domingo, agosto 15, 2010

ABRAM SZAJMAN

Um polo para a América Latina
ABRAM SZAJMAN 
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/08/10

Regiões ao sul do Equador mantiveram-se subordinadas aos centros do hemisfério Norte, apesar da importância crescente de suas economias 


A globalização financeira impulsionada pelo vertiginoso desenvolvimento dos meios eletrônicos de comunicação e transferência de valores conectou todos os rincões do planeta a uma rede mundial de negócios. Os principais polos dessa rede, entretanto, continuaram sendo os mesmos dos séculos 19 e 20, ou seja, Londres e Nova York.
Recentemente, Hong Kong e Cingapura transformaram-se em polos regionais na Ásia. Mas regiões ao sul do Equador mantiveram-se em posição subordinada aos centros do hemisfério Norte, apesar da importância crescente de suas economias e do discurso independentista de alguns de seus líderes.
É o caso da América Latina, que ainda não acolhe em qualquer de seus países um polo de negócios que represente uma alternativa para que suas empresas, quando se internacionalizam e buscam se capitalizar, não precisem fazê-lo em Nova York.
Foi com o objetivo de preencher esta lacuna que surgiu a Brain (Brasil Investimentos e Negócios), uma articulação de entidades representativas de diferentes segmentos da economia, que se uniram para fazer do eixo São Paulo - Rio de Janeiro o polo de rede para a América Latina.
Maior país da região e quinto do mundo em extensão e população, o Brasil exibe credenciais para tanto. Detentor de matriz energética diversificada e segundo maior exportador agrícola mundial, desfruta de 15 anos seguidos de estabilidade macroeconômica e maturidade institucional. Já São Paulo e Rio de Janeiro formam um contínuo econômico que responde por 45% do PIB, concentra grandes empresas e as principais instituições de ensino e qualificação de talentos.
Embora a Brain tenha surgido da junção inicial de esforços de entidades dos mercados financeiros e de capitais, o comércio a ela se uniu por acreditar que a iniciativa transcende o universo dos interesses de bancos e Bolsas de Valores.
Como ocorre com a Copa do Mundo e a Olimpíada, para implementá-la a União, Estados e municípios envolvidos terão que adotar reformas, marcos regulatórios e melhorias de infraestrutura que espalharão benefícios pelo país e por diferentes segmentos econômicos, gerando emprego, renda e aperfeiçoamento da mão de obra.
Não se trata de propor desregulamentação ou artificialismos que possam gerar desequilíbrio. Não se quer fazer do Brasil um paraíso fiscal, um centro "offshore", uma zona franca financeira. Muito menos dolarizar a economia, deixá-la superexposta a finanças ou excessivamente alavancada. Nada disso. O que se pretende é aproveitar melhor o "investment grade" obtido pelo país para atrair capital produtivo, e não especulativo, fazendo com que a atividade financeira deixe de ser autocentrada e passe a irrigar a economia com recursos que administra, beneficiando a toda a sociedade, e não só a ela mesma.
ABRAM SZAJMAN, empresário, é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), dos conselhos regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio), do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

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