sábado, novembro 19, 2011
Marta sem amarras - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 19/11/11
Haddad jantou com a ex-prefeita e saiu convencido de que teria o apoio irrestrito. Menos de 36 horas depois, ela afirmou que a escolha do ministro da Educação para prefeito de São Paulo foi um erro de Lula. Viva o político sem papas na língua!
O ministro da Educação, Fernando Haddad, está com a cabeça na eleição. Tanto que não vê a hora de arrumar as gavetas do gabinete na Esplanada e abrir as portas do comitê de campanha à prefeitura de São Paulo.
Com a desistência forçada da senadora Marta Suplicy — por única e exclusiva pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, Haddad viu parte dos problemas internos do PT serem resolvidos antes mesmo do que esperava.
Como se sabe, a notícia e as circunstâncias do câncer de Lula aceleraram a retirada da ex-prefeita da corrida eleitoral de 2012. Ninguém poderia desagradar o homem em momento tão delicado. Marta aceitou o “pedido” do petista.
Nada é tão fácil, entretanto. A senadora abandonou a disputa, mas nunca foi convincente nas respostas sobre a saída antecipada da guerra. Ao contrário, sempre estampou a expressão de contrariada, quase que ressentida.
Questionada se iria ajudar a campanha de Haddad, Marta, porém, garantia a participação. Iria pedir votos nas ruas. E chegou a dizer tal coisa numa conversa com o próprio ministro da Educação durante jantar na última quarta-feira.
Ao acabar o jantar, Fernando Haddad, de barriga cheia, se mostrou convencido. Perfeito. Além de não atrapalhar a eleição do ano que vem, Marta estava disposta a ajudar. O ministro acreditou. Mais uma vez, a sorte estava com ele, pois.
Haddad não escondia a satisfação em conseguir aplacar a fúria de Marta Suplicy. É, mas nada é tão fácil, como disse antes. Na edição de ontem da Folha de S.Paulo, a senadora mostrou a insatisfação em ser a preterida por Lula.
As declarações foram publicadas dois dias depois do jantar com Haddad. Uma das respostas era a de que “o PT terá de trabalhar para burro” se quiser eleger Fernando Haddad. Pela lógica, se o PT estivesse com ela, tudo seria mais fácil.
Viva Marta Suplicy sem papas na língua! Nada melhor do que ver um político sem amarras. A ex-prefeita disse que a escolha de Haddad foi um erro de Lula. E cravou: “Agora vamos nos empenhar para que se transforme num acerto”.
Em tom irônico, segundo o repórter, Marta disse que a escolha de Haddad foi decisão de Lula, “ninguém tinha tido essa ideia brilhante”. E sugeriu que a própria presidente Dilma Rousseff se viu forçada a seguir a orientação de Lula.
Marta tem boa parte do apoio dos controladores da máquina partidária do PT de São Paulo. Não é pouco. Os movimentos da ex-prefeita, por mais indesejáveis aos caciques nacionais, sempre terá apoio de número razoável de petistas paulistas.
Tudo o que Haddad não quer é ter Marta magoada ao extremo, por isso a procurou na quarta-feira passada. E, por isso, teve a esperança de ter a ex-prefeita como aliada imediata. Parece que esse tempo ainda não chegou para o ministro.
Longe da pasta
Uma última coisa: a saída de Fernando Haddad do ministério o quanto antes é providencial. Afinal, afasta-se desde cedo de polêmicas como o vazamento da prova do Enem e as denúncias do laranjal do Inep, feitas por este Correio.
Prêmio Esso
É uma honra para a equipe deste Correio ter recebido o Prêmio Esso, o mais prestigiado da imprensa brasileira. O jornal, como se sabe, ganhou duas categorias: Primeira Página e Regional Centro-Oeste. O prêmio é a demonstração da seriedade e do compromisso com o leitor.
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