quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Pequeno grande Carnaval - ALAN GRIPP

FOLHA DE SP - 14/02

SÃO PAULO - Além do tsunami papal, uma das novidades do reinado de Momo foi o ressurgimento, com vigor surpreendente, dos blocos de rua em São Paulo. Antes restritos a grupos acanhados na semana que antecede os festejos oficiais, os desfiles deste ano arrastaram paulistanos aos milhares nos dias em que a capital parecia fazer jus ao título de "túmulo do samba".

Arrisco-me a dizer que a folia na Pauliceia experimentará um boom em 2014. Não teremos aqui nada parecido com o Rio de Janeiro, Salvador ou Recife, evidentemente. Mas será o suficiente para oferecer uma alternativa àqueles que deixam a cidade em massa rumo aos saturados Carnavais dessas cidades.

Para quem já tem o costume de ficar aqui -e possui algum apreço pelo ziriguidum, naturalmente-, é também uma opção ao cada vez mais tedioso espetáculo de merchandising das escolas de samba.

É bom tratar do tema desde já. Junto com a multiplicação dos blocos, aparecerá um pouco de tudo. De figuras pouco ofensivas, como o "mala do tamborim" -personagem típico que, de posse do instrumento e de umas doses a mais, transforma-se no maior dos ritmistas-, a ameaças bem mais perigosas.

Convém olharmos a experiência do Rio, que, há algum tempo, festeja a retomada do Carnaval à moda antiga. Existe, de fato, o que comemorar. Cariocas e agregados deram uma banana aos desfiles modorrentos da Sapucaí e passaram a promover uma festa lúdica, espontânea e, o que é melhor, gratuita.

O problema é que ela virou refém do próprio sucesso, levando a cidade ao caos e deixando um rastro de sujeira e fedor que multiplica os efeitos da Quarta-Feira de Cinzas.

Conter o gigantismo deve ser um mantra de São Paulo. Centenas de blocos e desfiles monstruosos só servem para alimentar disputas estúpidas por recordes entre cidades. E para dar razão aos que rangem os dentes só de ouvir a palavra Carnaval.

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