Companheiros de viagem
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 08/07/11
SÃO PAULO - Não foram bem os idiotas, como quis outro dia o ministro Nelson Jobim, mas os espertalhões que perderam a modéstia no convívio com o governo Lula.
Está aí o exemplo do PR, na estrada com o PT há quase dez anos, aprontando país afora na boleia do caminhão governista. Nos anos FHC, dizia-se no alto tucanato que o então PL "gostava das aduanas". Eufemismo para indicar que esses liberais de araque tinham o controle do aeroporto de Cumbica e do porto de Santos, valendo-se dos métodos e intenções de sempre.
Com Lula, o PL (depois PR) encorpou e passou a atacar por terra. Está desde 2003 no comando dos Transportes. E patrocina ali, com o aval de Luiz Inácio, a sua Caravana da Anticidadania. É óbvio que há relação entre a situação deplorável das estradas brasileiras e o regime de descalabro instalado na pasta responsável pelo assunto.
Este é um ministério em que as políticas públicas são também, ou sobretudo, oportunidades de negócios privados, lícitos ou ilícitos, para dar de comer à corriola.
Vale recordar a origem da aliança entre PT e PL que selou a chapa Lula-Alencar. Ela nasceu no quarto do apartamento de um deputado, onde Valdemar Costa Neto, pelo PL, e a dupla Delúbio & José Dirceu, pelo PT, acertaram que os "liberais" receberiam R$ 10 milhões dos "trabalhadores" para financiar sua campanha. Quem relatou a história foi o próprio Valdemar, quando eclodiu o mensalão, em 2005.
Eis, com sinais invertidos, o pacto entre capital e trabalho da era Lula. É uma versão degradada da aliança entre PSDB e PFL em 1994. O PL-PR é uma espécie de PFL com os cabelos tingidos de acaju.
Dilma recebeu essa herança maldita. Cai Alfredo Nascimento, o PR fica. A presidente tem força para derrubar o ministro, mas não para enquadrar o partido -ou simplesmente se livrar dele e moralizar o pedaço. Os espertalhões perderam a modéstia. Quem lhes abriu essa estrada foi o companheiro Lula.
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