domingo, dezembro 04, 2011

Arroz de festa - MÔNICA BERGAMO



FOLHA DE SP - 04/12/11
O apresentador Amaury Jr. celebra 30 anos de carreira, diz que já entrevistou o 'país inteiro' e viu a 'elite quatrocentona desmoronar'

"Esse programa só vale pelas mulheres bonitas. Ó lá", aponta Amaury Jr., 61, para o seu time de repórteres. A câmera está ligada. O refletor ilumina o deck da piscina do Club A, em SP, balada que tem ele como um dos donos. O apresentador dá um gole no uísque e larga o copo em cima da mesa.

Passa a mão em volta da cintura de Denise Severo, vestido curto dourado. "As pessoas falam que eu fico agarrando as mulheres, mas é porque elas estão fora do campo de luz", diz. Em seguida, pede pra Denise tirar o salto alto. " Ai, Amaury, você vai me deixar descalça nesse chão gelado?", responde a repórter do "Programa Amaury Jr.", recentemente flagrada aos beijos com o sertanejo Luan Santana. "Vou parecer um anão perto dessas mulheres. Fica feio na TV."

É noite de uma quinta-feira e ele grava com Denise, Laura Wie e Heaven Delhaye os melhores momentos da semana do programa para ir ao ar no sábado, na RedeTV!.

Há 30 anos Amaury é o colunista social da televisão brasileira, apresentando no fim da noite uma atração com entrevistas feitas em festas do eixo SP-Rio - e até Punta del Este (Uruguai). Quase sempre com as músicas "Keep it Comin' Love" e "Nice and Slow" (aquela do "Ooô Oô Ooô"), que viraram marca de que ele está na telinha. "Faço uma revista eletrônica com moldura de coluna social", diz à repórter Lígia Mesquita. O começo foi na Gazeta. Depois, levou a atração para a Bandeirantes e a Record. Desde 2002, está na RedeTV!.

"Ando cansado de ir a muitas festas. Já entrevistei a cidade inteira, o país inteiro", diz. Um aviso na página principal do seu site bate bumbo: "Não há uma única celebridade no país que não tenha sido entrevistada ao menos uma vez por Amaury Jr. -desde presidente da República, empresários, esportistas e artistas". Mas falta uma pessoa, em suas contas: a cantora Marisa Monte. "As circunstâncias nunca bateram."

Admite que tinha medo de uma de suas entrevistadas, Dilma Rousseff. "Achava ela autoritária. E apesar de admirar o Lula, achá-lo um fenômeno, tinha medo do continuísmo. Mas estou me surpreendendo." A presidente e ele conversaram antes das eleições de 2010.

Muitas de suas entrevistas viram sucesso na internet. Caso da vez em que a socialite carioca Narciza Tamborindeguy (a que fala "Ai, que loucura!") deixou um seio escapar de seu Valentino vermelho enquanto pulava sem parar num baile de Carnaval do Rio, em 2008. No mês passado, a cantora Bebel Gilberto, também de vermelho, falou a Amaury. Virou um dos assuntos mais comentados do Twitter.

"Papai te adora, todo mundo te adora, Amaury. Você é uma peça rara. Te vejo desde os anos 80 com o Cazuza. A gente chegava de madrugada em casa e ligava a televisão pra te ver", disse ela, entregando que o pai, João Gilberto, é fã do apresentador. João, avesso a aparições, está na lista "do país inteiro" de entrevistados de Amaury.

"Estava internado no hospital [no mês passado, por causa de uma pneumonia] e os enfermeiros falaram: 'A Bebel bebeu, hein?' Eu não tinha visto. E eu que tenho fama de 'lubrificadinho'. Depois, assisti e achei ela maravilhosa, sincera. Ela tava um pouco 'lubrificadinha'", diz o apresentador.

Um produtor do programa segura uma dália, papel com informações sobre a pessoa com quem Amaury vai conversar. Lê-se: "Margareth Gonçalves, filha de Nelson Gonçalves". Acaba a gravação e o apresentador pede para o garçom: "Me traz outro uísque, por favor, que esse aqui tá virando água".

"Me divirto trabalhando, tomo um drinque. E quando a festa tá ruim, bebo um uísque", conta. Até o fim do mês passado, quando parou de fumar, recorria a um maço e meio de cigarro por dia.

O colunista mostra o Club A à Folha. O espaço fica no hotel Sheraton WTC e tem no meio do salão duas palmeiras feitas com cristais Swarovski. "Minha intenção aqui era, ingenuamente, fazer uma reedição do que foi o Gallery." A boate, surgida no fim dos anos 70, foi reduto da sociedade paulistana.

Hoje, segundo ele, "não existem mais festas gostosas e espontâneas" como as do Gallery. "As pessoas preferem fazer reuniões em casa. A noite de São Paulo é uma balada ensurdecedora."

Barulhenta e sem glamour, decreta. "As pessoas não são glamourosas nem têm ambientes favoráveis para defender o seu glamour. Tá todo mundo à vontade demais. Não têm mais rituais de elegância. As pessoas parecem que saíram da cama e foram direto pra festa."

Nessas três décadas em que Amaury circula pela sociedade paulistana, afirma ter presenciado a mudança de mão do dinheiro. "Vi a elite quatrocentona desmoronar. Perderam-se fortunas."

Acha positivo que mais pessoas tenham chegado à classe média e até entrado no clube dos ricos no Brasil. "Quem quer ficar estacionado?" Não gosta do rótulo de emergente. "Isso é pra quem fica preocupado em se pavonear." Já o termo perua, ele usa. "Mas hoje tem muita perua dura, sem conta bancária. Basta bater o olho e ver que tá mal pavoneada."

Mal "pavoneada", ou mal arrumada, diz, não significa brega. "O que é brega hoje? Como dizia o Zózimo [Barrozo do Amaral, colunista social morto em 1997], brega é perguntar o que é brega."

Um vento invade o deck. Amaury olha no monitor se o cabelo está desarrumado. "Já falaram que eu tenho implante de cabelo. Puxa aqui pra ver", diz. "Sou o único que não é careca na minha família toda." Admite ter feito plástica no pescoço e aplica botox na testa.

"Se eu não gostasse da noite, já tinha caído fora", diz. Toda segunda-feira, ele elege as festas em que irá. "As festas famosas desapareceram e apareceram mais eventos comerciais. Hoje tem que ter celebridade contratada, ou convidada. Antes, artistas não eram bem-vindos."

Muitos desses eventos comercias aparecem no "Programa Amaury Jr.". Subindo o tom de voz, ele desafia alguém a mostrar que já tenha recebido dos organizadores para fazer reportagens sobre essas festas. "Não faço isso e perco dinheiro pra caramba." O apresentador conta que não tem salário na RedeTV!. "Minha remuneração vem dos 'infomercials'." A expressão define comerciais que Amaury faz de produtos enquanto entrevista as pessoas. Ou seja, merchandising.

Um produtor aparece com uma sacola de óculos escuros para o 'infomercial' do momento. Amaury olha pra câmera e elogia os produtos. Minutos depois, faz o mesmo com uma marca de perfumes.

Com o dinheiro que ganha, afirma viver bem. Conta que gosta de aviação e que já pilotou helicóptero. Mas não tem um. "Falo sobre o mundo dos ricos, mas não sou um deles. Gostaria de sê-lo. Ganho bem, mas minhas ambições não são tão grandes."

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

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