quarta-feira, novembro 02, 2011

RUY CASTRO - Aposentadoria precoce



Aposentadoria precoce
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 02/11/11 

RIO DE JANEIRO - O primeiro gramofone, de cerca de 1900, tocava um disco de cera, a 78 rpm, com som precário e música gravada de um lado só. Eram apenas três minutos de música em cada chapa. Custou para a indústria fonográfica começar a gravar nos dois lados. Mas, dali, o formato se consagrou.

Em 1948, um disco de material mais leve, vinilite, girando a 33 rpm, permitiu sulcos mais delicados, nos quais cabiam de quatro a seis faixas, ou 15 a 25 minutos de música de cada lado, com ótima qualidade de som. Era o LP, ou "long playing". Foi um grande progresso. Pelas décadas seguintes, esse disco expandiu-se em lindos álbuns duplos e triplos ou em caixas com dez discos, num total de, às vezes, horas de gravação ou centenas de faixas.

Em 1985, veio o CD. Embora gravado de um só lado, continha 70 minutos de música. Dali também evoluiu para duplos e triplos e caixas inteiras, estas sem limite de discos e faixas. Um amigo meu comprou pela Amazon a caixa com Mozart completo -170 CDs que, tocados um atrás do outro, dia e noite, sem interrupção, levariam quase oito dias para ser escutados. E olhe que meu amigo nem é tão fã de Mozart.
Até que, há dez anos, ouvi falar de um novo dispositivo, chamado iPod, fabricado pela Apple e capaz de acumular mil músicas. Não dei muita atenção e devo ter me distraído porque, na vez seguinte em que me falaram do treco, ele já podia acumular 40 mil músicas. Pensei comigo: o que vou fazer com 40 mil músicas?

Os amigos nunca me perdoaram: "É um absurdo você não ter um iPod!". Mesmo assim, sobrevivi. E logo agora em que, por cansaço, estava admitindo a ideia de aderir à engenhoca, fico sabendo que o iPod, tão jovem, já se tornou peça de museu e está sendo aposentado pela Apple!
Que pena. Bem, de volta à velha vitrola.

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