sábado, maio 15, 2010

VILAS-BÔAS CORRÊA

A biruta patusca do presidente Lula
VILAS-BÔAS CORRÊA
JORNAL DO BRASIL - 15/05/10

NÃO É EMOTIVO PARA GRAÇA mas, ao contrário, para preocupação a estranha mudança no temperamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não está dizendo coisa com coisa, como uma biruta aloprada que aponta para todos os lados, com a leviandade de quem carrega o peso do cargo, com suas obrigações e responsabilidades no período de pré-campanha, por ele antecipada ao expor a sua candidata, Dilma Rousseff, ao constrangimento das críticas da oposição e da imprensa.

Ficou difícil acompanhá-lo no ziguezague das contradições.

Uma no cravo outra na ferradura. Ou no óbvio, como o dispensável conselho acaciano sobre a encruada escolha do vice da candidata que retirou do bolso do colete, que não usa: “O melhor vice é quem se der bem com a Dilma. Vice é como casamento.

O Temer é um bom nome”. Ora, a escolha do deputado Michel Temer, presidente da Câmara e do PMDB, está sacramentada desde o começo do ano. E dispensa o carimbo do presidente no contrato firmado e registrado no cartório da evidência. Sem o apoio do PMDB a candidatura de Dilma não existiria.

Adiante. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), supõe-se que como porta-voz do presidente Lula, afirmou que a prioridade para o governo é a votação dos projetos do pré-sal e não o da Ficha Limpa, que veta candidaturas de políticos com a condenação de um colegiado da Justiça. Trata-se, segundo o líder do governo, de um projeto que é da sociedade, mobilizada para conseguir mais de 1,7 milhão de assinaturas.

Mas Lula passou o recado ou apenas o palpite de que apenas o condenado em todas as instâncias será impedido de disputar um mandato. Em que ficamos? Por enquanto no ar, balançando no trapézio da confusão. Em cautelosa precaução, o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, sustenta que a prioridade da votação da proposta do Ficha Limpa é absoluta, pois, além da evidência da sua urgência e oportunidade, trata-se de um projeto de iniciativa popular. A aragem que sopra em Brasília chegou ao gabinete da juíza Gislaine Carneiro Campos Reis, da 8ª Vara da Fazenda Pública, que condenou o notório ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC) e a sua vice Maria de Lourdes Abadia por improbidade administrativa.

No caso, reincidentes.

E saiu barato para a dupla. A Justiça fisgou o ex-governador por ter aceitado carona no helicóptero oficial em maio de 2006 (é lenta a Justiça na capital e em todo o país) quando a vice Maria de Lourdes havia assumido o cargo. E, como a Viúva além de cega é perdulária, o ex-governador Roriz e a governadora em exercício voaram durante seis dias no helicóptero para levar a dupla a eventos sociais. Ao fim do dia, o ex-governador Joaquim Roriz era deixado de helicóptero em sua residência, em Brasília, ou em sua fazenda em Luziânia, Goiás.

Antes de embarcar para o Irã, em mais uma viagem internacional da sua agenda de um dos líderes mais populares do mundo, o presidente Lula deixou como tema para distração do público um cacho de declarações que batem cabeça no xadrez das contradições. No encontro com os companheiros do Grito de Terra 2010, que reúne pequenos agricultores ligados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), com a voz no tom emocionado, o presidente anunciou que após deixar o cargo, em 1º de janeiro de 2011, percorrerá o país “fazendo política”. E, na forma do costume, uma alfinetada no antecessor, FHC: “Não vou dar pitaco no novo governo, porque eu quero que eles digam que nunca um ex-presidente na história deste país foi tão ex-presidente”.

Como de boas intenções o inferno está cheio, as do presidente Lula duraram menos que uma rosa. Na entrevista ao SBT, Lula voltou ao natural. E bateu firme: “É uma constatação de fato. Porque essa gente que vive com o nariz torto tentou destruir este país. Eu gostaria de ser economista. Acho chique. Eles sabem tanto número! E quando é oposição sabem mais ainda. O Serra agora está sabendo tudo que não sabia quando estava no governo”.

No galeio para saltar a contradição reafirmou que quando deixar o governo não dará palpite sobre a administração de quem o substituir. Palavras, o vento leva...

O presidente deixou declarações a bater no xadrez das contradições

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