quarta-feira, julho 10, 2013

Humilhação, teu nome é Ideli - ROSÂNGELA BITTAR

VALOR ECONÔMICO - 10/07

É certo que a ministra Ideli Salvatti não teria no momento à sua disposição melhor vitrine do que o cargo de ministra da coordenação política, gestora das Relações Institucionais entre o Executivo e o Legislativo, um bom gabinete no Palácio do Planalto, sede da Presidência da República, para esperar por uma hipotética candidatura ao governo de Santa Catarina. Mas até a lembrança disso já é uma afronta.

O que está acontecendo com ela, e a ministra certamente não merece, não é sequer um novo modelo de fritura, aquele processo que vai empurrando o auxiliar contra a parece até que ele, para respirar, peça as contas.

Nem isso lhe é permitido. Todos os dias há informações sobre reforma ministerial, aquela que daria agilidade e eficiência ao governo, e logo vem a contrainformação sobre o engavetamento da ideia, que até a véspera era certeza absoluta, pela enésima vez, por Dilma Rousseff. A presidente parece não querer que seus subordinados peçam demissão, gosta de ser ela a senhora do destino.

A especulação nova é que Mercadante sucederá Dilma

Entretanto, não há como negar: este é um método humilhante como nunca se viu nos mais recalcitrantes reformadores de ministério.

Como é conhecido o desgosto presidencial para o contato com deputados e senadores da base aliada - com a oposição, de resto, são inexistentes - a ministra cuja tarefa primordial é fazer essa ponte sempre foi desprestigiada, criticada, taxada de inoperante e incompetente, pelos dois lados cuja negociação deveria coordenar. É do jogo e ela sabia que assim seria, pois a presidente é ministra de todas as atividades do seu governo. Agora, porém, a história é outra.

Dilma Rousseff resolveu transferir ao Congresso a responsabilidade pelo não atendimento aos protestos populares. Todos os temas que apresentou estavam na área de negociação da ministra Ideli: a Constituinte exclusiva para fazer a reforma política teve sobrevida de horas; o plebiscito, a ser convocado pelo Congresso para fazer a reforma política do PT, durou dois dias. As duas iniciativas foram entremeadas de reuniões com governadores, prefeitos, deputados, senadores, líderes, presidentes da Câmara e do Senado, vice-presidente da República, para firmar cinco pactos que, apesar do nome, pareceram unilaterais. A ministra da coordenação política nada liderou ou coordenou.

Eis que surgiu um inimigo internacional para unir os nacionais: agarrou-se o governo, desviando-se temporariamente dos reclamos reivindicatórios mas ainda em temática popular, à ignomínia estadunidense, país sempre taxado de inimigo público em geral, que agora deu para espionar até brasileiros. Isso bastou para que o marco regulatório da internet, com o qual se vai combater esse tipo de bisbilhotice, se transformasse na salvação da moral, e com ele fosse encontrada uma nova tarefa para a ministra Ideli.

Ao vice-presidente da República, aos presidentes da Câmara e do Senado, ao chanceler, ao ministro da Justiça e ao ministro das Comunicações, além do ministro da Defesa, a todos, enfim, foi determinado: é a vez da regulação da internet, que tem que ser levada adiante, com barulho internacional.

Ideli começou a reaparecer no vai-e-vem dessa tramitação. Não havia participado da cena da Constituinte exclusiva, da fotografia do plebiscito ou dos pactos, esta agora, embora não fosse exclusiva sua, estaria nela incluída.

Já foi esquecido que nos acontecimentos anteriores foi substituída, em primeiro plano, pelo ministro da Educação Aloizio Mercadante, em segundo, pelo ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, em terceiro pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em outro pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Sua missão agora estava antes com o ministro das Comunicações: fazer andar no Congresso a nova panaceia.

Amigos da ministra dizem que ela está bem no governo. Inclusive, alegam, quem passou quatro horas no Palácio da Alvorada, no fim de semana, não está de todo desprestigiada. Mas sua exposição foi tão contundente que na segunda-feira, depois de um dia inteiro de boatos, o ministro Aloizio Mercadante teve que se manifestar para negar que vá assumir oficialmente a articulação política do governo. Negou também que vá ser ministro da Fazenda no lugar de Guido Mantega. Ou que será o ministro-chefe da Casa Civil. É até possível que o ministro da Educação fique onde está no segundo mandato se Dilma vier a ser reeleita. É que foi orientado a manter posição, pois a Educação receberá um volume extraordinário de verbas dos royalties do petróleo e será possível fazer tanto, mas tanto, que o ministro será cogitado não para os cargos desses ministros que balançam. A ele foi dito que, se aceitar o conselho, terá condições de ser o sucessor de Dilma.

Os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Henrique Alves e Renan Calheiros, não entenderam nada do que ouviram e viram nas ruas, do que já passaram em períodos administrativos anteriores ao atual, do que já enfrentaram na Justiça. Usar jatinhos da alegria, a esta altura, é, no mínimo, antes de qualquer investigação, um crime de ignorância. Feito um registro, é preciso fazer outro: o Congresso Nacional contabilizou como retaliação do Executivo, especialmente da presidente Dilma Rousseff, e mais especialmente contra o PMDB, o vazamento do uso da FAB para viagens particulares de Renan, Henrique e do ministro Garibaldi Alves. Foi no PMDB, segundo a conta depois cobrada pelo Planalto ao brandir a transgressão, que o plebiscito começou a naufragar.

Foi no PMDB, e essa é quase inacreditável, que a tese da redução do número de Ministérios para dar eficiência ao governo mais prosperou. Inclusive, em torno do tema reuniram-se os mais ardilosos condutores do partido.

Porém, agremiação de artistas que é, foi ao PMDB que o governo recorreu, ontem, para tentar levantar no Congresso a nova onda do marco regulatório da internet.

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