FOLHA DE SP - 01/01
"'Flá-flu político dificulta retomada da economia', diz diretor do FMI." Foi uma das manchetes da Folha na última segunda-feira. Li-a várias vezes sem entender. Não pelo conteúdo, bastante claro -enquanto o imbróglio político não se resolver, o Brasil continuará sendo uma briga de carecas por um pente-, mas pela forma. Refiro-me ao novo acento agudo no "a" de Fla, que agora se escreve "á". Daí, "Flá-flu".
Investiguei e descobri que é uma das imposições da recente reforma ortográfica, a mesma que aboliu o trema em "lingüiça", o hífen em "cara-de-pau", o acento em "pára", do verbo parar, e os circunflexos de "vôo", "enjôo" e "abalrôo". Talvez para compensar, os autores da reforma resolveram acrescentar um acento numa expressão que atravessou grande parte do século 20 sem precisar dele e foi sempre entendida pelos principais interessados: os torcedores do Flamengo e do Fluminense.
O primeiro Fla-Flu, ainda sem se chamar Fla-Flu e muito menos "Flá-flu", foi no dia 7 de julho de 1912. Meses antes, os craques do Fluminense, campeões cariocas de 1911, tinham brigado com o clube e saído para fundar o futebol do Flamengo, até então um clube de remo. Donde esse primeiro jogo era entre os antigos titulares do Flu contra os seus reservas, e mesmo assim o Fluminense venceu por 3x2. Mas o Flamengo venceu os sete jogos seguintes entre eles. Nascia a rivalidade. Em 1936, jogaram-se dez Fla-Flus, já assim chamados por Mario Filho -sem acento e com as duas iniciais em maiúsculas.
Hoje, em todo o Brasil, usa-se "Flá-flu" para significar um arranca-rabo ou briga feia. Tudo bem. Mas, no Rio, o Fla-Flu é um jogo mais tranquilo e civilizado do que o Fla x Vasco ou o Fla x Botafogo.
O mistério está no acento. Como diabos se pronuncia "Flá-flu"? Diferente de "Fla-Flu"? Ou será "Fla-flo"?
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