segunda-feira, abril 23, 2012

Sem espaço - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 23/04/12

Mesmo com a redução da taxa básica de juros para 9% ao ano e dos spreads bancários (tornando mais barato o crédito), os empréstimos não devem voltar a se expandir como no início do ano passado. A casa própria agora compete com o carro novo, computadores pessoais, jogos eletrônicos, celulares que tiram fotos, filmam, gravam e deixam o usuário conectado à internet, além de outros gastos (viagens etc).

A renda dos novos consumidores está em boa parte comprometida nessa disputa de bens e serviços adquiridos a prazo, e agora é preciso liquidar uma dívida (parcial ou totalmente) para que possam assumir mais um compromisso financeiro. É claro que juros mais baixos sempre servem de chamariz - lembram-se da febre do crédito consignado? No entanto, não só as pessoas, também as empresas estão sabendo lidar melhor com endividamento.

Na verdade, a economia brasileira deve atingir no segundo semestre uma "velocidade de cruzeiro" capaz de sustentar um crescimento anual de 4%, não mais do que isso, pois, não só pela perda de gás no crédito, o país tem de esperar que investimentos em infraestrutura comecem a maturar. É uma barreira física ao crescimento.

Nem todos os setores estão satisfeitos com a troca da desoneração da folha de pagamentos pela taxação de 2% sobre o faturamento. Um grupo de hotéis do Rio, por exemplo, gostaria que a troca fosse opcional, em vez de obrigatória para o setor, pois acha que sairá perdendo, e nesse caso o objetivo do governo de reduzir custos das empresas não será atingido.

Cerca de 35% das obras civis da futura usina nuclear Angra 3 já foram executados. Além das paredes de concreto do prédio do reator e do edifício auxiliar, alguns equipamentos vêm sendo instalados (como os tanques de armazenagem de água borada, que será pressurizada a altas temperaturas dentro do reator em função da reação nuclear) ou então já chegaram ao canteiro de obras, a exemplo de tubos especiais e pontes rolantes.

Dois consórcios foram habilitados para a montagem eletromecânica dos equipamentos, que será feita simultaneamente ao andamento das obras civis. Nesses consórcios estão representadas grandes construtoras e empresas de engenharia industrial que participaram da montagem de Angra 2. Só que agora será diferente, pois em Angra 2 as obras civis foram quase concluídas antes da montagem eletromecânica, o que causou perda de tempo e elevação de custos.

A Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras responsável pelas usinas, tem conseguido renegociar antigos contratos, junto a fornecedores nacionais e estrangeiros, com significativa redução de preços, sem comprometer o cronograma de entrega (o que é fundamental, já que a construção de Angra 3 é feita como se fosse um modelo de encaixe; um atraso em uma peça compromete quase todo o resto da obra). Nas novas licitações, está havendo uma forte disputa entre os fornecedores, de modo que os preços caíram 5% abaixo dos valores orçados inicialmente.

A contenção de aço, que fica por dentro das paredes de concreto do prédio do reator, passou da etapa que o projeto da usina identifica como Zona 3. Em novembro, deverão chegar à "linha do Equador" do prédio, que a partir desse ponto se transforma em uma esfera. Os montadores estavam meio sem prática, mas as dificuldades do começo foram vencidas, e a contenção está agora andando bem rápido.

No meu blog (www.oglobo.com.br/blogs) ou na minha coluna de quarta-feira da edição vespertina do Globo a Mais, versão digital para tablets, poderão ser vistas fotos do atual estágio da obra de Angra 3.

A entressafra da cana-de-açúcar está terminando na região Centro-Sul, mas ainda não será em 2012 que o álcool hidratado recuperará o espaço perdido para a gasolina. É que a oferta de cana para moagem deve permanecer no mesmo patamar do ano passado, e as atenções dos produtores estão mais voltadas para o açúcar do que para o etanol, embora a demanda pelo álcool anidro (que é o obrigatoriamente misturado à gasolina) continue aumentando. Mas, se no curto prazo o setor não passa por uma boa fase - digerindo dívidas acumuladas no passado e enfrentando queda de produtividade decorrente de fatores climáticos, envelhecimento de canaviais etc -, os planos para o futuro são bem ousados. Ao fim desta década, o Brasil terá dobrado sua produção de cana, chegando a 1,2 bilhão de toneladas, com o objetivo de se manter na liderança do mercado internacional de açúcar, detendo uma fatia de 50%, além de ampliar consideravelmente a participação do etanol no consumo de combustíveis. Se os automóveis com motores flex de fato passarem a representar 80% do total da frota, e o etanolcontribuir com metade do consumo, a oferta para o mercado doméstico terá de pular dos atuais 25,4 bilhões de litros para cerca de 57 bilhões de litros, considerando-se que o produto tem sido usado também para outros fins industriais. E se espera que o país consiga exportar outros 13 bilhões de litros (provavelmente para os Estados Unidos, que estão estimulando a substituição de gasolina por etanol).

A produção de etanol aumentará mais facilmente se as pesquisas para aproveitamento da palha (celulose) avançarem da maneira como se espera. Seja como for, o uso de palha e do bagaço na geração de energia elétrica pelas usinas pode mesmo decuplicar até o fim da década, atingindo, no conjunto, um potencial equivalente ao de uma usina hidrelétrica do tamanho de Itaipu.

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