo popular" que está no "DNA" do governo Lula e do lulismo. Mas por que a oposição é também apática e omissa, pergunta-se ao autor da tese da "apatia cum autoritarismo popular", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso? "Sim, a oposição está meio apática, como quase todo o país. Mas a oposição partidária é congressual.
Não repercute na sociedade. A sociedade, por sua vez, não tem dado muito ouvido ao que se passa por lá no Congresso, por achar que o Congresso não decide assuntos de relevância cotidiana ou por desconfiar do que sai de lá [Congresso], pelos motivos conhecidos. E o governo [Lula] teve papel importante nesse apequenamento do Congresso, dadas as ingerências e os chamados "escândalos'", diz FHC a esta coluna.
E a apatia do PSDB e de seus candidatos indecisos? "O Congresso, os partidos, o PSDB também, as lideranças, não repercutem. Falta mais articulação com a sociedade. Mas os candidatos se movem pelo cálculo eleitoral, não tem jeito. Mas a discussão desses problemas interessa a muito mais gente, vai muito além do PSDB. Não escrevi para conclamar a oposição. Esse debate não pode ser rebaixado pela partidarização excessiva. Mas, afora o "partido dos economistas", os intelectuais não se manifestam, contra ou a favor, de maneira pública, pensada (o Brasil tinha o partido dos advogados, agora tem o dos economistas, sinal da mercantilização do Brasil e do mundo). Os movimentos sociais, as organizações da sociedade, quando não estão aninhadas na burocracia do Estado, limitam-se a temas especializados. Isso por um lado é bom: discute-se a sério ambiente, drogas, violência. Mas não a política maior desses e outros assuntos", diz FHC.
Mas qual a relação atual entre popularidade e risco de autoritarismo? "O país está mais apático porque a situação econômica vai bem. E espero que vá cada vez melhor. Mas a satisfação com as condições de agora não nos deve impedir de pensar que tipo de sociedade e de Estado que estamos construindo. As pessoas aplaudem porque estão satisfeitas com o que lhes diz respeito, mais imediatamente. Mas o aplauso não significa aprovação a qualquer atitude do governo, e muitas vezes as pessoas não têm consciência das consequências de várias dessas ações."
Mas onde está o autoritarismo? "Há uma grande cooptação. Há ingerência direta nos partidos, ataques à imprensa, à gestão de empresas. O presidente escolhe não só a candidata (até sem ela mesma saber) mas define nomes pelo país todo, em vários partidos, interfere diretamente no Congresso. Não sou "neoliberal". E não sou a favor disso que chamam "Estado forte", mas de um Estado competente. Esse "Estado forte" é paternalista, organiza os negócios, destrói os partidos, coopta setores sociais com recursos do Estado. Tudo isso ocorre em clima de forte personalização, em que o presidente centraliza em si decisões estratégicas (como na compra dos caças, do pré-sal, coisas feitas com atropelo, sem seriedade), com alianças partidárias que não foram feitas com base em um programa. Isso reforça as características da nossa "Presidência imperial'", diz FHC.

ELIO GASPARI

FHC expôs o lado sombrio do poder petista


Folha de S. Paulo - 04/11/2009



O ex-presidente disse para onde não se deve ir, mas o PSDB ainda não decidiu para onde quer ir


FERNANDO Henrique Cardoso está em grande forma. Num artigo intitulado "Para onde vamos?" mostrou que é a única voz articulada com coragem para acertar a testa de Nosso Guia. É um texto astucioso, chega a ter ginga. Apocalíptico e insinuante, tem a gravidade de uma Cassandra e a amnésia de personagem de novela barata.
Seu argumento central faz todo sentido: Lula está construindo uma teia de alianças e interesses que desembocará num "subperonismo". O que vem a ser essa praga, não se sabe, mas ela junta o PT, sindicatos de empregados e de patrões, fundos de pensão, BNDES e triunfalismo. Essas seriam as "estrelas novas" às quais se abraçam "nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas". O ex-presidente adverte para a formação de um novo "bloco de poder", interessado num continuísmo que deve ser contido, pelo voto, "antes que seja tarde".
As críticas pontuais do ex-presidente passam da dúzia e ele pode ter razão em quase todas. Em dois casos o professor chegou à verdade com o auxílio de lapsos da memória. Num, criticou a compra de caças pela Força Aérea. Logo ele, que comprou um porta-aviões. No outro, denunciou o poder dos fundos de pensão das empresas estatais e suas relações incestuosas com o governo e empresários-companheiros. Tem toda razão, mas quem deu forma a esse bicho foi ele, quando moldou e deixou que moldassem a engenharia financeira da privataria.
Em dois momentos o ex-presidente teve a infelicidade de comparar atitudes do atual governo com práticas do tempo do "autoritarismo militar". Lula, com seus "impropérios" é capaz de "matar moralmente empresários, políticos (e) jornalistas". O ex-presidente exagerou. Logo ele, que conheceu pessoas assassinadas sem advérbio. No seu esforço para tornar mais pesada a carga dos petistas, Fernando Henrique torna mais leve a mochila dos crimes da ditadura militar.
A alma dos receios de Fernando Henrique Cardoso está no que ele chama de "autoritarismo popular" (entre aspas no original, sem que se saiba por que). O que é isso, não se sabe. Trata-se de uma construção em cujo hermetismo está uma parte do seu significado. Referindo-se à democracia constitucional brasileira o ex-presidente informou que "esta supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente". Faltou a palavra voto, mas tudo bem pois o ex-presidente jamais teve o pé no golpismo. Ganha um livro de discursos de Fidel Castro quem souber como se distingue uma "deliberação consciente" de outra, inconsciente.
(Os liberais de 1945 imolaram suas biografias no altar da ditadura de 1964. Pode-se dizer que o golpismo da segunda metade do século passado nasceu no dia em que os liberais da redemocratização perderam a eleição de 1950 para o ex-ditador Getúlio Vargas.)
O artigo de Fernando Henrique Cardoso chama-se "Para onde vamos?", mas indica apenas para onde ele, com bons argumentos, acha que não se deve ir. Se o tucanato não souber dizer para onde se deve ir, o PT ganhará a eleição do ano que vem. Culpa de quem? De uma oposição que não se opõe? De um partido que não consegue ter candidato? Ou do povo, como em 1950?



Tudo o que foi dito acima só vale alguma coisa para quem leu ou vier a ler o artigo do ex-presidente. Passando-se no Google "Fernando Henrique Cardoso" e "Para onde vamos?", chega-se a ele.

LEIA AQUI O ARTIGO DE FERNANDO HENRIQUE

TREPADA

PAINEL DA FOLHA

Marcação cerrada

RENATA LO PRETE

Folha de S. Paulo - 04/11/2009

Alvo de críticas do Planalto pela paralisação de obras do PAC, o Tribunal de Contas da União aprovou duas auditorias que apontam má gestão na área ambiental do governo. A temática verde, tratada ontem em reunião ministerial, é prioritária em Brasília devido à conferência de Copenhague sobre mudanças climáticas, em dezembro.

O tribunal detectou que o governo devolveu US$ 8,4 milhões a países doadores porque perdeu o prazo para aplicar o dinheiro na proteção de florestas. Em outro acórdão, o ministro Aroldo Cedraz -autor de decisões pela suspensão de obras do PAC- classifica como "insuficientes" e sem gerenciamento as políticas de combate à emissão de gases-estufa na Amazônia.



Verde. A auditoria que trata do projeto de proteção das florestas detalha falta de estrutura do Ministério do Meio Ambiente, no período de 2002 a 2008. Entretanto, o TCU ressalva que o problema é sistêmico e que os doadores internacionais têm avaliação positiva do programa.

Zíper. Acostumado a escapulir antes do término das reuniões ministeriais para dar entrevistas, Carlos Minc (Meio Ambiente) foi escoltado por Dilma Rousseff (Casa Civil) e Celso Amorim (Relações Internacionais) até a saída depois do encontro em que se discutiu a proposta brasileira para Copenhague.

No forno. O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, o novo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, fizeram ontem reunião para tentar colocar no papel uma "solução" para a divergência entre Lula e o tribunal.

Preliminar. O governo enfrentará na terça o primeiro grande teste para aprovar os projetos do pré-sal. Trata-se da volta ao status de tramitação em urgência, sem o qual eles não saem da Câmara neste ano. É preciso ao menos 257 dos 513 votos.

Recado. O Planalto avisou Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) que não aceitará mais mudanças no relatório sobre a partilha do pré-sal na comissão. Do contrário, levará a votação ao plenário.

Bolo. Relator do Orçamento, o deputado Geraldo Magela (PT-DF) bateu o martelo com líderes das bancadas para aumentar de R$ 10 mi para R$ 12 mi o valor das emendas individuais dos congressistas. Para compensar, haverá corte nas emendas de comissão.

Inquilino. Lula viajou à Inglaterra sem resposta sobre o futuro da sede da embaixada brasileira no país. O pedido de crédito, no valor de R$ 77 mi, para a compra do prédio -hoje alugado- está parado no Congresso desde agosto.

Replicando. A exemplo do que havia feito com a lei paulista, a Advocacia-Geral da União enviou ontem ao Supremo um parecer pela inconstitucionalidade da lei antifumo do Rio de Janeiro.

Em casa. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) esquivou-se até mesmo de debater cenários estaduais no almoço, ontem, com FHC e o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Só deixou claro que seu partido, desde já, vai com Sérgio Cabral (PMDB) no Rio. O restante somente em 2010.

Na tela. Em decisão apertada, a corrente do PT do Rio que defende a candidatura do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, ao governo venceu a disputa contra a ala pró-Cabral sobre o modelo da propaganda de TV. Ficou acertado que Lindberg aparecerá em 30 das 40 inserções.

Outros tempos. Do deputado Eliseu Padilha, que disputa o comando do PMDB gaúcho com o senador Pedro Simon: "Apoiamos o governo Yeda Crusius (PSDB) durante a crise e seria covardia sair naquela hora. Mas hoje defendemos a candidatura própria".

com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

Tiroteio

"A "república dos sindicalistas" está armada. Quero ver é como desarma isso depois."


Do senador TASSO JEREISSATI (PSDB-CE), sobre o fato de uma corretora dirigida por sindicalistas da Caixa, filiados ao PT, ser a maior negociadora de seguros de entrega de obras do Minha Casa, Minha Vida.

Contraponto

Cláusula contratual Senadores governistas e da oposição travavam um embate acalorado, ontem, na sessão da Comissão de Assuntos Econômicos, com um bombardeio "demo-tucano" ao aumento da carga tributária no país. Cada vez mais disposto a embarcar na candidatura da oposição em 2010, Garibaldi Alves (PMDB-RN) tentava aplacar os ânimos, até ser provocado por Flexa Ribeiro (PSDB-PA).
-Mas você não concorda com a nossa posição?
-Em gênero, número e grau...-respondeu Garibaldi, que, em seguida, trocou alguns olhares e emendou:
-Aliás, eu concordo, mas com alguma exceção que ainda vamos esclarecer depois, né?

ARI CUNHA

Vivem as ideias e ideais

CORREIO BRAZILIENSE - 04/11/09


Morreu nesta semana, aos 100 anos, o antropólogo belga Claude Lévi-Strauss. Deixa como herança a humilde lição de que a mente selvagem é igual à civilizada. Sempre falou com atenção ao Brasil, onde esteve na década de 1930. Em entrevista, lembra um pouco embaraçado do tempo em que gostava de caçar. Para os jovens brasileiros, deixou a mensagem de que é preciso encontrar novos objetivos. O estudo histórico dos povos e suas culturas nunca vai se esgotar. Seu único desejo era “um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele — isso é algo que sempre deveríamos ter presente”. O mundo continua a girar sem Lévi-Strauss. Suas ideias ficam.


A frase que não foi pronunciada

“Alianças políticas são como a lua. Ou crescem ou minguam.”
» Presidente Lula, em devaneio, pensando no que já passou e no que terá que passar.




Eleições

» Mudanças em andamento incrementam o uso do dinheiro público. Gim Argello defende autonomia a cidades satélites, com prefeito e vereadores eleitos. Há também a possibilidade de incorporar administrativamente municípios do Entorno ao DF.

Novas

» Roberto Carvalho, vice-prefeito de Belo Horizonte, comemora. O Dnit tem o recurso necessário para a reforma do anel rodoviário da capital. O presidente Lula já garantiu os R$ 30 milhões necessários.

CPI

» Tarso Genro disse que a função das CPIs é propor soluções para o governo e não servir de palco de luta política. Ele tratava da CPI do MST. Vale lembrar as recomendações elaboradas pela CPI do Mensalão. Sem contar com as manobras asseguradas pelo
Judiciário, muito já foi feito.

Vendas

» Com a chegada do 13º salário e a proximidade do Natal, lojas incrementam as vendas pela internet. Os portais estão com acesso mais fácil para a escolha dos produtos. A logística também é alterada para não haver falha na entrega. A expectativa de crescimento nas vendas eletrônicas beira os 100%.

Muito boa

» Uma corrente pelo Twitter avisa onde há blitz pela cidade. Quem bebeu tem uma ferramenta para escapar. O que não contavam é que, na comunidade, há infiltrados. Dessa vez, a polícia agiu antes de reagir.

Audição

» Longe de diagnosticar com precisão o estado do paciente durante o coma, médicos se surpreendem com as técnicas criadas pelas famílias apenas por instinto e amor. A última foi quando um britânico conseguiu acordar a filha de um coma fazendo perguntas sobre operações matemáticas. Parece que a audição é o último sentido a morrer. Ou a chave para trazer de volta a vida.

Sua vez

» Uma feira internacional mostra o trabalho de catadores da América Latina, Europa e Ásia. Trata-se da Reviravolta Expocatadores. A abertura do evento contou com a participação do presidente Lula e do ministro das Cidades, Marcio Fortes. É uma chamada ao mundo da importância de cada um fazer sua parte. Começando pelo lixo seletivo.

Cultura

» Milhares de índios de 33 etnias participam da 10ª edição dos Jogos dos Povos Indígenas. Paragominas é a sede do evento. Presentes o ministro Orlando Silva, do Esporte, o prefeito Adnan Damachki e Marcos Terena, diretor do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena.

Alegria

» Brasil e Chile preparam roteiros com parceria entre segmentos do turismo dos dois países. O público alvo são idosos que adoram viajar. A coordenadora geral de eventos do Ministério do Turismo, Jurema Camargo Monteiro, e o coordenador do Viaja Mais Melhor Idade, Enzo Arns, da Braztoa, acompanharão os percursos.


História de Brasília

Mal interpretada uma nota publicada nesta coluna sobre a Candangolândia. Nós não somos contra os habitantes da vila operária. Transportar casas de madeira para o setor econômico é, sobretudo, inviável. (Publicado em 16/2/1961)

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

FERNANDO RODRIGUES

Clima, moeda de troca

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09


BRASÍLIA - Lula se reuniu ontem de novo com alguns de seus ministros para tentar formular qual será a política do país para conter o avanço das mudanças climáticas. Nada ficou decidido.
Continua a queda de braço entre desenvolvimentistas e ambientalistas. Há um conflito entre quem deseja proteger o meio ambiente e aqueles cujo argumento é a favor de mais crescimento econômico -o que causaria mais poluição.
Uma outra explicação é da linha utilitarista. O Brasil se mantém reticente em adotar metas ousadas de redução na emissão de gases que provocam o efeito estufa porque 2010 é um ano eleitoral. Doadores graúdos de campanha são do setor agropecuário. Ficariam irritados com regras ambientais rígidas.
Uma hipótese assim nunca deve ser descartada. Dinheiro em eleição é um tema delicado. Mas não parece crível um presidente com até 80% de popularidade em algumas pesquisas estar muito preocupado com a opinião de plantadores de soja ou de criadores de gado.
O principal fator a nortear o titubeio público e deliberado do Brasil tem conteúdo geopolítico. A posição brasileira sobre o clima está sendo usada como moeda de troca na relação com outras nações emergentes e algumas desenvolvidas. O governo Lula não deseja melindrar nem constranger seus aliados adotando metas arrojadas para redução de gases do efeito estufa. Em contrapartida, espera continuar a acumular apoios para um assento permanente do país no Conselho de Segurança da ONU.
No dia 14, Lula faz uma nova reunião. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já antecipou a intenção de não fixar metas: "Serão linhas gerais. Não vamos apresentar os números". Assim será.
Se der tudo errado, o Brasil fica sem vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e com a fama de mau gestor de seus recursos naturais. É alta a aposta de Lula.

MÍRIAM LEITÃO

Sobre-sal

O GLOBO - 04/11/09


O governo propôs que a União fique com a parte do Leão e ainda avance sobre o que é dos outros bichos da floresta. Este é o sistema de divisão do bolo tributário das receitas do pré-sal. O governo transformou o petróleo em palanque, armou um conflito federativo entre os estados produtores e não produtores, e fez o oposto do que o presidente Lula prometeu aos governadores.

E por que o Rio briga? Simples. O Rio produz 1,5 milhão de barris/dia, 83% da produção brasileira. Em termos de reservas provadas, o Rio tem 10,2 bilhões de barris, e 81% das reservas do Brasil. Se fosse um país, o Rio teria produzido em 2008 mais do que o Reino Unido, ou o Catar, ou a Indonésia; e teria reservas maiores do que as da Noruega. Nessas contas, feitas pela Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), não está o petróleo do pré-sal, explica Adriano Pires.

Camadas e camadas de sal foram sobrepostas e tornam esse conflito um caso espantoso.

Na reunião da segundafeira, no Rio, os governadores Sérgio Cabral e Paulo Hartung ligaram para o presidente Lula.

Ele ficou de retornar e só ontem à tarde ligou. Prometeu a Cabral que tentará reequilibrar a divisão do bolo. É a segunda vez que promete.

O presidente Lula prometeu em agosto reduzir a fatia da União nos royalties. Ela aumentou. Prometeu manter a Participação Especial. Ela foi abolida. As promessas foram feitas no jantar em que o presidente tentava salvar a festa do pré-sal, acalmando os governadores do Rio, Espírito Santo e São Paulo.

Antes, os royalties eram 10% sobre a receita bruta. A União ficava com três pontos percentuais desse bolo; os estados produtores, com 2,625 p.p.; os municípios produtores, com 2,625; os municípios com instalação — como portos, unidades de tratamento —, com 0,875; os estados e municípios não produtores, com 0,875. Só que estados e municípios produtores recebiam também Participação Especial.

Na proposta mudada pela comissão especial do Congresso, os royalties crescem para 15%, mas a União passa a ter 4,5 pontos percentuais; os estados produtores ficam com 2,7; os municípios produtores, com 0,9; os municípios com instalações, 0,3; e os estados e municípios não produtores, com 6,6. Esse último percentual será dividido no mesmo esquema do Fundo de Participação dos Estados e Municípios.

Com o novo modelo, o governo fica com 60% do que for objeto de partilha. Assim: da receita da venda do petróleo reduzem-se os custos de produção, os impostos. O que sobrar é dividido dessa forma: 60% para a União, 40% para o consórcio produtor.

Os estados produtores não levam nada.

A garantia dada tanto pelo governador Paulo Hartung, quanto pelo secretário de Desenvolvimento do Rio, Julio Bueno, é que eles não querem reduzir a parcela dos estados e municípios não produtores. Querem aumentar a própria fatia, mas tirando da União.

— Ela já fica com a parte do Leão na partilha e ainda avança sobre os royalties, nós não achamos isso justo — disse Hartung.

A proposta do Rio e ES é dobrar a fatia dos estados produtores: de 2,7 pontos percentuais do imposto para 5,3 pontos percentuais.

— Hoje, a Participação Especial é quase duas vezes os royalties e nós vamos perder esse imposto; é justo aumentar os royalties — afirmou Bueno.

O governo armou para cima dos estados produtores.

Montou uma caixa de marimbondo para eles botarem a mão. O relatório do deputado Henrique Eduardo Alves sobe de 0,8 para 6,6 pontos percentuais a fatia dos estados e municípios não produtores na divisão dos royalties. E por que fez isso? Elementar, é para isolar as bancadas dos produtores e unir os não produtores. É para criar um conflito na Federação para melhor reinar.

Os estados produtores decidiram não entrar nessa briga.

Acham que os estados não produtores também devem ter uma parte da riqueza gerada pelo pré-sal, acham apenas que é preciso evitar a continuação da tendência de concentração da receita nas mãos da União, que tem sido a regra no Brasil.

Os estados produtores perdem também na capitalização da Petrobras. Ela será feita com cinco bilhões de barris das reservas de petróleo cedidas à empresa, e sobre os quais não caberá pagamento de royalty.

Mas há outras camadas de sal. O Brasil teve sucesso com o modelo de concessão, que gerou até agora R$ 100 bilhões de arrecadação entre royalties e Participação Especial.

Digamos que o governo considere que o petróleo do pré-sal tem menos risco. Bastava para isso alterar o percentual do imposto.

O governo preferiu mudar todo o modelo. E fez isso por quê? Entre outros objetivos, queria transformar o petróleo em palanque para a campanha eleitoral.

Digamos que fosse realmente necessário fazer um novo marco regulatório para o petróleo do pré-sal e que essa nova forma fosse melhor do que a anterior.

Ainda assim faltaria explicar um detalhe. O regime de partilha valerá para o présal e para as áreas estratégicas.

E quem diz quais são as áreas estratégicas é uma comissão. Ou seja, é um marco regulatório que cria uma incerteza regulatória: vai ser um marco na história dos marcos!

GOSTOSA

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TODA MÍDIA

Gigante

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09


Imagens do jovem Claude Lévi-Strauss na Amazônia, em sua "experiência fundadora", tomaram as páginas iniciais mundo afora, do americano "New York Times" aos franceses "Libération" e "L'Express".
Ele foi destacado como "gigante do pensamento francês, conhecido no mundo todo como um mestre", pelo "Le Figaro", e como "arqueólogo dos totens e mitos, músico do espírito", pelo "Le Monde". Para o "NYT", "ele mudou o entendimento ocidental do que era até então chamado de homem primitivo".
Por aqui, o portal UOL dedicou manchete para a morte e destaque para a nota de FHC, afirmando ser "um dos maiores da história". O portal G1 e a própria Globo ressaltaram que "ele lecionou na USP".

SEM EXEMPLO ATÉ O DIA 14
Na agência estatal, "Brasil adia definição de proposta de mudança climática" para o dia 14. O ministro da Agricultura saiu "sem falar com a imprensa".
Nos últimos dias, uma ampla cobertura externa, da revista britânica "Nature" à agência chinesa Xinha, prenunciou uma "ação grande sobre o clima" por parte do país, com o "compromisso de reduzir substancialmente as emissões na próxima década". Em suma, avalia um ambientalista americano, "o que importa é que o Brasil perceba que pode liderar pelo exemplo".

MELHOR OU PIOR
Cresce a cobertura ambiental, com o Brasil como foco, a um mês da cúpula de Copenhague. A "Mother Jones" deu especial com longa reportagem questionando projeto das americanas GM e Chevron, de reservas verdes no Pará, com árvores marcadas. Já o "Guardian", usualmente mais engajado, destaca estudo segundo o qual a destruição da floresta amazônica polui menos do que se acredita

AINDA O ETANOL
Em especial sobre energia, o "Financial Times" fala do "fiasco" da política de etanol nos EUA e na Europa, efeito do "lobby agrícola". Mas diz que "os biocombustíveis ainda podem ter um papel central no mix de energia do futuro". Registra que "o único biocombustível em produção que obtém redução clara nas emissões é o brasileiro, feito de cana, mas suas exportações enfrentam barreiras"

PELO NOME
No alto da home da "Foreign Policy", o diretor da influente instituição Americas Society responde ao "revisionismo" dos conservadores americanos, que defendem o golpe de Honduras como constitucional, apoiados por pareceres jurídicos que foram, sublinha o autor, "fortemente refutados".
Alerta que, embora de pouca influência nos EUA, a visão "impede o consenso regional e a única solução apropriada para a crise". E diz que, adotado por Washington, "o sofisma deste revisionismo-de-golpe jogaria a América Latina de volta aos anos negros dos governos militares e das eleições simuladas dos anos 70 e 80".

CHINA & EUA
Jim O'Neill, do Goldman Sachs, está em Pequim e falou do oitavo aniversário do acrônimo Bric, que ele criou. "Já podemos seriamente imaginar que a China pode ser tão grande quanto os EUA em 2027", disse ao "Wall Street Journal" e à Xinhua.

FMI & CONTROLE
Em título do "FT", "FMI se nega a descartar o uso de controles de capital". Nas palavras do diretor gerente Dominique Strauss-Kahn, sobre a medida adotada no Brasil: "Eu não tenho ideologia sobre isso. O controle não é algo que veio do inferno".

MERVAL PEREIRA

Estado autoritário

O GLOBO - 04/11/09


À medida que fica clara a estratégia lulista de tentar transformar a sucessão presidencial em uma pelada de futebol “nós contra eles”, com o papel do Estado como grande divisor de águas das políticas econômicas de seu governo e as dos tucanos na era FH, também se torna evidente que o governo Lula vem acelerando sua transformação, neste segundo mandato, na direção de um Estado populista e patrimonialista, dependente cada vez mais da vontade do líder carismático, que não aceita os limites da lei, muito menos as críticas.

Ao mesmo tempo em que aprofunda suas críticas aos órgãos fiscalizadores do Estado, como o Ibama ou o Tribunal de Contas da União (TCU), tentando constrangêlos, o presidente Lula insiste na tentativa de criticar e desmoralizar os veículos da grande imprensa, no pressuposto de que, com sua imensa popularidade, pode controlar a opinião pública.

Quando diz que o papel da imprensa não é o de fiscalizar nem de denunciar desvios, mas apenas o de informar, e que os órgãos fiscalizadores estão atravancando o progresso do país, o presidente Lula está revelando sua veia autoritária, e a maneira muito pessoal como quer dirigir o país, como dirigia o sindicato, como uma coisa sua, que pode ser repartida entre os amigos.

Muito a propósito, na contramão do que pretende o governo brasileiro, no Senado dos Estados Unidos o senador democrata da Pensilvânia Arlen Specter fez um discurso, recentemente, em defesa de um projeto que dá mais proteção aos jornalistas, em que afirmou: “Nós ainda recebemos a maior parte das informações de jornalistas investigativos. Se não se protegerem as fontes, haverá muita corrupção, malfeitorias que não serão detectadas e ficarão impunes”.

Na montagem de sua estratégia eleitoral, para enfrentar a disputa na base do “pão, pão, queijo, queijo”, o problema é saber qual é o time do presidente.

Enquanto tenta montar, à base da fisiologia mais desbragada, uma vasta coligação partidária com o único objetivo de ter o maior tempo de propaganda televisiva possível, o presidente Lula está caminhando cada vez mais para a esquerda autoritária.

Como pode resistir uma aliança política que abriga partidos de direita e de centro no apoio a Dilma Rousseff, e obter os votos desse eleitorado, se o próprio Lula faz questão de se comparar a Hugo Chávez? Como explicar a inclusão, entre os coordenadores da campanha oficial, do assessor especial Marco Aurélio Garcia, tão claramente identificado com a esquerda latinoamericana? O que têm a ver com essa tendência partidos como o PP, PTB, PRB e congêneres? Que governo vai sair dessa misturada? Qual será a candidata oficial, a ex-guerrilheira ou a gerente das grandes obras do nacionaldesenvolvimentismo? As críticas à visão patrimonialista exacerbada neste segundo governo Lula não ficam restritas apenas ao artigo de Fernando Henrique Cardoso, que chamou a atenção para a maneira caudilhesca com que Lula vem governando, ou à do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores, que, em recente entrevista ao jornal “Valor Econômico”, denunciou o “patrimonialismo” do governo Lula, o Estado servindo a interesses partidários, privados e sindicais.

Também o sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor do Iuperj, em recente artigo para o site Gramsci e o Brasil, analisa a transformação do governo Lula neste segundo mandato, quando “a crise, que denunciou a incapacidade do mercado de se autorregular, ao trazer de volta o tema do Estado e do seu papel como agência organizadora da economia, atualizou, imprevistamente, o repertório da tradição republicana brasileira”.

Werneck Vianna identifica outros períodos em que essa mesma vertente atuou na condução do desenvolvimento econômico brasileiro: na Era Vargas, nos anos JK e no período militar: “(...) a ênfase que passa a ser concedida à questão nacional, com os patéticos postulados de grandeza nacional que já se fazem ouvir; com o desenvolvimentismo, quando políticas estratégicas são conduzidas pelo Estado sem anuência explícita da sociedade civil e suas instâncias de deliberação”.

O sociólogo ressalta que a mobilização de tal tipo de política “tem ignorado a crítica que lhe foi feita pelos movimentos democráticos e populares, no curso de suas lutas contra o regime autoritário, consagrada institucionalmente na Carta de 1988, que, ao preservar a instância do público como dimensão estratégica, submeteu-a ao controle democrático da sociedade”.

Werneck Vianna recorda que “a esquerda que se encontra na chefia do governo” está se apropriando de uma política que foi alvo de suas principais críticas, que identificavam o nacionaldesenvolvimentismo com “uma típica floração autoritária da ordem patrimonial brasileira”.

Ele ressalta que, “mais que mudanças tópicas ou de ênfase, é toda uma forma de Estado que ressurge, em particular no novo papel concedido às corporações e à representação funcional”.

Na análise de Werneck Vianna, “a política é capturada pelo Estado; de outra parte, o presidencialismo de coalizão em vigência converte os partidos políticos em partidos de Estado e sem representação significativa na sociedade civil (...), levando a uma revalorização acrítica do Estado Novo e até mesmo de governos do regime militar”.

Não é um bom presságio para a democracia brasileira “a sociedade, em sua diversidade, se deixar subsumir ao Estado, conferindo à liderança de um chefe de governo carismático a tarefa de cimentar a unidade dos seus contrários”.

Como também é “falso e anacrônico”, afirma Werneck Vianna, “conceber a próxima sucessão eleitoral como a reedição dos embates entre a UDN e o PTB. Estado forte, sim, mas sob controle da sociedade, e não sobreposto assimetricamente a ela”.

GOSTOSA


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TOSTÃO

Os velhinhos e o gordinho

JORNAL DO BRASIL - 04/11/09


Hoje, em Porto Alegre, o Grêmio, que não perde em casa e que quase não ganha fora, enfrenta o São Paulo, que precisa vencer ou, no mínimo, empatar.

Luís Fernando Veríssimo, que é torcedor do Inter, deveria, em um gesto humanitário e profissional, reabrir o consultório do Analista de Bagé. Só o analista, com a técnica do joelhaço, aplicada em todo o elenco e em toda comissão técnica, poderá resolver o grave problema psicológico de o Grêmio não ganhar fora de casa.

Antes das duas últimas derrotas do Inter, um repórter, desses que gostam de perguntar e de elogiar ao mesmo tempo, perguntou a Mário Sérgio o que ele tinha feito para melhorar a equipe. Nas quatro partidas sob seu comando, o Inter tinha vencido duas e empatado duas. Jogou mal as quatro

Mário Sérgio, com um sorriso, respondeu, com a característica falsa humildade dos humanos, que não tinha feito nada. O “titês” era mais interessante.Antes das duas últimas derrotas do Inter, um repórter, desses que gostam de perguntar e de elogiar ao mesmo tempo, perguntou a Mário Sérgio o que ele tinha feito para melhorar a equipe. Nas quatro partidas sob seu comando, o Inter tinha vencido duas e empatado duas. Jogou mal as quatro.

Na coluna anterior, não citei Ronaldo entre os veteranos que ensinam como se joga futebol. Foi de propósito. Ronaldo é especial. Mesmo com o corpo de um atleta de final de semana, ele, em poucos lances, ainda é melhor que a maioria. O drible de corpo no goleiro do Palmeiras, antes de tocar a bola para as redes, foi espetacular.

Os “velhinhos” e o “gordinho” estão derrubando o conceito de que só dá para jogar bem, hoje, quem correr muito e tiver ótimo preparo físico.

De chuveirinho em chuveirinho, o Palmeiras enche o papo de pontos. Muricy deve treinar, em dois períodos, as jogadas aéreas. De noite, os jogadores sonham com as bolas altas. Certamente, sobra pouco tempo para outros treinamentos, como trocar passes. Muricy não deve gostar disso. Perde-se muito tempo para chegar ao gol. É mais rápido fazer ligação direta entre defesa e ataque.

O Palmeiras não faz também muitos gols pelo alto somente porque treina bem e muito. Todos os treinadores fazem isso. É também porque os jogadores procuram mais esse lance, cruzando e cavando faltas.

Não sou contra jogadas aéreas. Elas são eficientes. Sou contra a supervalorização desses lances que empobrecem o futebol.

Os ingleses, 50 anos atrás, só faziam gols dessa maneira. Alguém cabeceava ou, no bololô da área, empurrava a bola para as redes. Eram chamados de pequenos gols. Deveriam valer meio.

O São Paulo, dirigido por Muricy, corrijo, por Ricardo Gomes, ganhou do Barueri com um pequeno gol. Ainda não vi uma única diferença entre o São Paulo treinado por Muricy e o comandado por Ricardo Gomes.

Os treinadores e os meninos das categorias de base copiam o estilo das jogadas aéreas. Foi assim que o Brasil perdeu para México e Suíça, no Mundial sub-17, e foi eliminado na primeira fase. Enquanto a Suíça, acredite se quiser, mostrava mais habilidade e trocava mais passes, os meninos brasileiros corriam e cruzavam na área. O mesmo aconteceu na perda recente do Mundial sub-20, para Gana, mesmo com um jogador a mais.

Independentemente da qualidade técnica dos atletas que atuam no Brasil, estão mudando o nosso estilo. Isso é preocupante.

FERNANDO CALAZANS

Reconstrução

O GLOBO - 04/11/09

Viram Fluminense e Botafogo na última rodada? Pouco ou nada tiveram a ver com os mesmos Botafogo e Fluminense do resto do campeonato. Por que nada tiveram a ver? Jogaram muito? Não, não jogaram.
O Botafogo nem podia jogar, com menos um homem, por causa da expulsão de seu desastrado atacante. E o Fluminense até que jogou bem, jogou melhor, mas só no segundo tempo.
Por que então foram diferentes? Porque jogaram com um empenho, com um sacrifício, com uma seriedade, com um espírito de competição que jamais tiveram desde a primeira rodada.
Jogaram como quem está disputando um título, uma vaga, uma taça. Jogaram como Botafogo e como Fluminense — times profissionais de futebol, grandes clubes de futebol do país.
Há uns poucos anos, leio e ouço que times do Rio ainda não teriam aprendido a disputar campeonatos de pontos corridos. Nunca cheguei a discordar da tese, mas tampouco a abracei.
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Hoje, eu abraço. Penso mesmo que não são os únicos clubes a não entrar, digamos assim, no espírito, na essência da competição. Há outros ainda por fora do que é um campeonato de pontos corridos.
Mas a verdade é que os cariocas ainda não entraram, ou, melhor dizendo, só entraram ou entram quando a situação da competição fica muito clara para eles. E isso só acontece no fim.
Espero que me entendam. Fluminense e Botafogo começaram a disputar o campeonato há, quem sabe, três, quatro rodadas, quando enfim perceberam que a situação era feia. Quer dizer: custaram demais a entender a competição. É coisa de amadores, não de profissionais.
O Flamengo, por exemplo, compreendeu um pouco antes. Mais tarde também do que devia, mas compreendeu antes de Botafogo e Fluminense.
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E quem compreendeu antes de todos foram, por exemplo, os clubes paulistas, que há cinco anos dominam o Campeonato Brasileiro. Podem até não começar a disputar a competição desde a primeiríssima rodada — como deve ser —, mas começam antes dos outros. Com mais organização, mais planejamento, mais profissionalismo, mais seriedade. E por isso chegam em primeiro.
Outros, como os cariocas, imaginam que tudo pode ser resolvido no fim. Ignoram o velho e sábio ditado popular. Deixam tudo para amanhã.
Bravos companheiros de imprensa esportiva já ensinaram muito antes desta coluna: Campeonato Brasileiro tem que ser disputado desde a primeira — primeiríssima rodada.
Cada jogo é uma decisão. Que os times se preparem para ela, portanto, e não só para as últimas rodadas.
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Atenção, caros cariocas: entrem no campeonato como se o primeiro jogo fosse o último! Espelhem-se no primeiro dos tantos versos antológicos de Chico na letra de “Construção”: “Amou daquela vez como se fosse a última”.
Não quero dizer em absoluto que, se tivessem jogado assim desde a primeira rodada, Fluminense e Botafogo estariam disputando o título.
Penso mesmo que não possuem time para isso. Mas tenho certeza de que tampouco estariam com a corda no pescoço, lutando para fugir da forca.
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Enfim, os companheiros tinham razão: os times do Rio não sabem (ainda) disputar campeonato de pontos corridos. Mas são profissionais? Têm profissionais nos seus respectivos departamentos de futebol? Isso parece que sim. Há gerentes, técnicos, supervisores e também diretores remunerados.
Talvez tenham tudo isso, mas, paradoxalmente, não tenham profissionalismo. Nem tenham competência.
No dia em que tiverem as duas coisas, aprenderão a disputar o campeonato. Quem sabe um dia... Quem sabe um ano.

AZAR DE QUEM?

FERRARI x CORCEL I

FERNANDO DE BARROS E SILVA

A São Paulo de Lévi-Strauss

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09

SÃO PAULO - "Um espírito malicioso definiu a América como uma terra que passou da barbárie à decrepitude sem conhecer a civilização. Poder-se-ia, com mais acerto, aplicar a fórmula às cidades do Novo Mundo: elas vão do viço à decrepitude sem parar na idade avançada". O antropólogo Claude Lévi-Strauss inicia com essas palavras, bem conhecidas, o capítulo sobre "São Paulo", o 11º de "Tristes Trópicos", dedicado a relatos e reflexões em torno de sua viagem ao Brasil.
Lançado só em 1955, 15 anos após a volta do autor à França, o livro tem um forte acento literário e ensaístico, o que o torna bom de ler.
Ao chegar a São Paulo em 1935, Lévi-Strauss diz que "não foi o aspecto novo que de início me espantou, mas a precocidade dos estragos do tempo". Logo adiante, ele ironiza o afã do progresso de uma cidade que se "desenvolve a tal velocidade que é impossível obter seu mapa: cada semana demandaria uma nova edição". São Paulo lhe parece em contínuo processo de construção e dissolução -um amálgama de novidades e ruínas incapaz de alcançar a civilização. Fisicamente, a cidade descrita não existe mais, o que comprova o acerto das observações.
Na década de 30, o provincianismo da sociedade paulistana impressiona e diverte o francês de espírito cultivado. "Tristes Trópicos" é cruel com nossas veleidades.
Como suas orquídeas prediletas, diz Lévi-Strauss, a elite paulista "formava uma flora indolente e mais exótica do que imaginava" -e a cultura, "até época recente, era um brinquedo para os ricos".
Falando sobre a USP, que ajudou a criar, Lévi-Strauss diz ter julgado seus colegas nativos com "uma compaixão um pouco arrogante". E explica: "Ao ver aqueles professores miseravelmente pagos, obrigados, para comer, a fazer obscuros trabalhos, senti orgulho de pertencer a um país de velha cultura, onde o exercício de uma profissão liberal era cercado de garantias e de prestígio". O tempo passou, mas "Tristes Trópicos" dá muito o que pensar.

RUY CASTRO

Minissaias de 1967

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09

RIO DE JANEIRO - A história de Geyse, a estudante agredida por 700 colegas de faculdade em São Bernardo do Campo por usar um vestido curto, me devolveu a 1967, quando nós, os rapazes do 1º ano do curso de ciências sociais da FNFi (Faculdade Nacional de Filosofia), no Rio, víamos com muito prazer o fato de que a maioria das meninas da turma ia de minissaia à aula.
Não eram minissaias sóbrias, a menos de um palmo do joelho, como o vestido de Geyse. Eram muito mais curtas. E nenhuma das moças, por mais bonita, fazia aquilo para provocar. Elas eram modernas, liberadas e gostavam de namorar -claro que só namoravam quem quisessem. Algumas liam Régis Débray; outras, Hermann Hesse; e, ainda outras, "Peanuts"; mas todas eram divertidas, inteligentes e politicamente atuantes.
No dia seguinte às passeatas contra a ditadura na avenida Rio Branco, uma ou duas apareciam na faculdade com as coxas e canelas salpicadas de curativos, resultado das bombas de "efeito moral" que os agentes do Dops soltavam no meio da turba e, ao explodir, despejavam estilhaços que cortavam de verdade. Ao contrário de nossos jeans, grossos como couro e que nos protegiam as pernas, as minissaias expunham as garotas a esses riscos -que elas enfrentavam com graça e coragem.
Várias lutaram à vera contra os militares e pagaram o preço, na forma de prisão, tortura, exílio ou morte de alguém próximo. Mas, sabe-se como, todas completaram o curso. No futuro, muitas se tornaram mestras ou doutoras respeitadas em suas carreiras, ainda que fora da sociologia.
Às vezes reencontro-as em reuniões aqui no Rio. Estamos 40 anos mais velhos, mas, nas minhas fantasias, elas continuam as mesmas meninas de 1967: alegres, responsáveis, cultas -e irresistíveis em suas minissaias.

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JOSÉ SIMÃO

Uau! Dilma inaugura buraco de tatu!

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/11/09



Pra preservar a espécie, os morcegos transam até com a sogra. Por isso é que transmitem raiva


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Lá se foi o ultimo feriadão do ano!
Depois de cinco dias na Bahia, de volta a São Paulo. A marginal Tietê continua linda! Rarará. E sabe o que eu vou pedir pro Lula? Aposentadoria por tempo de praia. Aposentadoria por tempo de Havaianas! E lá na Bahia tem uma barraca chamada BURRALINDA! Eu não sei se o dono é zoófilo, se está apaixonado por uma jega, se é homenagem à mulher dele ou se é homenagem à Carla Perez!
E deu na Folha: "Morcegos praticam sexo oral para prolongar a relação". É o Batman! Por isso que o Batman e Robin tiveram uma relação tão longa. Morcego é um bicho esquisito. Pra preservar a espécie, eles transam até com a sogra. Por isso é que transmitem raiva. Rarará. Ainda bem que eu não nasci morcego!
E sabe o que o Batman faz quando se lembra do Robin? Pega o bat-móvel, vai pra bat-caverna e bat-uma. Rarará! E qual a próxima inauguração da dupla Lula e Dilma? Tão inaugurando até buraco de tatu! A Dilma inaugura buraco de tatu. Qualquer dia, eles abrem a cortina da sala e inauguram a janela!
E o Ecad diz que hotéis e motéis têm que pagar direitos autorais. O Roberto Carlos vai ficar quaquilionário. E o Wando e o Dicró?
E no fim de semana teve Parada Gay no Rio e Marcha para Jesus em São Paulo. Conhecida como A Marcha das Héteras. As bibas que se arrependeram e viraram héteras. Mas como disse aquela biba: se Deus fosse gay, o mundo seria mais arrumadinho! Rarará. É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão!
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.
É que em Fortaleza, no Ceará, tem um bar chamado Bar dos Otários. E vive cheio! Rarará. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Isqueiro": lugar onde se arranca minhoca pra pescar lambari!
O lulês é mais fácil que o ingrêis.
Nóis sofre, mas nóis goza.
Hoje só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.