O ESTADO DE S. PAULO - 05/02
Contrariando o otimismo do governo, o ano começou muito mal no comércio exterior brasileiro, com um déficit de US$ 4,03 bilhões no primeiro mês. Esse valor resultou de exportações de US$ 15,96 bilhões e importações de US$ 20 bilhões. Preocupa, em primeiro lugar, a dimensão do rombo. Resultados negativos podem ocorrer sem grande surpresa no começo do ano. Nos dez janeiros contados a partir de 2004, houve seis superávits e quatro déficits, mas nenhum saldo tão ruim quanto o do mês passado. O pior havia sido o de janeiro de 2012 (US$ 1,31 bilhão), 67,49% menor que o deste ano. Em segundo lugar, o número assusta porque parece confirmar a tendência de piora das transações comerciais do País e, portanto, das contas externas. Já em 2012 o saldo comercial, de US$ 19,43 bilhões, foi 34,78% menor que o de um ano antes. O Brasil, ninguém deveria esquecer, precisa de grandes saldos positivos no comércio de mercadorias, por causa do déficit estrutural na conta de serviços e de rendas. Não é um luxo, mas uma questão de segurança.
O mau resultado de janeiro reflete, em parte, a forma especial de registro das importações da Petrobrás. Desde o segundo semestre do ano passado, a Receita Federal tem permitido o registro das compras de combustíveis até 50 dias depois do desembaraço dos produtos. Por isso, as importações contabilizadas em janeiro incluem cerca de US$ 1,6 bilhão de compras realizadas no ano passado. Em condições normais, portanto, o déficit de janeiro teria ficado em cerca de US$ 2,43 bilhões, ainda muito maior que o do ano anterior, mas bem inferior ao registrado oficialmente no mês passado. Em contrapartida, o superávit comercial de 2012 teria caído para uns US$ 17,83 bilhões e a queda de um ano para outro teria chegado a 40,1%. Conclusão: quanto a um ponto, pelo menos, é irrelevante contabilizar aquelas importações em janeiro ou nos meses anteriores, porque a tendência de piora da balança comercial se mantém.
Sem aquele valor dos combustíveis, o valor importado em janeiro ainda ficaria em US$ 18,4 bilhões, um gasto 5,47% maior que o do mês correspondente de 2012. A tendência de aumento das importações seria mantida, enquanto o valor exportado, US$ 15,96 bilhões, continuaria 1,07% inferior ao de um ano antes. É este o detalhe mais relevante. A receita do comércio exterior permanece estagnada ou mesmo diminuiu, enquanto a despesa com as compras de produtos estrangeiros cresce.
O aumento das importações poderia ocorrer, sem causar maior preocupação, numa fase de rápido crescimento econômico. A elevação das compras só se tornaria inquietante se o descompasso entre as vendas e as compras indicasse uma rápida erosão do saldo comercial. Mas o quadro brasileiro é diferente desse. O crescimento econômico foi muito pequeno nos últimos dois anos.
Nesse período, as importações acompanharam principalmente a evolução do consumo, enquanto a produção industrial declinou e os investimentos encolheram. Em outra circunstância, o apetite por bens importados seria sinal de uma economia saudável e com muita vitalidade. Neste caso, a história é outra.
Embora o governo insista em negá-lo, sua política tem estimulado muito mais o consumo do que a produção industrial e os produtores brasileiros continuam perdendo espaço até no mercado interno.
Como as autoridades têm-se empenhado muito mais em falar do que em mudar as condições de eficiência e de inovação da economia nacional, nada justifica, neste momento, previsões de melhora no comércio exterior. Economistas do setor financeiro e de consultorias privadas projetam para este ano um superávit comercial de US$ 15,5 bilhões. Para o próximo ano o resultado previsto é pouco melhor, US$ 16 bilhões. Seja como for, o resultado continuará muito dependente da China e de seu apetite por matérias-primas exportadas pelo Brasil.
Se a economia americana crescer, os industriais brasileiros, apesar de todas as dificuldades, poderão elevar as vendas de manufaturados. Mas há dez anos o governo brasileiro decidiu tratar o mercado americano como secundário em sua estratégia internacional.
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