quarta-feira, janeiro 11, 2012

Uma difícil mudança - LUIZ ALFREDO SALOMÃO

O GLOBO - 11/01/12

Continua difícil transformar as indústrias brasileiras em unidades de inovação tecnológica permanente, apesar dos incentivos criados para aumentar os investimentos privados em C&T&I. Os resultados não foram os esperados e isso não constitui surpresa.

As decisões tecnológicas das multinacionais aqui instaladas são tomadas nas matrizes e, salvo exceções, contemplam centros de P&D fora do país.

Nas indústrias de capital nacional inexiste a cultura estratégica de investir em desenvolvimento tecnológico para fortalecer a competitividade e a sustentabilidade.

Por isso, as empresas preferem adquirir tecnologia já testada no exterior, tendo gasto, em 2010, US$2,9 bilhões com royalties e licenças!

A conjuntura atual permitiria reverter essa frustração. Cientistas e tecnólogos europeus sofreram cortes nos salários, suas verbas para P&D encolheram e o clima de estagnação não lhes é saudável.

Há disposição para emigrar para o Brasil, conforme se verificou nos concursos promovidos pelo Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) para atrair jovens recém-doutorados.

A relação candidato-vaga foi de 50:1, sendo que 70% dos candidatos eram estrangeiros e 30% brasileiros no exterior. O mesmo se observa em relação a docentes de universidades europeias que assediam a Uerj para vir ensinar no Rio.

O MCT e o MEC lançaram o "Ciência sem Fronteiras", cujos subprogramas "Pesquisador Visitante Especial" e "Jovens Talentos" visam a atrair estrangeiros com liderança em sua área de pesquisas, a repatriar jovens cientistas brasileiros e a "importar colegas estrangeiros para permanência por três anos.

O programa prevê atrair 300 pesquisadores-líderes estrangeiros. O programa parece excelente, mas já é possível prognosticar que terá mais efeito para atrair cientistas do que tecnólogos.

A criação da Embrapi, parceria entre MCT-CNI, também foi positiva, mas seus resultados serão sentidos a longo prazo. O projeto prevê a expansão da rede inicial da Embrapi de três centros tecnológicos (Senai-BA, IPT e INT) para 30 centros, mas sem prazo definido.

Alcançar algo como dez centros é relativamente fácil, se forem incorporadas instituições como a Coppe, o Cenpes e a Fiocruz, só para citar exemplos de instituições do Rio de Janeiro. Contudo, a partir daí as coisas se complicam.

Para formar uma rede poderosa de C&T&I em dez anos, o Brasil deveria também "importar" equipes de tecnólogos de alto nível, com o compromisso bem definido de abrir os pacotes tecnológicos de nosso interesse e de treinar novos pesquisadores.

O foco de seleção seria nas áreas de interesse específico da indústria e os grupos de tecnólogos articulados com a rede Senai.

Esse brain drain focado na inovação traria cérebros já treinados e viabilizaria nosso desenvolvimento com maior autonomia. Experiências semelhantes dos EUA no pós-guerra, e de Israel, trazendo russos no pós-fim da URSS, são paradigmas interessantes. Montar um programa desse tipo, com a participação ativa da indústria nacional, deveria ser missão prioritária do próximo ministério da presidente Dilma. Caso contrário, vamos continuar exportando minérios e grãos, sem direito de reclamar.

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