CORREIO BRAZILIENSE - 05/02
Escolhidos os presidentes da Câmara e do Senado, faltam agora os líderes do governo e as mudanças pontuais no Ministério. Quanto aos líderes, a presidente Dilma Rousseff não confirmou nenhum dos atuais, nem o da Câmara, Arlindo Chinaglia, deputado pelo PT de São Paulo, nem o do Senado, Eduardo Braga, do PMDB do Amazonas, tampouco o do Congresso, José Pimentel, do PT do Ceará. A julgar pelo perfil que a presidente deseja, de boa convivência com os peemedebistas que comandam as duas Casas, não haveria motivos para substituir nenhum dos três, mas não é bem assim que a banda toca.
O que mais preocupa no momento é o líder do Congresso, que precisará ter um perfil de negociador capaz de torcer o ímpeto dos parlamentares em transformar 2013 no ano do Legislativo. Entre os congressistas, há a certeza de que 2011 foi o ano da presidente Dilma. Ela consolidou a imagem de não compactuar com malfeitos e se firmou perante a opinião pública. E 2012 foi o ano do Supremo Tribunal Federal, da ascensão de Joaquim Barbosa, que, não por acaso, foi o popstar da abertura dos trabalhos do Congresso ontem. Agora, os congressistas planejam ter a sua onda boa, apesar dos pesares e das notícias intermitentes, lançando dúvidas sobre os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves.
A perspectiva para que isso ocorra é “se agarrar no serviço”. No discurso, Henrique Alves deu a largada, ao ser empossado presidente ontem, quando se referiu à necessidade de o processo de votação das leis ter a sua última etapa dentro do Congresso Nacional, e não na sanção presidencial. Para bons entendedores, está claro que a ideia é seguir a fila dos vetos parciais às leis sancionadas, doa a quem doer. E também a sugestão para que as emendas de deputados e senadores ao Orçamento sejam impositivas e fixadas dentro da realidade orçamentária do país, outro grande pedido dos parlamentares.
Enquanto isso…
A ideia de seguir a fila dos vetos, cumprindo a determinação do Supremo Tribunal Federal, soa como um refresco para o presidente do Senado, Renan Calheiros. Afinal, se o parlamento é obrigado a seguir a votação dos vetos em sequência, caberá ao Supremo Tribunal Federal respeitar a ordem de chegada dos processos para apreciação pelo colegiado. “Se há uma fila de vetos, tem que haver uma fila de processos a ser respeitada”, comenta o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), evitando “fulanizar”. A tese é válida e serve como uma luva para Renan. Afinal, se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, só agora enviou o caso ao Supremo, não seria justo o STF pinçar essa peça para julgamento antes das demais que aguardam na fila.
Essa tese dá a Renan e ao seu partido o poder de respirar nesse período de reforma ministerial, em que tudo o que o PMDB não deseja é perder espaço. A cúpula sabe como foi árdua a disputa tanto no Senado quanto na Câmara. O mesmo se deu nas lideranças da legenda. A ordem agora é manter o território no Poder Executivo, onde Dilma pretende abrigar Gabriel Chalita, fazendo uma deferência ao vice-presidente, Michel Temer. O aumento de poder do PMDB paulista, entretanto, ficará opaco por conta da ascensão de Guilherme Afif Domingos ao primeiro escalão do governo Dilma.
Por falar em espaços…
Ministérios à parte, um lugar que o PMDB considera inegociável é a vaga na chapa presidencial. O disse me disse sobre uma candidatura de Michel Temer ao governo de São Paulo com um vice do PT, na avaliação dos peemedebistas, não compensa a perda da vice de Dilma. Em março, os peemedebistas vão aproveitar a convenção do partido para reconduzir Michel ao cargo de presidente da legenda, de forma a mostrar à presidente da República que esse grande e poderoso PMDB tem um líder, e que esse grupo não quer vê-lo fora da chapa para abrigar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Lula pode até fazer sugestões nesse sentido, deixando a Dilma a tarefa de reforçar as juras de amor ao PMDB. E, neste momento, apesar dos 165 votos em favor de Júlio Delgado, do PSB de Minas, contra Henrique Alves, o PMDB e Michel têm a força no parlamento. Bagunçar essa aliança nesse início de jogo pode trazer mais dissabores do que soluções.
Por falar em bagunçar…
Há quem atribua ao PSDB grande parte dos votos pró-Júlio, como uma forma de tentar enfraquecer a relação PT-PMDB e colocar mais lenha na fogueira de vaidades da base governista. Aliás, muitos tentarão quebrar pedaços da ampla coalizão que Lula montou para Dilma lá atrás. Ou ela se cerca de gente capaz de detectar o que é armação e o que é crise verdadeira, ou terá problemas. Afinal, a partir de hoje, o tabuleiro está composto apenas por profissionais do ramo. Vamos ao jogo!
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