quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Eduardo Campos faz profissão de fé oposicionista - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 06/02

Nuvens na rota programada pelo PT, pois o governador é uma dissidência do campo da esquerda e com credenciais para ser bem votado no Nordeste



Até por uma questão de geração, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, hoje com 48 anos, tinha aspirações legítimas para depois dos dois mandatos de Lula, de quem foi ministro de Ciência e Tecnologia. Com a administração bem avaliada, Campos, presidente nacional do PSB, passou a ser ameaça latente aos planos do PT em Brasília. Até que, nas eleições municipais de 2012, se ele guardava alguma dúvida com relação a 2014, deixou de tê-las diante da intervenção com mão pesada dos paulistas do PT no pleito do Recife, onde socialistas e petistas eram aliados. Mas Geraldo Júlio, candidato do governador, venceu o petista Humberto Costa, e no primeiro turno.

O jeitoso Lula ainda tentou conversar para conter Eduardo Campos. Não conseguiu. Já virtualmente candidato à sucessão de Dilma Rousseff, o governador recebeu a ajuda da adesão de Marina Silva e sua Rede, e na terça-feira os dois lançaram, em documento de 72 páginas, diretrizes para a formulação do programa de governo da coligação PSB-Rede-PPS. O discurso do pré-candidato foi de clara oposição: “(...) O Brasil parou. Tem uma dinâmica econômica que não funciona. Não há política econômica que se sustente como esta.”

Começa, então, a se configurar um cenário negativo para a favorita Dilma Rousseff, com o fato de haver uma chapa oposicionista dentro do próprio campo político dominado pelo PT. Algo diferente do que aconteceu em 2010, quando a já dissidente Marina arrebanhou no primeiro turno surpreendentes 20 milhões de votos. O ardor oposicionista da ex-petista Marina Silva, no entanto, não foi suficiente para levá-la a apoiar no turno final o oposicionista tucano José Serra contra a candidata de seu antigo partido, Dilma. Com quem se desentendera quando era ministra do Meio Ambiente de Lula, e a atual presidente, chefe da Casa Civil, gerente plenipotenciária do governo.

Se houver segundo turno este ano e Eduardo Campos ficar de fora, seu comportamento deverá ser diferente. Especula-se até que já haveria acordo neste sentido entre ele e o tucano Aécio Neves. Quem for para a disputa final receberia o apoio do outro. Para projetar mais nuvens na rota programada pelo PT, Campos é um candidato com credenciais para ser bem votado no Nordeste, região pródiga para petistas. Como Aécio é favorito em Minas e espera contar com apoio do governo tucano de Geraldo Alckmin em São Paulo, aumentam as chances teóricas do segundo turno.

Mas ainda há muitas léguas à frente do pré-candidato socialista. Resistências de Marina a alianças regionais com o PSDB inspiram análises maldosas de que a fundadora da Rede está mais interessada em fortalecer seu partido do que no futuro de Campos. A resistência da Rede ao agronegócio, sem o qual as contas externas brasileiras já teriam explodido e, com elas, o câmbio, também é um ponto sensível a ser administrado pelo futuro candidato socialista. Nada parece fácil, a esta altura, para todos os aspirantes ao Planalto. Inclusive para quem deseja continuar nele, a favorita.

Nenhum comentário: