terça-feira, outubro 23, 2012

O mercado do gás refém da falta de política estratégica - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 23/10



Predominou o pessimismo nas análises feitas no fórum O Futuro do Gás Natural, promovido na última quarta-feira pelo Estado. Especialistas do Brasil e do exterior apontaram mais problemas do que soluções para esse mercado, transferindo para o longo prazo a possibilidade de aumento da oferta e redução de preço do insumo no País. É um quadro que contrasta com o dos países desenvolvidos, a começar pelos Estados Unidos.

O mercado do gás é controlado quase totalmente pela Petrobrás, que produz o insumo internamente e controla, por intermédio do Gasoduto Bolívia-Brasil, o fornecimento do gás que o País importa da Bolívia. Com raríssimas exceções, a Petrobrás também controla as distribuidoras estaduais de gás.

O preço do gás - US$ 16 por milhão de BTU (unidade térmica britânica), no mercado livre - é elevadíssimo. Empresas que mudaram seu processo produtivo para substituírem o óleo combustível pelo gás, como as indústrias de cerâmica e de vidro, perderam competitividade, mas "não têm como voltar atrás", como afirmou o superintendente da associação Abividro, Lucien Belmonte. Até meados da década passada, o Brasil era fornecedor de vidro plano para quase toda a América do Sul.

Os custos do setor petroquímico dependem tanto do preço do gás que várias fábricas podem fechar.

Na matriz energética brasileira, o gás representa apenas 10%, ante a média mundial de 20%. Faltam políticas estratégicas para o gás, que tratem o insumo como "crucial para a competitividade", enfatizou o professor Edmar de Almeida, da UFRJ.

Nos Estados Unidos, o gás extraído das rochas de xisto (shale gas) tem custo baixo e abre a perspectiva de reduzir o custo da energia naquele país, que detém a segunda reserva mundial, depois da China.

Sem uma política bem definida para o gás, o insumo continuará sendo tratado improvisadamente, aliás, como grande parte do setor de energia. Na semana passada, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu acionar usinas térmicas movidas a óleo combustível, ao custo de até R$ 711 o MWh. Menor custo e menor poluição seriam possíveis, se a alternativa fosse o gás natural. Pior, o governo trata o assunto como "procedimento normal", sem comparar com as alternativas que decorreriam de políticas de longo prazo para estimular a oferta de gás natural.

Promover a concorrência, abrindo o setor aos investimentos privados, poderia ser um primeiro passo para estimular o mercado do gás natural.

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