O GLOBO - 22/12/11
Cristopher Hitchens, que morreu na semana passada, era uma figura contraditória: não acreditava em Deus mas acreditou no Bush. Entre suas muitas posições polêmicas a mais surpreendente para colegas da esquerda foi sua defesa da invasão americana do Iraque. Dois mil anos de pregação religiosa não foram suficientes para fazer Hitchens abandonar seu ceticismo com relação a Deus, mas algumas semanas de pregação neoconservadora bastaram para convencê-lo de que Bush estava certo, as armas de destruição em massa do Iraque ameaçavam os Estados Unidos e a invasão era inadiável. Depois de nove anos, quase cinco mil americanos e mais de 100 mil civis iraquianos mortos e nenhuma arma de destruição em massa encontrada, Hitchens mantinha sua posição a favor da guerra com convicção religiosa. As evidências do seu erro eram mais claras do que qualquer evidência da ausência de Deus. Mas a coerência não é um requisito para o bom polemista.
Evidência da existência de Deus, ou de algo parecido – uma força unificadora que explicaria muitos dos mistérios do Universo – é o que teria sido vista há dias num dos super aceleradores de partículas construídos para testar a intuição do físico inglês Peter Higgs de que ela apareceria, na maior atenção dada a uma hipóteses desde que testaram a teoria da relatividade que Einstein sacou do nada. Se a partícula hipotética apareceu mesmo ou não ainda está sendo discutido. Um dia alguém disse que Deus não jogava dados com o Universo. Mas que Ele gosta de brincar de esconde-esconde, gosta.
O que nos traz, não me pergunte como, à vitória do Barcelona sobre o Santos. O vocabulário do futebol inclui alguns conceitos que se consagram porque ninguém se lembra de discuti-los. Um é o da importância de um centro-avante fixo como “referência” para o ataque. Ou seja, menos um jogador do que um farol, para que o resto do time não se perca. Fica o coitado sozinho lá na frente, açoitado pelo vento e pelas ondas e por botinadas no calcanhar, sem abandonar seu posto. E se há uma coisa que o futebol do Barcelona prova é a absoluta desnecessidade de um centro-avante fixo. Desde que, claro, os outros sejam Xavi, Messi, Iniesta,etc. Quanto ao Santos, pagou por não ter tomado a providência óbvia de perguntar ao Internacional como fazer.
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