FOLHA DE SP - 05/07
BRASÍLIA - Ninguém crê na permanência do chanceler Antonio Patriota até o fim do governo. É injusto, porém, culpar o Itamaraty pela crise do Mercosul com a saída temporária do Paraguai e a entrada permanente da Venezuela.
A primeira reação de Dilma à queda de Lugo -que, apesar de armada durante meses, pegou todo o mundo (literalmente) de surpresa- foi considerá-la, intramuros, como um golpe.
O Itamaraty argumentou que a deposição foi votada pela Câmara, pelo Senado e posteriormente pela Justiça, abençoada pela igreja e acatada pelos brasiguaios. Aliás, pelo próprio Lugo. Por isso, a nota brasileira condena a "ruptura", não o "golpe".
Depois, Dilma entrou na fila aberta por Venezuela e enfim liderada pela Argentina, e chegou a pensar em punições drásticas ao Paraguai, como revisão do financiamento do BNDES ao gasoduto até Assunção.
O Itamaraty sugeriu que a reação fosse política, sem atingir a população e sem tumultuar ainda mais a política interna, pois a possibilidade da volta de Lugo era próxima de zero.
Por fim, Dilma e Cristina Kirchner viram a chance de fazer o que está para ser feito há anos: jogar a Venezuela no Mercosul, ampliando o poder econômico do bloco e amarrando Chávez às normas da região.
Mais uma vez, o Itamaraty alertou que o momento poderia não ser adequado, pela tensão, e que havia questões jurídicas complicadas: o Paraguai estava só suspenso, não expulso, e a adesão venezuelana precisava ser por unanimidade.
A posição pró-adesão foi definida a três: Dilma, Kirchner e o uruguaio José Mujica, sem a presença de diplomatas e assessores. Decisão de cúpula, até porque política externa é decidida pelos presidentes e apenas operada pela diplomacia.
Durona como ela só, Dilma não gosta do estilo melífluo de diplomatas. Mas presidentes têm de ouvi-los e, aliás, precisam ser diplomáticos. Aliás, externa e internamente.
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