CORREIO BRAZILIENSE - 22/02
As cotas nas universidades públicas têm suscitado debates desde a implantação em 2001. Uma das críticas se centrou na destinação. Em vez de privilegiar os negros, a reserva de vagas deveria ser mais abrangente. Deveria ser social, não racial. Indiretamente, os afrodescendentes seriam contemplados já que compõem a parcela mais pobre da população.
Pioneiras, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade de Brasília (UnB) saíram na frente. A UnB destinou 20% dos assentos a negros, pardos e índios durante 10 anos. Avaliado no ano passado, o percentual baixou para 5% por causa da cota social introduzida pela Lei nº 12.711, de 2012: de 2016 a 2023, pelo menos 50% das vagas têm destino carimbado.
Uma das marcas do Brasil é a de país injusto. Iniciativa como a de abrir as portas de universidades públicas para jovens impossibilitados de transpô-las até então significa inestimável avanço. São as instituições mantidas pelo Estado que oferecem a melhor qualidade de ensino - essencial para o acesso efetivo ao conhecimento e, com ele, aos degraus que permitem a ascensão social.
A lei acerta ao fixar prazo para a vigência da exceção. É importante que o regime extraordinário seja transitório. Mais: que seja desnecessário. Urge, para tanto, cuidar dos níveis fundamental e médio. A excelência das instituições de ensino superior têm muito a ver com o recrutamento. Calouros preparados, ávidos por avanços que lhes garantam lugar na elite nacional e internacional, fazem a diferença na formação superior.
Quanto maior a exigência do estudante, mais desafiada se sente a escola a dispor de respostas aptas a satisfazê-lo. Uma vaga na Universidade de Shangai, por exemplo, é disputada por 800 candidatos. A qualidade dos selecionados pressupõe professores aptos a lhes dar respostas à altura da curiosidade que os mobiliza. Não por acaso, a maior universidade chinesa ocupa o topo no ranking das melhores do mundo.
No discurso de posse, Dilma Rousseff anunciou que o slogan do segundo mandato seria "Pátria Educadora". As palavras vieram ao encontro das urgências nacionais. Mas impõem-se ações efetivas para passar do discurso à prática. O desafio é hercúleo. Instalações adequadas, material didático de qualidade, uso eficaz das novas tecnologias põem à prova a determinação da presidente.
Acima deles, o maior - a existência de recursos humanos aptos a levar avante o projeto. Negligência de décadas afugentou os talentos do magistério e fechou faculdades destinadas a formar professores. Mestres, vale lembrar, não se compram em supermercado.
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