sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Mercados e tempestades - PAULO SILVA PINTO

CORREIO BRAZILIENSE - 07/02
Serão conhecidos hoje os números da pesquisa periódica mais completa sobre o mercado de trabalho norte-americano, que, de acordo com as expectativas lá e cá, não devem ser muito favoráveis. Em levantamento um pouco menos abrangente, divulgado na quarta-feira, a criação de vagas em dezembro ficou aquém do que era esperado.
Não foi grande surpresa, por uma questão momentânea: em função do frio extremamente intenso nos Estados Unidos, as pessoas têm deixado de sair às ruas para procurar emprego. Mas foi o suficiente para levar pessimismo às bolsas de valores do país e de vários emergentes, incluindo o Brasil.

Embora a expectativa com os resultados a serem publicados hoje já esteja no radar de muitos operadores - portanto, precificado, como se diz no jargão do mercado -, é de esperar certa intensificação do mau humor.

São tempos difíceis os nossos, desses em que faz todo sentido a frase "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Qualquer indício de frustração quanto à retomada da economia norte-americana faz a bolsa brasileira cair e as expectativas de nosso crescimento econômico se deteriorarem. Mas se a atividade se intensifica por lá, a cobrança vem de outro jeito. O dólar sobe em relação ao real, porque os Estados Unidos se tornam mais atraentes aos investidores, ainda mais ariscos neste ambiente de turbulências.

O perigo de divisa estrangeira mais cara no Brasil é inflação mais alta, contaminada pelo comércio exterior. E todo mundo passa a contar com o remédio mais fácil para combatê-la: uma carga maior de juros - expectativa que se transforma em realidade imediata nos mercados futuros.

Muitos analistas acham que há pouco a fazer além de esperar a tempestade passar. Mas ponderam que estaríamos menos sujeitos à intempérie se tivéssemos construído abrigo melhor, na forma de situação fiscal mais sólida. E como o mercado é alimentado por expectativas, não custa começar a trabalhar já, mesmo que haja pouca margem de manobra no momento.

Todo verão, quando as chuvas se intensificam, somos relembrados de que os deslizamentos e as enchentes poderiam ter sido evitados com o trabalho de prevenção nos meses de sol. Este verão está mostrando o quanto a mesma recomendação é útil para a economia.

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