terça-feira, janeiro 15, 2013

Menos atrativo - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 15/01


Interferência excessiva do governo e falta de política econômica consistente pesam contra o Brasil nas escolhas de fundos de investimentos


Por causa dos impostos elevados e da maior interferência do governo na economia, grandes fundos estrangeiros passaram a trocar o Brasil por outros emergentes na hora de fazer seus investimentos.

Dados da consultoria norte-americana EPFR, especializada em fluxo de capitais, mostram que, entre os fundos voltados para mercados emergentes, a parcela investida no Brasil caiu de 16,7%, em 2009, para 11,6%, em novembro passado. É o nível mais baixo desde 2005.

Tal padrão se repete em outras categorias de investimentos. No caso de fundos globais de ações, a fatia brasileira é hoje de 1,2%, o menor patamar desde 2008.

Num claro sinal de que a capacidade de atração do país diminui, o Brasil perde espaço até mesmo se considerada apenas a América Latina, com um recuo de quase dez pontos percentuais em relação à média de 2010 e 2011.

O resultado final pode ser medido nos dados do Banco Central relativos ao investimento estrangeiro em carteira (que inclui renda fixa e ações). Nos 12 meses encerrados em novembro último, houve queda de 25% na comparação com o mesmo período de 2011.

Para um país que necessita de investimento externo a fim de financiar não só suas empresas como também o próprio governo, o cenário não é animador.

A redução, é verdade, se explica em parte pela cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capitais, que visa conter aplicações de curto prazo. No caso da renda fixa, o governo aumentou o tributo de 2% para 6% em 2010, o que praticamente zerou as entradas.

Além da tributação específica, porém, há dois fatores mais preocupantes que ajudam a entender a perda de espaço do Brasil.

Um deles é a dificuldade que o país enfrenta para retomar seu crescimento. A média de 1,8% nos últimos dois anos prejudicou a rentabilidade das empresas.

Outro fator negativo é a interferência governamental em vários setores da economia, fomentando um ambiente de incerteza para os investidores. Petróleo, mineração, bancos, siderurgia e energia -que juntos compõem mais de 50% do índice Bovespa- foram alvo de intervenções.

Para além das medidas pontuais, trata-se, mais uma vez, da incapacidade do governo de formular uma política econômica à altura dos desafios do país. Não por acaso, mais e mais investidores apontam para os riscos da leniência com a inflação e a piora das contas públicas nos últimos anos.

Em contrapartida, de certa forma até paradoxalmente, a entrada de investimento estrangeiro direto permanece alta. Se empresas brasileiras continuam sendo compradas por estrangeiros, então quem pensa no longo prazo ainda tem fé no país. Por quanto tempo?

Nenhum comentário: