segunda-feira, agosto 15, 2011

GUSTAVO CERBASI - Decida sem analisar


Decida sem analisar
GUSTAVO CERBASI
Folha de S. Paulo - 15/08/2011

A segunda-feira passada foi o pior dia do índice Bovespa desde outubro de 2008. Excesso de vontade de vender e a falta de interesse em comprar fez muitos investidores de grande porte jogarem a toalha, gerando tumulto, pânico e um esperado efeito manada.
Por muito pouco não foi acionado o "circuit breaker" da Bolsa, que é a interrupção obrigatória das operações para dar aos negociadores uma oportunidade de pensar.
Lá pelo meio da tarde, quando a queda do índice superava 9% no dia, não resisti e deixei um pouco de lado minha necessária isenção, postando no Twitter a mensagem: "É hora de comprar. Se é a melhor hora? Impossível dizer".
O motivo do alerta não estava em uma análise, mas sim na falta dela. O investidor iniciante precisa entender que, todos os dias, milhões de análises, profissionais ou não, são feitas para que compras e vendas de ações sejam feitas.
Por esse motivo, raramente os preços das ações deveriam estar muito distantes de quanto elas realmente valem.
Também por esse motivo não se deve esperar grandes oscilações no índice da Bolsa, a não ser quando surgem fatos relevantes que mudam os rumos das empresas.
É a isso que se chama de mercado quase perfeito. E é isso que observamos em Bolsas mais tradicionais, como as da Alemanha, dos Estados Unidos e da Suíça.
Nesses países, uma queda de 1% equivale a um dia péssimo para o mercado, enquanto no Brasil esse número nem sequer vira notícia.
Desconfie, portanto, de qualquer análise feita quando ocorre uma oscilação muito forte no mercado, seja para cima ou para baixo.
Uma queda de 8% ou 9% em um só dia indica claramente que parte da manada entrou em desespero. Quando baixar a poeira, a tendência é que haja pelo menos o chamado repique, com uma recuperação das perdas ou com uma realização de lucros, caso o efeito manada tenha sido de alta.
Historicamente, quedas ou altas acima de 5% são muito raras - por isso não podem deixar de ser aproveitadas. Não importa se há análise confirmando ou dizendo o contrário: esses são bons dias para negociações, desde que sejam à vista - a aplicação em fundos geralmente é feita no fechamento do dia seguinte.
Em um dia de furacão no mercado, ninguém tem tempo de fazer análises consistentes. Cabe àqueles que estão com reservas financeiras e liquidez aproveitar a oportunidade e fazer negócio.
Curiosamente, depois de meu tuíte recebi diversos pedidos de entrevista, a maioria solicitando orientações para serem publicadas aos investidores no dia seguinte ou no final de semana.
Nesse caso, pouco teria a contribuir, pois seria necessário fazer uma análise dos ativos - e esse não é meu papel. Oportunidade certa era aquela do momento irracional.
Dez em dez especialistas recomendam que você faça investimentos regulares em ações, independentemente de o momento ser de alta ou de baixa. O motivo dessa recomendação é que você se mantenha envolvido com o mercado e atento regularmente às notícias, para que a esperada ansiedade decorrente desse envolvimento o faça perceber um dia de estresse antes que ele vire notícia nos jornais do dia seguinte. A hora de agir é aquela.
Se você comprar em um dia como a última segunda-feira e a Bolsa continuar caindo, seu espaço para perdas ficará reduzido. Se a Bolsa passar a ter alta, você desfrutará do bom sentimento de não ter perdido uma oportunidade.
Quem nunca fez diz que isso é ter sangue-frio. Quem, por outro lado, já investe e acompanha o mercado, sabe que isso é resultado do acompanhamento dos investimentos e da consciência de que, em algumas situações, os ativos ficam muito baratos. Mesmo que não seja o mais barato possível.
Baseie suas escolhas em análises diariamente, sejam essas análises técnicas ou fundamentalistas. Mas, nos momentos de falta de lucidez do mercado, deixe as análises de lado e simplesmente aja.
Não aproveitou? Então espere a próxima oportunidade. Quando? Impossível dizer. Mas virá.

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