quarta-feira, março 07, 2012

PIB & política - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 07/03/2012


Se Dilma segurar as pontas do crescimento, podem ter certeza de que o governo pode até balançar na política, mas não passará de uma marolinha. No entanto, se não garantir a parte econômica, aí sim virá um tsunami na base aliada


Era o que faltava para ampliar o estresse do PT: um Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 3%. Com esse novo dado a povoar os pesadelos dos aliados já descontentes com o partido de Lula e Dilma Rousseff, cresce entre alguns o receio que passe a valer o velho ditado popular, "em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão". O sujeito que não consegue emprego em função das mazelas econômicas não quer saber se isso ocorreu porque a Europa enfrenta problemas ou a economia americana não decolou a contento. Culpa logo a presidente da República, seus ministros, o governador, o prefeito e por aí vai.

Para sorte de Dilma, os solavancos na política no plano nacional parecem ser menores do que reverberam alguns aliados. No PMDB, por exemplo, o tal manifesto entregue ontem ao vice-presidente da República, Michel Temer, soou para muitos como uma grande massa de manobra dos caciques. O líder no Senado, Renan Calheiros, conseguiu, em princípio, a garantia de que Sérgio Machado continuará no comando da Transpetro. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, conseguiu aquela audiência com Dilma.

Resta saber qual será a reação dos demais integrantes do partido que ainda estão a ver navios. Grande parte desses signatários se sente usada pela cúpula para reforçar suas posições, como já dissemos aqui. Não por acaso, parte dos peemedebistas se arrepende de ter conquistado a vice-presidência da República. Agora, a sigla está obrigada a seguir tudo o que deseja o governo e a se contentar com o que tem, uma vez que os destinos estão atrelados e não dá para votar contra sem passar a velha imagem de fisiológico, que só pensa em cargos.

Por falar em imagem...
Os aliados do PT estão convencidos de que a única maneira de evitar a hegemonia do partido de Lula é derrotar os petistas onde for possível na eleição municipal. Não por acaso, o PMDB não abre mão da candidatura do deputado Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo. Se Chalita conseguir sufocar Fernando Haddad — uma tarefa hercúlea —, terá garantido um lugar ao sol para os peemedebistas. Caso contrário, será ainda importante no segundo turno, uma vez que tem laços com o PT e também com o PSDB.

Para completar, o crescimento das riquezas do país em módicos 2,7% em 2011 é outro fator que conta para embaçar a imagem do governo Dilma e, por tabela do PT. Afinal, se a economia não demonstrar um novo fôlego — diante das incertezas mundiais não dá para dizer com segurança que vamos crescer além desse patamar —, a tendência é grande parte dos aliados começarem a tomar novo rumo. E esse rumo começa a ser ensaiado na sucessão paulistana.

Por falar em rumo...
Não dá para esquecer que o maior lastro eleitoral de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e em 1998, foi o Plano Real. Em 2002, quando ele começou a dar sinais de cansaço por conta de erros governamentais e a série de crises internacionais, o país optou por Lula. O céu de brigadeiro econômico ao longo do primeiro governo Lula garantiu a reeleição, com mensalão e tudo. E a performance social, a escolha da candidata certa e a capacidade sem concorrência de Lula falar diretamente ao coração das pessoas fizeram de Dilma Rousseff presidente da República. Mas nada seria igual se a economia estivesse naufragando.

Portanto, se o PT quiser cumprir seu projeto de 20 anos de poder, terá que, primeiro, segurar a economia. Se não o fizer, aí a tendência é de revoada geral na base, já insatisfeita. Se Dilma segurar as pontas do crescimento, o governo pode até balançar na política. Mas, se não garantir a parte econômica, aí sim virá um tsunami na base aliada.

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