Mais um escândalo prova que o sistema financeiro contemporâneo não passa de um grande cassino
POR FIM, chegou às páginas do respeitável "Financial Times" a palavra certa -CASSINO- para definir o sistema financeiro contemporâneo.
Visivelmente irritado com o mais recente escândalo envolvendo a banca, o colunista Philip Stephens escreve, primeiro, que "a comercialização de instrumentos financeiros complexos que foram centrais para o crash [de 2008/09] é agora vista como o que de fato é: um meio socialmente inútil e financeiramente perigoso de pequenos grupos se fazerem absurdamente ricos".
Bingo, Philip, seja bem-vindo ao clube.
O colunista do jornal britânico acrescenta: "É a cultura de cassino que provocou o estrago [sempre em alusão à crise de 2008] e vai continuar a infectar o conjunto da indústria bancária enquanto as duas operações [banco de investimento e banco de varejo] continuarem a funcionar juntas".
O caso que provocou a ira é de fato escabroso, como quase tudo que se passa há alguns anos nas entranhas do cassino: o banco Barclays -uma das mais lustrosas grifes da City londrina- admitiu que havia manipulado a Libor (London Interbank Offered Rate, a taxa para operações entre os próprios bancos).
Para livrar-se de uma investigação pelas autoridades, aceitou pagar uma multa de £ 290 milhões (R$ 914 milhões).
Parece muito dinheiro, mas é uma mixaria pelos números que o sistema financeiro global passou a manipular nestes tempos de cassino.
A Libor serve de referência para contratos que somam entre € 290 trilhões e € 315 trilhões. Sim, você leu trilhões, e nem adianta traduzir o valor em reais ou qualquer outra moeda porque é um número estratosférico. Para comparação: o PIB (Produto Interno Bruto) da maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, é de apenas € 12 trilhões, fração ínfima do que se movimenta só nesse tipo de cassino.
Nem somando todas as economias do planeta se chega ao valor para o qual a Libor é referência no mercado.
Como pode? Simples: não se trata de dinheiro real, mas virtual.
O escândalo foi de tal dimensão que, mesmo o Barclays tendo pago a multa para fugir do processo, as autoridades financeiras britânicas pediram -e conseguiram- a cabeça dos dois principais homens do banco. Primeiro, renunciou o presidente Marcus Agius e, em seguida, foi a vez do executivo-chefe Bob Diamond, um dos "senhores do universo", para usar o rótulo cunhado por Thomas Wolfe, um dos grandes novelistas norte-americanos do século passado.
Mas não fique com peninha de Diamond: mesmo que passe desempregado o resto da vida, viverá nababescamente só com o bônus de £ 20 milhões (R$ 63 milhões) que o Barclays lhe pagou em 2011. Quantos séculos você levará para juntar R$ 63 milhões?
A história não termina aí: há mais uma dúzia de grandes grifes da banca global sendo investigadas. E há a vingança de Diamond, que vazou no site do banco anotação de conversa com Paul Tucker, vice-presidente do Banco da Inglaterra, na qual se insinua que Tucker estimulou a manipulação.
Ou seja, insinua que o xerife do sistema financeiro britânico entrou no cassino para jogar, e não para prender os trambiqueiros.
Visivelmente irritado com o mais recente escândalo envolvendo a banca, o colunista Philip Stephens escreve, primeiro, que "a comercialização de instrumentos financeiros complexos que foram centrais para o crash [de 2008/09] é agora vista como o que de fato é: um meio socialmente inútil e financeiramente perigoso de pequenos grupos se fazerem absurdamente ricos".
Bingo, Philip, seja bem-vindo ao clube.
O colunista do jornal britânico acrescenta: "É a cultura de cassino que provocou o estrago [sempre em alusão à crise de 2008] e vai continuar a infectar o conjunto da indústria bancária enquanto as duas operações [banco de investimento e banco de varejo] continuarem a funcionar juntas".
O caso que provocou a ira é de fato escabroso, como quase tudo que se passa há alguns anos nas entranhas do cassino: o banco Barclays -uma das mais lustrosas grifes da City londrina- admitiu que havia manipulado a Libor (London Interbank Offered Rate, a taxa para operações entre os próprios bancos).
Para livrar-se de uma investigação pelas autoridades, aceitou pagar uma multa de £ 290 milhões (R$ 914 milhões).
Parece muito dinheiro, mas é uma mixaria pelos números que o sistema financeiro global passou a manipular nestes tempos de cassino.
A Libor serve de referência para contratos que somam entre € 290 trilhões e € 315 trilhões. Sim, você leu trilhões, e nem adianta traduzir o valor em reais ou qualquer outra moeda porque é um número estratosférico. Para comparação: o PIB (Produto Interno Bruto) da maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, é de apenas € 12 trilhões, fração ínfima do que se movimenta só nesse tipo de cassino.
Nem somando todas as economias do planeta se chega ao valor para o qual a Libor é referência no mercado.
Como pode? Simples: não se trata de dinheiro real, mas virtual.
O escândalo foi de tal dimensão que, mesmo o Barclays tendo pago a multa para fugir do processo, as autoridades financeiras britânicas pediram -e conseguiram- a cabeça dos dois principais homens do banco. Primeiro, renunciou o presidente Marcus Agius e, em seguida, foi a vez do executivo-chefe Bob Diamond, um dos "senhores do universo", para usar o rótulo cunhado por Thomas Wolfe, um dos grandes novelistas norte-americanos do século passado.
Mas não fique com peninha de Diamond: mesmo que passe desempregado o resto da vida, viverá nababescamente só com o bônus de £ 20 milhões (R$ 63 milhões) que o Barclays lhe pagou em 2011. Quantos séculos você levará para juntar R$ 63 milhões?
A história não termina aí: há mais uma dúzia de grandes grifes da banca global sendo investigadas. E há a vingança de Diamond, que vazou no site do banco anotação de conversa com Paul Tucker, vice-presidente do Banco da Inglaterra, na qual se insinua que Tucker estimulou a manipulação.
Ou seja, insinua que o xerife do sistema financeiro britânico entrou no cassino para jogar, e não para prender os trambiqueiros.
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