Emprego para a "geração Starbucks"
ANDREI CHERNY
FOLHA DE SP - 10/07/11
A grande lacuna no debate é uma agenda para tornar os americanos, no plano pessoal, mais competitivosHÁ UMA questão que deveria ser uma das prioridades na agenda política nos Estados Unidos: a recuperação lenta no nível de emprego.
O mercado de trabalho voltou a travar nos últimos meses, enquanto o debate sobre o que fazer para aumentar a disponibilidade de empregos está há muito tempo relegado a um beco sem saída político.
As ferramentas econômicas tradicionais da esquerda e da direita -gastos públicos e cortes de impostos- não ajudaram muito em uma era de economia globalizada, mobilidade de capital e na qual qualquer dinheirinho que sobra pode ser usado na compra de TVs fabricadas na China, no Walmart mais perto.
Injetar mais dinheiro na economia poderia ter funcionado quando vivíamos em uma economia nacional, e não globalizada, na qual as grandes empresas criavam a maioria dos empregos; e quando o local de trabalho paradigmático era a disciplinada linha de montagem.
Mas os EUA e as demais economias entraram no que se pode descrever como uma nova ordem do emprego -uma economia na qual a maioria dos trabalhadores não está vinculada a grandes instituições e salta de trabalho a trabalho. Nesse tipo de economia, cada trabalhador é, na prática, uma pequena empresa -responsável por orientar sua carreira e seu futuro econômico.
Ainda que os defensores de abordagens tradicionais, envolvendo ajudar grandes empresas ou expandir mais o governo, possam não perceber, vivemos numa economia que funciona de baixo para cima. Os criadores de emprego atuais dificilmente serão industriais que constroem fábricas, e sim funcionários demitidos que conectam laptops para trabalhar como free-lancers enquanto tomam café no Starbucks.
Pesquisas demonstraram que, ao longo dos últimos 25 anos, empresas criadas há no máximo cinco anos responderam por todo o crescimento líquido no nível de emprego dos EUA. O desafio atual é que a desaceleração econômica recente está diretamente vinculada a uma desaceleração nas atividades empreendedoras. O número de novas companhias com funcionários caiu em mais de 17% entre 2007 e 2009.
Os indicadores de trabalho autônomo também vêm caindo nos dois últimos anos, e estudo da Administração de Pequenas Empresas mostrou que 65% dos empregos criados por empresas iniciantes entre 1997 e 2008 eram vagas que os proprietários criaram para eles mesmos. Como aponta um dos autores, "criar empresas é criar empregos".
Assim, é nos novos empresários, que muitas vezes são tratados com descaso nas discussões convencionais sobre criação de emprego, que o país deveria concentrar atenções. Revitalizar o espírito empreendedor poderia começar pela dispensa tributária para novas empresas, ligada ao número de empregos criados.
Benefícios de saúde e aposentadoria deveriam ser mais universais, personalizados, acessíveis e portáteis, de modo a que as pessoas com espírito empreendedor se disponham mais a deixar grandes empresas e abrir negócios próprios.
Mais Estados deveriam seguir o exemplo de Nova Jersey e Oregon, que começaram a modernizar seus sistemas de benefícios aos desempregados, para que não apenas atenuem o golpe para os trabalhadores demitidos, mas também os ajudem a encontrar novos empregos, ou criá-los, para eles e outros.
É importante debater redução nas exigências regulatórias para as grandes empresas, ou a criação de linhas ferroviárias de alta velocidade e redes elétricas inteligentes, para tornar os EUA mais competitivos.
Mas na "nova ordem do emprego", a grande lacuna no debate econômico é uma agenda que torne os americanos mais competitivos no plano pessoal. Uma sensação de energia e urgência para adotar essa meta já tarda, caso desejemos reverter a situação econômica.
Compreender e aprender a lidar com essa economia transformada é o primeiro passo para a recuperação. A causa imediata da Grande Recessão pode ter sido a cultura do excesso e da irresponsabilidade, tanto da parte dos cidadãos comuns quanto dos mercados, mas a solução só surgirá quando fizermos pela nossa era aquilo que o New Deal fez nos anos 30: atualizar as políticas econômicas para que respondam a um novo mundo.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
ANDREI CHERNY é presidente de "Democracy: A Journal of Ideas" e pesquisador sênior do Center for American Progress.
Nenhum comentário:
Postar um comentário