quarta-feira, fevereiro 09, 2011

LULI RADFAHRER

Os velhos da sua idade
LULI RADFAHRER
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/02/11

O que você deve fazer por aquelas pessoas que têm a sua idade, mas não leem este caderno


ESTE ARTIGO foi escrito para aqueles seus amigos, parentes ou colegas que têm a sua idade e uma formação parecida com a sua, mas que, por algum motivo, nunca lêem cadernos como este. Você conhece o tipo: são pessoas inteligentes, de opinião formada, que acompanham as notícias regularmente, mas que raramente passam do caderno de economia ou de cultura. Sabe quem acredita que ópera é muito mais importante do que videogames ou Facebook, mesmo tendo uma fração de sua audiência? Pois então.
Eles não são velhos. Você não é velho. Ou pelo menos não deve se sentir ultrapassado, mesmo que não saiba das últimas artimanhas do Google ou do Twitter. O leitor da editoria de tecnologia costuma ter conta em redes sociais e saber como deve se comportar nelas, não clica em qualquer link de e-mail e tem uma boa noção do que é um iPad ou um Wii, mesmo que não tenha a menor intenção de comprá-los. É alguém que, como você, tem critério e experiência. Isso depende cada vez menos da idade.
No entanto, há cada vez mais gente com orgulho de sua aversão ao ambiente digital. Isso não acontece com outras inovações, como a energia elétrica ou o rádio.
A web tem quase duas décadas de vida e a telefonia móvel, cerca de metade disso. Não se pode mais chamá-las de "mídias alternativas" ou de "tecnologias emergentes" quando a maioria dos processos contemporâneos depende delas. Mas ainda são poucos os que perceberam de verdade essa mudança. A maioria ainda está à margem das transformações, fazendo de conta que elas não existem, mesmo que tenham filhos adolescentes e uma renda pra lá de confortável. A inclusão digital se torna, cada vez mais, uma questão cultural.
O que aconteceu com essa gente? Meu palpite é que eles não perceberam a mudança. Como qualquer pessoa que não se interessa por uma área da medicina ou do direito até que se torne vítima dela, eles nunca se importaram com o digital. Mas deram o azar de terem nascido em uma época que ele se tornou importante. Por causa disso, muitos vivem hoje em um mundo desconfortável e isolado, que não compreende o que fazem seus filhos, seus funcionários e o resto do planeta.
Esses caras me lembram aqueles coleguinhas da escola que, por serem bonitos ou fortes ou populares ou ricos demais, nunca pensaram que precisariam estudar.
O tempo passou, e uma das poucas coisas que correu mais rápido do que ele foi a tecnologia. Lembra a lenda da cigarra e da formiga? É algo parecido.
Pode parecer lavagem cerebral, mas acredito que você deva ajudá-los a se alfabetizar no digital. Por mais que dê trabalho, a atividade compensará por dois motivos. O primeiro é que as tecnologias de informação estão mais para uma linguagem do que para uma ferramenta. Quanto maior a fluência, mais eficiente será a comunicação e a compreensão. O segundo é que quanto maior e mais adiantado estiver o mercado, mais exigente ele será.
No fim, quem mais se beneficiará dessa cadeia evolutiva será você, que terá acesso a máquinas e serviços melhores. Isso sem contar que poderá fazer novos amigos e ampliar sua visão de mundo, principalmente se eles estiverem entre os do tipo que não lê este tipo de caderno.

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