domingo, agosto 25, 2013

Alvo móvel - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25//08

Todos os grandes partidos, sem exceção, estão mergulhados em pesquisas qualitativas para entender o que vai na alma do maior segmento social do país, a classe C. A ordem é descobrir o que eles pensam, como vivem, o que mais lhes importa na vida. O esforço faz sentido. A classe C é que decidirá a eleição no ano que vem. E, pelo que se descobriu até agora, essa parcela, que representa 54% da população brasileira, não é muito sintonizada nos partidos políticos. Só 5% têm simpatia por alguma das 30 agremiações registradas hoje no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O PSB, por exemplo, teve acesso a dados que políticos e publicitários vão começar a trabalhar. As famílias têm renda per capita que varia de R$ 300 a R$ 999. Os “cês” se relacionam com os vizinhos (coisa que não se repete nas classes A e B). Na maioria das casas dessas famílias, a comandante é a mulher, enquanto o marido é o provedor. Ele leva o dinheiro para dentro de casa, mas quem determina como gastar e onde é a “patroa”, responsável pelo dia a dia da administração doméstica. Para se ter uma ideia, os estudos indicam que 95% dos maridos preferem, na maioria das vezes, mudar de opinião do que brigar com a mulher.

Um dos valores mais caros para esse grupo é a educação, o sonho de ver os filhos formados e com uma vida mais tranquila em termos financeiros. Os filhos são mais instruídos do que os pais, acessam a internet e, por conta desse grau de instrução melhor, acabam influenciando os demais familiares na hora de escolher candidatos. É aí que muitos estudiosos começam a explicar, por exemplo, parte do expressivo percentual de intenção de votos registrado em favor da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Marina tem votos entre os jovens e, pelo menos na classe C, esses jovens influenciam a escolha dos pais.

Mas não é apenas o sonho da juventude que embala os “cês”. Eles são pragmáticos. E perdem o humor com o tempo perdido nos deslocamentos para o trabalho, ou seja, anseiam por projetos de mobilidade urbana. Na eleição municipal paulistana, os “cês” — em sua maioria cristãos, com prevalência dos evangélicos — ajudaram a sustentar os altos índices em favor de Celso Russomanno, do PRB, ao longo da campanha. Bastou Russomanno aparecer com a proposta da tarifa de ônibus proporcional para que os índices nesse segmento esfarinhassem. Ainda que o candidato insistisse que as pessoas pagariam menos, os “cês” entenderam que eles pagariam mais pelo deslocamento. Isso porque eles estão em bairros distantes do centro nervoso das cidades.

O pragmatismo da classe C não admite sequer a sopa de números que os candidatos costumam levar aos horários eleitorais. PIB, inflação, percentual de médicos por habitante, indicador em alta no momento por conta da chegada dos médicos cubanos. E descobriram o consumo. Só que, em vez das marcas mais famosas, optam pelas concorrentes delas. No caso das maquiagens, por exemplo, as mulheres consideram investimento na carreira profissional, especialmente as jovens.

Quanto à reforma política, tão em alta nas discussões congressuais, os “cês” não se mostram muito antenados. Tampouco perdem tempo com expressões do tipo pacto federativo, voto proporcional, distrital, ou coisa que o valha. O que desejam, sinceramente, é ver o eleito “agarrado no serviço”, ou seja, projetos de educação, postos de saúde funcionando a contento, sistema de transporte eficiente e, para completar, sossego e segurança para curtir o fim de semana. Quem der a eles essas esperanças, terá meio caminho andado para ser feliz em outubro de 2014.

Por falar em esperanças…
O fato de o PSB estar tão aplicado nesses estudos é mais um sinal de que Eduardo Campos será candidato a presidente. E, por incrível que pareça, o PT pernambucano torce para que o governador concorra ao Planalto, porque considera que, assim, será mais fácil derrotá-lo na campanha estadual. Os petistas consideram que, se o PSB estivesse inclinado a apoiar Dilma, Eduardo exigiria o apoio do PT a um candidato de seu partido no estado. E, em nome da aliança nacional, restaria aos partidários da presidente aceitar a proposta do PSB. Para você ver, leitor, nem todas as construções de Lula, que trabalha em favor do apoio de Eduardo a Dilma, unem o PT.

E no PSDB…
Perguntei ao ex-presidente do partido João Pimenta da Veiga se ele havia se mudado com a família para Minas Gerais com o intuito de ser candidato a governador. Vejam o que ele respondeu: “É uma especulação que você está fazendo e não posso impedi-la de fazer”. Para bons entendedores, Pimenta está na pista.

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