segunda-feira, janeiro 30, 2012
Cai ou não cai? - ROBERTO ZENTGRAF
O GLOBO - 30/01/12
Pelo visto, dessa vez a taxa cai... Pelo menos foi o que entendi ao ler as diversas análises feitas com base na última ata do Copom, pois já se fala em Taxa Selic de um dígito! Cairá para 9% ao ano? E, caso caia, isso é bom ou é ruim para nosso bolso?
Partindo da atual Selic (10,5% ao ano), se tal fato vier a se concretizar, a queda será de quase 15%, o que já deixa muita gente animada com a possibilidade de o país passar ao clube dos que praticam taxas civilizadas. Mas será que todos os agentes econômicos locais repassarão a queda aos seus preços?
Honestamente, tenho cá minhas dúvidas. Você acredita que os bancos reduzirão, na mesma proporção, as infames taxas cobradas no cheque especial? Veja nas estatísticas do Banco Central (http://bit.ly/chequespecial): há bancos cobrando até 10,33% ao mês pelo uso dessa modalidade cômoda de empréstimo, o que dá fantásticos 225,33% ao ano. Também não vejo chances de reduções proporcionais nas taxas de administração cobradas pelos fundos de investimento ou mesmo nas alíquotas do Imposto de Renda. Para quem aplica em títulos de longo prazo, por exemplo, isso significaria pagar um pouco menos de 13% de IR e não os atuais 15%. Decerto a idade me tornou mais cético, reconheço.
E já que toquei na questão etária, alerto aos que hoje guardam dinheiro pensando no complemento futuro de suas aposentadorias: com taxas menores, o valor do complemento irá se reduzir. Assim, tomando por base as NTN-B Principal com vencimento para 15 de maio de 2035 (com a Selic de 10,5%, pagam 5,45% ao ano, além da correção da inflação pelo IPCA), fiz algumas simulações para quem começasse a investir em 15 de fevereiro de 2012.
1. Nas atuais condições, e pressupondo que a inflação de 2011 (6,50%) se mantenha nesse patamar até 2035, você receberia 4,77% ao ano além da inflação e já descontado o IR, o que equivale a 0,3890% ao mês (taxa real líquida). Quem aplicasse mil reais mensais durante todo o período (tomando o cuidado em corrigir a contribuição pela inflação acumulada) acumularia (a valores de hoje) R$502 mil, equivalente a uma renda perpétua de R$1.953 mensais ou de R$3.223 por 20 anos. Não encontrei mudanças sensíveis quando variei a inflação entre 4,5% e 8,5% ao ano.
2. Se tanto a taxa oferecida pela NTN-B quanto a inflação projetada caíssem na mesma proporção que a Selic (em bases anuais, a NTN pagaria 4,67%, e a inflação ficaria em 5,57%), a taxa real líquida se reduziria para 0,3289% mensais, permitindo ao aplicador o acúmulo de R$456 mil, equivalente a uma renda perpétua de R$1.500 mensais ou de R$2.750 mensais por mais 20 anos.
3. O pior cenário ocorrerá se toda a queda da Selic for absorvida apenas na taxa oferecida pela NTN-B, que neste caso passará a pagar apenas 3,76% ao ano, mantida a inflação no atual nível (6,5%). Assim, a taxa real líquida ficará em 0,2557% mensais, permitindo o acúmulo de R$406 mil, equivalente a uma renda perpétua de R$1.039 mensais ou R$2.267 mensais por mais 20 anos. Uma alternativa será aproveitar o cenário atual de taxas altas e aplicar tudo de uma vez, mas neste caso você precisará ter hoje um pouco mais de R$170 mil para, em 2035, acumular os R$502 mil do primeiro cenário... Você consegue?
Um grande abraço e até a próxima semana!
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