Desemprego lá, ruim aqui...
ALBERTO TAMER
O ESTADÃO - 10/07/11
Mais desemprego em junho nos Estados Unidos. Foram criadas apenas 18 mil vagas. Não foi só o setor privado que não criou empregos, foram os governos federal e estaduais que cortaram 39 mil postos de trabalho. É a retração da demanda provocada pela insegurança no emprego. É a estagnação da renda, levando a um crescimento talvez menor que 2% este ano.Nos Estados Unidos, o desemprego é de 9,2% da força de trabalho, na Eurozona 9,9%. E eles, que representam cerca de 50% do PIB mundial, não a China, são os únicos que poderiam aumentar a importação de produtos industrializados do Brasil.
Desemprego lá, problemas aqui. Lá se vão os primeiros 15 dias do terceiro trimestre nesse clima negativo que pode durar pelos próximos meses. Talvez até o fim do ano. Aqui, o cenário é outro. O emprego industrial cresceu 2,2% até maio, 3,5% em doze meses, mas dá sinais de vacilar. Em maio sobre abril deste ano, apenas 0,1%, informa o IBGE. O mesmo para horas pagas.
São os primeiros efeitos da desaceleração econômica, provocada pelas medidas para conter a inflação. Neste cenário de deterioração das expectativas externas, não há que contar com os Estados Unidos e Europa para importarem mais produtos industriais e sustentar o nível de emprego no Brasil.
As vendas externas devem continuar se concentrando pela alta dos preços das commodities agrícolas, minério e petróleo, que não agregam valor e geram pouco emprego, com efeito negativo sobre o mercado de trabalho nos próximos meses.
Bom, se não piorar. Dificilmente o Brasil vai reconquistar espaço perdido no exterior para países que, ainda em clima de recessão, se esforçam para exportar mais. Será até um grande êxito se puder conservar o que ainda lhe resta no mercado interno e é cada vez menor.
Como se não bastasse, há novas pressões inflacionárias das commodities agrícolas. Os efeitos positivos do real valorizado, que permite importar a um preço menor, começam a ser atenuados pela contaminação interna da cotação das principais commodities agrícolas.
Nesta semana, a FAO acusou a queda da produção brasileira de açúcar pela alta dos preços no mercado mundial. A organização prevê um segundo trimestre de fornecimento de grãos mais apertado. Todos estão importando mais grãos, temendo perda de safras, o que eleva os preços no mercado internacional, já estimulado pelas operações financeiras que rendem mais. Há muitos países importando, até mesmo trigo produzido aqui. O Brasil surpreendeu a todos, este ano, ao se tornar o 90.º maior exportador de trigo mundial.
Um caso de amor e raiva. O governo enfrenta, neste caso, uma luta que pode ser inglória se nada for feito rapidamente. Pode estimular o plantio de cana, mas isso leva anos. Se comprar para fazer estoques, os preços sobem ainda mais. Resta-lhe reduzir impostos que representam 39% do preço da gasolina e do álcool nos postos. É importante contê-los, pois combustível tem grande peso no índice de inflação. O vilão da história não é a gasolina, que custa R$ 1 por litro num preço de R$ 3, mas o álcool.
Os preços excepcionais do açúcar estão aumentando com a queda da safra de cana, estimada em 3,3%, desviando matéria-prima do álcool combustível, R$ 1,70 o litro nos postos de gasolina, em junho. Uma alta fortíssima de 42,4%!
É um quadro difícil, complicado com o açúcar mais rentável desviando cana para produzir álcool. Sinônimo de mais inflação, mais juros, mais medidas restritivas do BC e do governo para conter os preços. Só que as cotações estão em alta lá fora e pouco se pode fazer a não ser conter a demanda e o crescimento. Só que isso deverá pesar negativamente no mercado de trabalho mesmo porque, voltamos ao inicio da coluna, não se pode agora contar com o mercado exterior, os Estados Unidos e a Europa, para importar produtos industriais brasileiros. Resumindo, como não se prevê que o cenário externo mude, ao contrário, pode piorar, pode esperar um menor crescimento do mercado de trabalho no Brasil.
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