quinta-feira, dezembro 01, 2011

O primeiro aviso - DENISE ROTHENBURG



CORREIO BRAZILIENSE 01/12/11




Embora a popularidade da presidente Dilma tenha permitido que ela leve o governo sem precisar dar atenção total ao Congresso, é chegada a hora de abrir os olhos. O parlamento funciona como o teatro. Antes de se abrirem as cortinas para o espetáculo, as luzes começam a piscar


Partiu do presidente do Senado, José Sarney, a primeira grande dor de cabeça no governo nesta reta final do ano. Ele colocou em pauta a regulamentação da Emenda 29, que amplia a aplicação de recursos na área de saúde e deixou o governo em pânico. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), correu e tirou o regime de urgência que fazia com que a emenda andasse mais rápido.

Muitos podem ver essa atitude de Sarney e a de Jucá como parte do dia a dia da Casa. Mas quem entende das coisas diz que nada ali acontece por acaso. No Congresso, ninguém tem dúvidas de que, embora a base aliada seja maior no Senado, é ali que o governo terá dificuldades.

Isso porque, na Câmara, todos os partidos avaliam que está tudo meio que paralisado. Ali, deputados reclamam que ministros não aparecem mais como nos velhos tempos — leia-se tempos de Lula. Integrantes do primeiro escalão frequentavam mais gabinetes de líderes, convidando um deputado para lhe acompanhar ao estado, tempo para a conversa política.

Agora, avaliam os deputados, isso acabou. Os ministros, com medo da reação da presidente Dilma Rousseff — pelo menos é essa a desculpa que eles passam aos líderes — só comparecem ao Congresso para as famosas audiências em que o tempo de conversa não existe. Nos ministérios, os mais festejados por receberem os parlamentares em seus gabinetes são o da Saúde, Alexandre Padilha, e o da Agricultura, Mendes Ribeiro, de volta à Esplanada depois de uma cirurgia no cérebro.

No Planalto, a maioria dos políticos se considera órfã. Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, recebe, é considerada simpática, mas, considerando o número de deputados e senadores, 594, uma Ideli não basta. É pouco para atender a todos. A da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, atarefada com os projetos do governo, não tem muito tempo para essa tarefa de sentir o pulso do Congresso e ajudar a perceber o que acontece no parlamento.

Quem conhece a Casa avalia que é hora de prestar muita atenção em todos os movimentos. Embora a popularidade da presidente Dilma tenha permitido que ela leve o governo sem precisar dar atenção total ao Congresso, é chegada a hora de abrir os olhos. Afinal, o Parlamento funciona geralmente como o teatro. Antes de s abrirem as cortinas para o início do espetáculo, as luzes começam a piscar, de forma a avisar o público que procure logo seus lugares e encerre as conversas paralelas. Foi mais ou menos isso que Sarney fez ontem.

Por falar em paralelas...
O PMDB voltou a ficar meio desconfiado das conversas do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. O PMDB considera que Eduardo Campos se prepara para jogar a seguinte cartada: ou vira vice de Dilma Rousseff ou será candidato a presidente da República logo em 2014. Os peemedebistas estão convencidos de que os dois partidos, PSB e PSD, vão se unir para tirar de Michel Temer a candidatura a vice-presidência da República lá na frente. Pelo menos, é esse o discurso que o PMDB levará às suas bases para forçar o lançamento de candidaturas próprias por todo o país no que vem. A ordem no partido é: ou a legenda se fortalece em 2012 nas eleições municipais ou irá comer poeira na sucessão presidencial. É por aí que a banda peemedebista vai tocar depois do mês do Natal.

Dentro do PMDB, entretanto, há quem pretenda continuar ao lado do PT — e assim não deixar que Eduardo Campos e a aliança PSB-PSD lhe tome o lugar. Esse grupo do PMDB é formado em sua maioria pelos pragmáticos senadores. Para sorte deles, é no Senado onde os peemedebistas dão as cartas. Ali, nem PSD nem PSB têm chances de, juntos, compor uma bancada tão grande ao ponto de levar o governo a dispensar os serviços peemedebistas. Por isso, dentro do próprio governo, há quem diga que se houver mais duas piscadelas de luz no teatro do Senado, a presidente Dilma terá que novamente abrir as portas do Alvorada para receber senadores do partido do vice-presidente Michel Temer e avisar que é com ele o jogo do futuro. É isso o que o PMDB quer ouvir. O problema é que, quando essas piscadelas virão, é que ninguém sabe.

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