FOLHA DE S. PAULO - 27/10
O Brasil tem 30 partidos, dos quais 24 com representação no Congresso. Todos levam dinheiro público e a maior parte conta com tempo de TV e outras regalias. Nenhum país sério deveria manter tal sistema político.
Virou clichê nas eleições atuais criticar a polarização PSDB-PT. Ela seria responsável pelo aumento da abstenção e dos votos nulos e brancos no pleito paulistano, reflexo do desinteresse da população.
Pois que viva a polarização. Se fosse de verdade, o bipartidarismo significaria a maturidade da política local.
Não o bipartidarismo imposto pela ditadura militar a partir de 1966, quando as siglas extintas deram lugar ao MDB e à Arena -dizia-se à época que o primeiro, oposicionista sem dentes, era o partido do "sim" e o segundo, situacionista sem escrúpulos, o do "sim, senhor".
Mas o bipartidarismo que é fruto de anos de democracia consolidada, como existe nos EUA. Ali, desde pelo menos o Congresso de 1877, a política é dominada pelos partidos Democrata e Republicano.
Não são os únicos. Há vários nanicos, quatro deles com candidatos à Presidência na corrida atual: Verde, Libertário, da Constituição e da Justiça. Porém não são levados a sério por não terem chance. E não têm chance porque o sistema político não permite que tenham.
Com isso, os políticos de centro-esquerda e de esquerda se concentram sob o guarda-chuva dos democratas; os de centro-direita e de direita, sob o dos republicanos.
Há centristas em ambas as agremiações. Elas formam duas massas mais ou menos coesas, que costumam votar segundo seu próprio rol de princípios e interesses.
O mesmo deveria ocorrer aqui. Gilberto Kassab e seu recém-criado PSD deveriam estar no partido tucano; Eduardo Campos e seu PSB, com os petistas. O DEM seria a ala mais à direita do PSDB; o PSOL, a mais à esquerda do PT. O PMDB evaporaria, mezzo calabresa, mezzo mozarela. E assim por diante.
Diminuiriam as maracutaias e os acordos pouco republicanos, acabariam as vendas de tempo na TV, as prévias passariam a existir de verdade, os debates ganhariam relevância e ritmo. Por que não acontece? Primeiro, pela legislação brasileira, que carece de reforma.
Depois, porque os caciques dos dois partidos majoritários sufocam jovens lideranças. O PT está renovando seus quadros em São Paulo com Fernando Haddad e Alexandre Padilha, mas à custa do dedaço de Lula. O PSDB vive há anos o psicodrama José Serra-Geraldo Alckmin.
Quem gosta de consenso é juizado de pequenas causas. Só o Fla-Flu partidário nos tirará da infância política. Polarização já.
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