As evidências de interferência política na Operação Lava-Jato, antes mesmo da divulgação dos nomes de políticos envolvidos, e a constatação de que até mesmo o Carnaval, uma das mais autênticas manifestações brasileiras, rendeu-se por dinheiro a uma ditadura sanguinária expõem uma face cruel do país, sob todos os aspectos. Nesse mesmo cenário de desolação, porém, algumas instituições reforçam seu papel na democracia, como demonstra a inédita decisão do Ministério Público de cobrar R$ 4,47 bilhões como ressarcimento de parte dos recursos desviados da Petrobras, apurados na operação Lava-Jato da Polícia Federal. E, por todo o país, mais brasileiros do que nunca aproveitaram o Carnaval para sair à rua espontaneamente, recorrendo à irreverência para denunciar desmandos e cobrar providências.
De um lado, portanto, há um país que se revela internamente e ao mundo como vulnerável à pressão do dinheiro sujo, a ponto de colocar em risco a imagem de sua maior empresa e de seu principal evento turístico. Seja na Petrobras, seja no Carnaval, em ambos os casos símbolos do que o país já teve de melhor, os desvios não podem mais ser tolerados. Tampouco podem se prestar para relativizações do tipo “foi sempre assim” e “todo mundo faz”. E muito menos para tergiversações como a manifestação de ontem da presidente Dilma, que tenta transferir responsabilidades para o governo FH. A sociedade brasileira vive um momento em que já não suporta mais tanta hipocrisia. Livrar-se dessa chaga, que favorece alguns em prejuízo de todos e da própria imagem nacional, exige persistência dos órgãos de fiscalização e impõe custo para o país, que no final será compensado.
Felizmente, as instituições se mostram determinadas a cumprir o seu papel, acima de interesses políticos e apesar da multiplicação de novos casos _ o mais recente dos quais envolvendo o banco HSBC. As pressões por parte de empreiteiras que estariam ocorrendo no âmbito do Ministério da Justiça e a mobilização no Congresso para preservar políticos na mira da Lava-Jato dão uma ideia do quanto a sociedade precisa, permanentemente, cobrar transparência dos homens públicos e se mostrar vigilante em relação a seus atos.
O fato inequívoco é que as denúncias e as investigações de falcatruas, assim como a indignação popular despertada pelo noticiário, indicam uma expressiva maioria da população a favor de um Brasil mais íntegro. Isso significa que o país precisa fortalecer as instituições democráticas para atingir patamares éticos mais elevados.
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