quinta-feira, outubro 18, 2012

As guerras de Romney e o Brasil - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 18/10


Atacar a China pela "manipulação cambial" colocará o Brasil no meio do fogo cruzado

Impressionou a ameaça de Mitt Romney, no debate de terça-feira, de abrir uma guerra com a China.

É verdade, como assinalou a CNN, que "falar duro contra a China tornou-se um ritual de campanha para políticos de ambos os partidos". Mesmo assim, é forte a promessa de "desde o primeiro dia" empenhar-se em rotular a China como um país que manipula a moeda.

Tão forte que impressiona até seguidores de Romney, como Maurice Greenberg, diretor do Conselho de Negócios EUA-China. "Temos uma escolha entre um acordo comercial ou uma guerra comercial", disse ele à Bloomberg TV, para acrescentar: "Escolho um acordo".

É possível que, vitorioso, Romney também prefira o acordo à guerra, mas é sempre bom, para o Brasil, estar preparado para a outra hipótese. Uma colisão entre as duas maiores potências mercantis do planeta reverbera no mundo todo.

Rotular um país como manipulador da moeda implica adotar represálias, na forma, por exemplo, de restrições às importações.

A questão incide diretamente sobre o Brasil, afinal o primeiro país que levou à Organização Mundial de Comércio o tema da "assimetria cambial", uma forma diplomática de falar em "guerra cambial" (tema recorrente do ministro Guido Mantega) ou em "manipulação cambial", como prefere Romney.

O argumento usado pelo embaixador Roberto Azevedo, representante do país junto à OMC, é simples: "Não dá para tirar com uma mão o que se dá com a outra".

Traduzindo: países que reduziram as tarifas de importação não podem ter um câmbio excessivamente desvalorizado, o que anula a abertura tarifária.

Mas o Brasil acusa também os Estados Unidos de uma espécie de manipulação cambial, na forma de afrouxamento monetário, que inunda de dólares o mercado, dólares que correm para países que oferecem elevada remuneração (caso do Brasil), o que fortalece o real e, por extensão, dificulta as exportações.

Tudo somado, tem-se que o Brasil acabará no meio do fogo cruzado entre a China e os EUA, na hipótese de Romney vencer e se mantiver sua promessa de campanha.

Não é a única hipótese de guerra de Romney que afeta o Brasil. O republicano prometeu uma ofensiva comercial na América Latina, sem dar detalhes. Mas um "paper" de campanha, obtido meses atrás pelo "Latin America Monitor", informa que, nos cem primeiros dias, quer lançar uma "Campanha para Oportunidade Econômica na América Latina", com o objetivo de contrastar "os benefícios da democracia, do livre comércio e das oportunidades econômicas com os males causados com o modelo autoritário de Venezuela e Cuba".

Seria, claramente, um primeiro passo rumo a ressuscitar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que englobaria todos os países americanos, excetuada Cuba.

Se a Alca foi fonte contínua de atritos entre Brasil e Estados Unidos, nos governos FHC e Lula, tende a ser mais ainda em uma gestão, como a de Dilma, aparentemente menos entusiasta dos "benefícios do livre comércio".

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