O ESTADÃO - 29/12/11
Final de ano é o momento de avaliar o ano que finda e das previsões sobre o que se pode esperar para o novo ano.
Balanço 2011 - Não foi um ano feliz.
Inflação alta e crescimento baixo são tudo o que não se queria que ocorresse e que ocorreu. A explicação é simples.
Desde setembro de 2010 houve um surto inflacionário no mundo, em razão da escalada dos preços das commodities.
Isso se deveu: ao início da injeção de US$ 600 bilhões pelo banco central americano, inundando o mercado de dólares e criando, em contrapartida, sua desvalorização perante outras moedas; e à maior demanda do que oferta, especialmente dos metais e alimentos.
Além da inflação importada, normalmente nos quatro primeiros meses o IPCA registra metade da inflação do ano, por causa do reajuste de transportes coletivos, despesas escolares, gasolina, álcool, IPTU, IPVA, etc.
Para combater a inflação importada e a sazonalidade, o governo comprou a tese do mercado financeiro de que a causa da inflação era o excesso da demanda em relação à oferta e, para isso, deveria encarecer o crédito, elevar a Selice reduzir suas despesas, ou seja, pisar no freio da economia. E assim foi feito.
As medidas macro prudenciais criadas no final de 2010 encareceram o crédito ao consumo. A Selic subiu nas cinco primeiras reuniões do Copom, passando de 10,75% para 12,50%. O governo cortou R$ 50 bilhões do Orçamento e ampliou mais R$ 10 bilhões no superávit primário (receita menos despesas exclusive financeiras).
Resultado: o crescimento econômico, antes previsto em 5%, foi afundando até o governo perceber que havia exagerado na dosagem.
Isso ocorreu há três meses, mas o estrago já estava feito. A economia pode encerrar 2011 sem alcançar 3% de crescimento, ameaçando prejudicar o primeiro semestre de 2012.
Por outro lado, como o diagnóstico da inflação estava errado, a inflação externa empurrou a nossa para o limite de 6,5%.
Perspectiva 2012 - O ministro da Fazenda prevê crescimento de 5% com inflação de 4,5% e o mercado financeiro, crescimento de 3,4% com inflação de 5,4%. Creio que tudo dependerá da intensidade da crise da zona do euro e das medidas que o governo adotar para ativar a economia.
Uma coisa parece certa: a inflação não deve ser o problema central da política econômica em 2012. A prioridade, segundo a presidente, será reativar a economia para crescer 5%.
A intensidade da crise vai depender, em parte, da possibilidade da implementação de medidas que permitam a rolagem das dívidas soberanas dos países mais endividados. Como eles têm déficits estruturais nas contas externas, o problema é mais grave que o simples ajuste fiscal. Assim, é mais provável uma crise com estagnação ou recuo da economia da zona do euro em 2012. Isso vai dificultar exportações, baratear importações e restringir o crédito externo.
Aqui, mesmo estimulando exportações, poucos resultados poderão ser conquistados. As commodities devem sofrer estagnação/redução na demanda e nos preços, mas serão o carro - chefe das exportações, em razão do abastecimento da China.
Quanto ao crédito, o colchão demais de R$ 400 bilhões de depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central basta para garantir liquidez à economia. E, em relação à inflação, é de esperar uma redução/estabilização dos preços externos, em razão da oferta maior que a demanda.
Isso ajuda a conter cerca de metade dos preços internos.
A outra metade fica com os preços administrados (30%) e serviços (20%). Sabe-se que preços administrados são contidos em ano eleitoral. Assim, 80 % da inflação poderá ser baixa. A isso se soma a nova metodologia de cálculo do IPCA, reduzindo - o em meio ponto. Isso pode levar o IPCA a ficar abaixo da meta de 4,5%.
O desafio maior é o crescimento. O salário mínimo vai dar um empurrão no início do ano, mas, sem vigoroso estímulo ao consumo, o crescimento não se sustentará. Para garantir bom nível de crescimento, só reduzindo a taxa de juro do consumo, que trava o crescimento.
Se isso não for feito, corre-se o risco de repetir o baixo crescimento de 2011.
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