sexta-feira, julho 08, 2011

VINÍCIUS TORRES FREIRE - A nossa guerra cambial particular

A nossa guerra cambial particular
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 08/07/11


Governo estuda criar novo paliativo para evitar alta do real, mas faltam medidas de fundo para lidar com o caso

ALÉM DE medidas "revolucionárias", não sobrou muita ferramenta na caixa de medidas paliativas para o câmbio. Isto é, remendos aos quais o governo pode recorrer a fim de evitar a valorização ainda maior ou mais rápida do real. Mexer no mercado futuro de câmbio e de juros em dólar é uma dessas providências restantes.
Essa conversa vai e vem no governo pelo menos desde 2009. Voltou de novo, agora. Em janeiro, o governo tentara reduzir o volume de dinheiro que bancos empregam para apostar e induzir a queda do dólar, no mercado futuro. A medida, que entrou em vigor em abril, parece não ter refrescado em nada a situação, pois cresceu brutalmente a venda de dólares no futuro. O Banco Central também fez uma mexida "técnica" no cálculo da média "oficial" do preço do dólar, providência que no fim das contas pretende dar mais peso ao mercado à vista de câmbio (e evitar algumas manipulações). Mas o efeito disso no preço do real, se algum, é ainda controverso.
Ainda é possível mexer no mercado futuro. Pode-se exigir que os bancos recolham mais dinheiro ao Banco Central caso queiram aumentar suas apostas no preço das moedas. Pode-se tentar aumentar o custo e/ou o risco para os apostadores, fazendo com que se arriscassem a perdas maiores em caso de aumento da volatilidade do câmbio.
O pessoal da finança diz que isso cria ineficiências sem que o governo atinja seus objetivos. Como sempre, diz ainda que, em algum momento, o mercado inventa um jeito de burlar as restrições. Embora a reticência do governo (ou do Banco Central) em bulir com a Bolsa de futuros de dólar pareça dar alguma razão aos povos dos mercados, a prova do pudim é sempre comê-lo.
A questão essencial, porém, talvez nem seja a da intervenção no mercado futuro. Quanta confusão (e aumento de risco e de custos) será necessária para que se evite uma valorização de meia dúzia de centavos? Vai evitar? Com os juros em alta no Brasil e ainda por muito tempo negativos no mundo rico?
Se a intervenção tiver sucesso (dando em desvalorização do real), que efeito tal coisa terá na inflação, no curto prazo? Dado que pelo menos até o final de 2012 a inflação será desagradável, faz sentido aplicar mais remendos no câmbio? Se não bastam as incertezas nacionais e de curto prazo, há outras.
Um dos motivos da valorização do real é a alta dos preços das commodities (comida, minérios) que o país exporta. Até quando vai esse ciclo? Se os preços das exportações brasileiras não tivessem voado de novo depois de 2009, o deficit externo estaria passando de 3% (em tese, deficit externo maior aumenta o risco de desvalorização).
Corremos o risco de uma queda abrupta de preços e, portanto, de desvalorização do real? Um desenlace desordenado da crise da dívida europeia também pode causar estragos de meses na finança global, provocando ao menos alguma desvalorização do real.
Enfim, o que está sendo feito a fim de corrigir problemas essenciais da economia ("fundamentais") que favorecem a alta do real e também encarecem os produtos brasileiros? Temos inflação alta, consumo ainda excessivo do governo, para nem falar dos ainda por muito tempo insanáveis impostos altos.

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