domingo, novembro 17, 2013

As prioridades - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 17/11
"Estamos juntos", disse Lula por telefone a Dirceu e Genoino momentos antes de os dois condenados pelo mensalão se entregarem à Polícia Federal. Em público, porém, Lula age erraticamente, num momento diz que vai falar sobre o mensalão quando o julgamento acabar, para em seguida dizer que quem tem que falar são os advogados de defesa. "Quem sou eu para comentar uma decisão do Supremo?", pergunta candidamente Lula.
As prioridades Nos bastidores, ele e a presidente Dilma fazem um balanço das consequências políticas das prisões e concluem que no final foi bom que saíssem ainda em 2013, pois quando começar o período de campanha eleitoral o assunto já estará ultrapassado e não afetará a campanha de reeleição de Dilma.

É assim, entre o pragmatismo eleitoral e a esperança insinuada de que uma hora Lula revelará verdades sobre o mensalão, que o PT vai levando a vida no poder. Quem se der ao trabalho de fazer uma pesquisa sobre as reações de Lula no curso desse processo, que começou em 2005 com a denúncia de Roberto Jefferson, vai constatar que o ex-presidente nunca teve muita convicção sobre como enfrentar as denúncias contra o PT.

De um presidente amedrontado e encurralado pelas denúncias, que chegou a pedir desculpas ao povo brasileiro, ao político arrogante, que insinuou ter revelações nunca feitas sobre o caso, Lula oscilou e oscila até hoje enquanto espera o momento apropriado para deslanchar a campanha pela manutenção do poder petista, que é o que realmente lhe interessa.

Se a reeleição da presidente Dilma for o caminho mais natural para essa eternização no poder, lá estará Lula para comandar a campanha. Mas se for preciso entrar em campo para garantir o poder petista, Lula não se furtará à missão. Há vários indícios, que se acumulam, de que ele já está com a mão na massa para assumir a tarefa, diante da estagnação da presidente Dilma nas pesquisas eleitorais.

Mesmo favorita, ela parou em torno dos 40% de preferência há alguns meses, e esse é um sintoma de que pode ter atingido seu teto. Nunca é demais lembrar que por esta época, na eleição de 2010, o então governador de São Paulo, José Serra, estava na frente das pesquisas com os mesmos 40% de preferência.

A situação atual é favorável a Dilma, que tem a caneta mais poderosa da República e, a dar-lhe respaldo, Lula, o cabo eleitoral mais eficiente que se pode ter. Mas o nível de desconfiança do PT com Dilma é tão alto que qualquer indício de que sua candidatura pode representar um risco para o projeto petista de permanecer no governo é superdimensionado para permitir a inclusão no debate da necessidade de Lula tomar a frente da campanha como candidato, não como coadjuvante.

O projeto de permanecer no poder por 20 anos ou mais não é exclusivo do PT e em si mesmo não representa nenhum problema.

Collor tinha o mesmo projeto, e também o PSDB. O problema passa a existir quando a maneira de se atingir o objetivo foge das regras democráticas.

O PSDB beirou esse limite quando fez aprovar a reeleição para Fernando Henrique, pois embora a tenha aprovado no Congresso, o mais correto seria que a regra passasse a valer para o próximo presidente da República.

As acusações de corrupção para a aprovação são frágeis, pois a reeleição interessava naquele momento a todos os governadores e prefeitos em exercício, não havendo necessidade de uma ação corruptora em espécie.

Casos isolados refletem mais questões políticas locais.

E o PT com o mensalão extrapolou qualquer limite, montando um esquema de compra de apoio no Congresso mediante pagamento. O interessante é que esse esquema só existiu porque Lula se recusou a colocar o PMDB no ministério, como negociado por José Dirceu, obrigando que um Plano B fosse colocado em ação para garantir a maioria no Congresso.

Depois de se ver ameaçado pelo impeachment, Lula abriu as portas de seu governo a qualquer partido, dando- lhe nacos do poder em troca da fidelidade, um mensalão menos rude. É o que chamo de maioria defensiva, serve apenas para evitar ações contra o governo, não para fazer reformas ou para ousadias governamentais. 

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