Um modelo para Dilma
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 06/07/11
Há pelo menos um ponto em comum entre Dilma Rousseff e Itamar Franco. Ambos chegaram à Presidência meio por acaso. Ele, pelo impeachment de Collor, e ela, por obra e graça de Lula. Os dois superaram a expectativa. Itamar foi uma surpresa. Tratado inicialmente como um político provinciano, o chefe da "República do pão de queijo" acabou implantando o projeto econômico mais importante do Brasil moderno, o Plano Real, cuja autoria nem sempre lhe foi atribuída, e ele morreu com essa mágoa, acreditando que, se não fosse ele, "FHC seria hoje um professor universitário". O seu governo foi exemplar do ponto de vista ético e político, pois manteve a ordem democrática e restabeleceu a confiança institucional em um país saído de uma grave crise. Marcado pela honestidade, o maior escândalo de sua administração talvez tenha sido a foto com a namorada sem calcinha no carnaval carioca - o que é até engraçado, se considerarmos a onda de corrupção que pontuou os governos seguintes, principalmente o do PT.
Diante de tudo isso, Dilma poderia eleger Itamar como modelo e inspiração. Aliás, se já tivesse seguido o seu exemplo, ela teria evitado a crise causada por Palocci, que tanto desgastou o seu governo. O ex-presidente ensinou como se comportar nessas situações. Quando seu amigo e chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi acusado por um jornal de tráfico de influência, ele o chamou ao palácio e o demitiu. Que ele se defendesse na justiça. Se inocentado, reassumiria o cargo. Justificou-se dizendo que não era a ele que as explicações deveriam ser dadas. Depois de inocentado, Hargreaves voltou às suas funções. Por que não fazer o mesmo agora com o ministro dos Transportes, em vez de mantê-lo sob suspeição?
Embora sem resistir às pressões da base, como conseguiu no começo de seu governo - ela cedeu depois em alguns casos e tergiversou em episódios como o do sigilo eterno - Dilma surpreendeu por alguns gestos de coragem e também de independência, como o que inaugurou a distensão política. Ao cumprimentar FHC pelos seus 80 anos, exaltando virtudes que a política tem por hábito só conceder aos adversários pós-morte, ela deu a seus pares uma lição de civilidade, principalmente aos que não acreditam no princípio democrático de que pode haver divergência com cordialidade, desacordo sem rancor ou hostilidade.
Antonio Candido faz hoje a conferência de abertura da Flip, o que me traz à lembrança um de meus trabalhos mais prazerosos: participar como entrevistador do documentário de Dodô Brandão, "3 Antônios e 1 Jobim" (com Candido, Houaiss, Callado e Tom). Guardo do grande mestre, entre outras, a sábia lição: "O riso é profilático. O riso limpa. Quando você começa a se levar a sério demais, está perdido."
Diante de tudo isso, Dilma poderia eleger Itamar como modelo e inspiração. Aliás, se já tivesse seguido o seu exemplo, ela teria evitado a crise causada por Palocci, que tanto desgastou o seu governo. O ex-presidente ensinou como se comportar nessas situações. Quando seu amigo e chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi acusado por um jornal de tráfico de influência, ele o chamou ao palácio e o demitiu. Que ele se defendesse na justiça. Se inocentado, reassumiria o cargo. Justificou-se dizendo que não era a ele que as explicações deveriam ser dadas. Depois de inocentado, Hargreaves voltou às suas funções. Por que não fazer o mesmo agora com o ministro dos Transportes, em vez de mantê-lo sob suspeição?
Embora sem resistir às pressões da base, como conseguiu no começo de seu governo - ela cedeu depois em alguns casos e tergiversou em episódios como o do sigilo eterno - Dilma surpreendeu por alguns gestos de coragem e também de independência, como o que inaugurou a distensão política. Ao cumprimentar FHC pelos seus 80 anos, exaltando virtudes que a política tem por hábito só conceder aos adversários pós-morte, ela deu a seus pares uma lição de civilidade, principalmente aos que não acreditam no princípio democrático de que pode haver divergência com cordialidade, desacordo sem rancor ou hostilidade.
Antonio Candido faz hoje a conferência de abertura da Flip, o que me traz à lembrança um de meus trabalhos mais prazerosos: participar como entrevistador do documentário de Dodô Brandão, "3 Antônios e 1 Jobim" (com Candido, Houaiss, Callado e Tom). Guardo do grande mestre, entre outras, a sábia lição: "O riso é profilático. O riso limpa. Quando você começa a se levar a sério demais, está perdido."
Nenhum comentário:
Postar um comentário