domingo, dezembro 04, 2011

Eduardo na pista - DENISE ROTHENBURG



CORREIO BRAZILIENSE - 04/12/11


O presidente do PSB ingressou neste fim de semana na lista de presidenciáveis com um discurso que tira do PT a exclusividade do apoio de Lula


Pense rápido em nomes presidenciáveis: Dilma Rousseff, Aécio Neves, José Serra. Talvez, Lula e Ciro... E... Eduardo Campos. Sim, o governador de Pernambuco. Na abertura do Congresso do PSB, na noite de sexta-feira, o discurso de Eduardo deu aos socialistas a certeza de que o partido tem tudo para se apresentar ao eleitor com um nome próprio e novo no cenário nacional. E com um detalhe importante: o apoio de Lula.

O discurso de Eduardo Campos está, como dizem os políticos, redondinho. Caminha no sentido de conquistar o ex-presidente ou, no mínimo, neutralizar o poder de fogo de Lula em favor do PT. Se não em 2014, em 2018. A juventude e vários deputados viram assim. Lula tem dito a amigos que vê em Eduardo um filho. E o governador foi muito enfático ao dizer que é leal e esteve com Lula nos momentos mais difíceis, quando muitos fraquejaram. Enquanto isso, nos bastidores da plateia alguns citavam que nem os petistas defenderam tanto Lula em 2005, temporada em que surgiu o escândalo do mensalão, como Eduardo e o seu PSB.

O auditório foi abaixo quando o comandante Eduardo, depois de falar da participação do PSB no governo, pediu a todos que, de pé, fizessem “um ato de carinho” para homenagear Lula. Ouvia-se apenas o “Olê, olê, olé, olá... Lula, Lula”. O presidente do PT, Rui Falcão, sentado menos de um metro à direita de Eduardo, se remexeu na cadeira. Todos perceberam que começou ali a tentativa do PSB de colocar Lula com um pé em cada canoa, a do PT e a do PSB. O PT se remexeu na cadeira ainda quando Eduardo disse com todas as letras “temos alegria em apoiar” e falou da “virtude de quem sabe fazer frentes e ser parte da vitória dos outros”.

Como presidente do partido, Eduardo Campos lembrou que entre os governadores mais bem avaliados estão pelo menos três do PSB e, entre os prefeitos, dois (o de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e o de Curitiba, Luciano Ducci). Os dois governadores mais votados do país também são do PSB — o próprio Eduardo, em Pernambuco, e Renato Casagrande, no Espírito Santo. É bem verdade que ambos tiveram o apoio do PT na campanha. Casagrande contou ainda com o PMDB.

O comandante socialista sabe que não fará nada sozinho. Daí a proximidade com o PSD que tanto preocupa o PT e o PMDB. Afinal, uma aliança eleitoral com Gilberto Kassab — que fez questão de comparecer ao Congresso ontem — representa um passaporte para o PSB em São Paulo, onde o partido de Eduardo Campos sempre viveu na periferia do espectro político. Por isso, ainda que o atual prefeito tenha passado pelo constrangimento de ver seus bens bloqueados por causa das denúncias envolvendo inspeção veicular, seu apoio é importante, especialmente, diante da habilidade política que Kassab demonstrou ao montar o PSD. O prefeito paulistano soube aproveitar a onda, coisa que muitos às vezes não conseguem, e buscar o PSB foi uma forma de se colocar ao lado do governo Dilma servindo de contrapeso ao PMDB.

Por falar em PMDB…
A aliança entre Kassab e Eduardo Campos põe o PT na situação de se ver obrigado a fazer uma escolha difícil: a primeira delas diz respeito à escolha do parceiro prioritário para o futuro. O PSB não vê a hora de tomar o lugar dos peemedebistas e assumir a vaga de vice na chapa de Dilma, garantindo assim um lugar privilegiado para organizar o jogo rumo a 2018. Ocorre que a presidente não tem como dispensar os peemedebistas, que também estenderam a mão a Lula em momentos difíceis, mas em troca de ministérios importantes que hoje regressaram ao PT, caso de Comunicações e Saúde.

Por enquanto, o único a criticar abertamente a aliança PT-PMDB dentro do PSB é Ciro Gomes, que faz o papel daquele soldado que desembarca primeiro na praia, atirando para todos os lados. Eduardo tem se preservado. Internamente, há quem diga que uma divisão de poder futuro entre os partidos da base que deixem o PSB como “um resto” pode ser a senha para que a legenda antecipe o projeto de 2018 e repita o que fez em 2006 em Pernambuco, quando se lançou candidato a governador contra Humberto Costa, do PT , e venceu. O problema é que ele mesmo não está seguro de que esse é o melhor caminho. Ele não pretende deixar Dilma na mão a não ser que o PT o force a isso.

Como 2014 está longe, o PSB aproveita o tempo para reconhecer a pista, fazer seus movimentos, conquistar prefeituras e colocar Eduardo Campos na vitrine, como ocorreu com o discurso de ontem. Afinal, aos 46 anos, com uma estabilidade política, partidária e familiar, ele se mostrará como uma promessa para o futuro. Seja o distante 2018 ou o próximo 2014. Isso, o tempo dirá.

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