FOLHA DE SP - 01/01
Muita gente acredita que mudar o sistema previdenciário do país é uma forma de submissão do governo aos desejos inescrupulosos do mercado financeiro e dos fiscalistas de plantão. Ledo engano.
Se uma despesa avança em velocidade incompatível com a receita usada para bancá-la, só há dois caminhos para corrigir a distorção: você gera mais dinheiro para financiar a festa ou pisa no freio do gasto.
O orçamento de um governo é semelhante ao de uma pessoa comum. Se seu salário é de mil moedas e suas despesas bateram em mil e duzentas, está na hora de pedir aumento ou diminuir a lista de despesas. Não há mágica. O problema é que quando o assunto é Previdência, todo mundo espera a chegada do ilusionista.
Governos só conseguem engordar o caixa cobrando mais impostos. Mas quem já paga tributos (muitos) não vê com bons olhos tal alternativa.
Então, chegamos à segunda opção: a tesoura. "Mas como cortar despesas num país tão carente?", ponderam alguns. "Como propor mais tempo de trabalho para quem está próximo de encostar a chuteira?", questionam outros. O caminho do equilíbrio nunca foi uma via fácil.
A discussão sobre a reforma previdenciária voltou ao palco sob a regência de Nelson Barbosa, que pode ser chamado de várias coisas, menos de amigo do capital especulativo.
Ele pode não ser petista de raiz, mas acredita que no espectro político brasileiro atual coisa melhor não há.
Ainda assim, Barbosa sabe que a população está envelhecendo e vivendo mais. E a turma da ativa é insuficiente para garantir o funcionamento da engrenagem. Não há mágico que consiga mudar essa realidade.
Só o reajuste do salário mínimo neste ano novo que começa vai custar mais R$ 37,1 bilhões ao combalido cofre da Previdência Social.
Se o sistema não mudar, ele vai pifar. Mas alterações dessa magnitude só acontecem em governos fortes e com amplo apoio, dois elementos em falta há muito tempo no país.
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