quarta-feira, novembro 07, 2012

O cinturão de Lula - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 07/11

Terminadas as eleições com a vitória do petista Fernando Haddad em São Paulo, o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em todas as rodas. Até mesmo nos depoimentos do publicitário Marcos Valério que vieram à tona agora. O PPS correu para pedir que Lula fosse investigado. PSDB e DEM não chegaram a tanto. Dentro do PT, há quem diga que Lula deva ser candidato em 2014 para rebater toda e qualquer acusação contra ele. Os demais partidos da base defendem o ex-presidente. Afinal, o mensalão está por aí há quase oito anos e até então Lula não tinha sido investigado. O próprio Roberto Jefferson há alguns anos pedia que José Dirceu deixasse o cargo para não atingir um homem inocente.

Quer a oposição ao governo Dilma goste ou não, é fato que Lula foi o presidente mais popular dos últimos tempos. Deixou o governo com uma aprovação recorde e tem diálogo direto com o povo, o que faz dele um eleitor de peso para qualquer candidato que se apresente ao seu lado. Se o apadrinhado vai vingar ou não, é outra história. No caso de São Paulo, vingou. E talvez pelo erro do PSDB de ter insistido em lançar José Serra, candidato que perdeu um tempo danado tentando explicar que, se eleito, não deixaria o cargo.

A chance, entretanto, de Lula ser candidato em 2014 é tendente a zero, como bem comentam os amigos dele. O governador da Bahia, Jaques Wagner, um interlocutor privilegiado junto ao ex-presidente e sua sucessora, é claro em todas as conversas que tem com Lula sobre o tema. Há alguns meses, quando começaram os balões de ensaio de alguns petistas sobre uma possível candidatura de Lula, Wagner disse ao ex-presidente a seguinte frase: “Você saiu (da Presidência) com o cinturão de ouro. Vai colocar em disputa por que?”.

A essa frase é preciso acrescentar alguns outros ingredientes. Lula é de seguir a “naturalidade” na política. Não quis saber de terceiro mandato — embora tivesse no alto dos mais de 80% de aprovação popular e uma base aliada expressiva. Ficou no natural: buscar um nome novo que pudesse dar ao seu partido o ar de renovação. Assim, escolheu Dilma. Deu certo.

Enquanto isso, no Planalto…

A presidente, da sua parte, avaliam seus aliados, vem “encorpando”, ou seja, ganhando traquejo. Seus dois primeiros anos de governo vão terminando sem grandes sobressaltos que comprometam o futuro do país. A queda de ministros no primeiro ano fez com que ela se fortalecesse ainda mais. A economia não naufragou. Seu primeiro teste político, as eleições municipais, terminou com o PT vencedor em São Paulo e com mais prefeituras, apesar de tudo. Agora, o próximo desafio é manter os aliados próximos. Não por acaso, ela reuniu ontem à noite a cúpula do PT e do PMDB. Quer evitar rusgas e desconfianças que possam comprometer acordos a curto e médio prazos, leia-se a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado e a eleição de 2014 — o horizonte que a vista começa a enxergar.

Diante dessa fotografia do momento, com o primeiro tempo do governo Dilma a menos de dois meses do fim, as mentes mais sensatas dentro do PT — entre elas a de Lula, que mantém o raciocínio político longe do fígado — têm claro que o natural é uma candidatura dela em 2014. Ao ex-presidente Lula, hoje o detentor do cinturão de ouro, restará nesse caso o árduo papel de reconstrução do PT e outro que ele tira de letra, o diálogo direto com o povo. Nesse sentido, há quem diga que, se a oposição insistir em processar o ex-presidente, deve estar preparada para as reações. Há o risco de que esse foco sobre Lula, neste momento tão doloroso para os petistas, acabe por dar ao ex-presidente uma força extra diante daquela população que aprovou seu governo e o idolatra onde quer que ele chegue.

Por falar em Lula…

Que ninguém se surpreenda se daqui a alguns dias, ele chamar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para aquela “conversa americana”. Só não se sabe se será antes ou depois da conversa que Dilma pretende ter com o presidente do PSB. Mas essa é outra história.

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