REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
Os homens, o amor e a fidelidade
RUTH DE AQUINO
Não existe homem fiel. Uma afirmação tão categórica desperta reação indignada.“Ah, o meu marido é fiel, tenho certeza.” “Nunca traí minha mulher, eu a amo.”Entre essas convicções, existe um oceano de nuances. Como definir a infidelidade? Frequência dos casos, envolvimento sentimental, distância geográfica e o nome da amante – tudo conta? Segundo uma psicóloga francesa, a fidelidade masculina é tão rara que a mulher deveria parar de se preocupar: “O homem costuma trair também quando ama”.
Autora de Les hommes, l’amour, la fidélité, livro recente ainda não editado no Brasil, Maryse Vaillant não se baseou em estatísticas, mas em dezenas de entrevistas. Sua preocupação não foi quantificar infiéis ou traídas. Mas entender por que os homens têm muito mais aventuras – e o que isso tem a ver com amor ou desamor. Seriam eles eternos meninos, pulando a cerca sempre que a cerca fosse irresistível?
“Eu gostaria sobretudo que as mulheres parassem de pensar que a culpa é delas quando seu homem as trai. As mulheres não são responsáveis pela libido dos homens”, me disse Maryse numa conversa em Paris. “Não sugiro que elas devam ser mais tolerantes com as pequenas infidelidades do marido. Cada mulher é de um jeito e sabe o que é essencial com o homem ou os homens de sua vida. Não existe uma norma.”
No livro, conhecemos Ben, “o monogâmico infiel e mentiroso que só ama sua mulher oficial”. É um perfil bem comum. Adora a mulher e os filhos, idolatra a família, valoriza o trabalho. Mas não se imagina abdicando de seus casos sexuais, nunca amorosos. Nada que ameace a família ou magoe a mulher. É discretíssimo, mais cuidadoso ainda nestes tempos de internet. Ele se casou para toda a vida. As outras só importam porque o fazem se sentir atraente e vivo. Ben não se considera infiel.
Outros perfis de homens: o polígamo ansioso, que quer ir para a cama com todas. Liberdade sim, casamento nunca. “Esse homem imaturo é cada vez mais frequente, mas especialmente na juventude”, diz Maryse. Só que alguns jamais passam desse estágio. Ou passam, mas voltam sôfregos à ativa muito depois, com a ajuda de medicamentos e a ingenuidade da velhice.
Há os infiéis crônicos, que se apaixonam também pelas amantes. “Esses continuam a aumentar – junto com os divórcios. Associam casamento à paixão e vão buscando outras eternamente. São homens meio perdidos que acham que só as mulheres podem ajudá-los a crescer e amadurecer.” Existem os fiéis cativos e obsessivos, mas “esses têm ciúme até do passado da mulher e podem se tornar violentos”. Por fim, o espécime raro e sonhado por tantas mulheres: “o fiel por alegria e convicção”. Seria um perfil mais comum entre casais de meia-idade, que começam uma relação madura e plena após alguns insucessos.
Não há novidade no fato de que homens traem mais que mulheres – e mais por sexo que por amor. É um traço cultural, mas eles também se sentem mais livres por não engravidar nem dar à luz. Isso tudo nós já sabemos, e alguns de nós já enfrentamos com mais ou menos inteligência, valentia e sofrimento.
O livro é mais provocador ao admitir a infidelidade breve e discreta como experiência salutar e até necessária ao sucesso de alguns casamentos. “Neste caso, a infidelidade não é uma prova de amor ou desamor, mas uma prova de liberdade.” E para a mulher? “Para algumas mulheres, que conseguem separar sexo de sentimento, o mesmo ocorre. Mas a maioria delas tem outras prioridades, como o casal e a família”.
Perguntei a dois amigos casados se um homem pode ser fiel por longos anos a uma única mulher. “É possível, mas dói”, respondeu um. “Não existe homem mais fiel do que eu”, disse o outro. “Ahn, aquele caso? Aquilo só foi uma escorregadela.”
Maryse queria que as mulheres sofressem menos depois de ler o livro. Que soubessem que nunca poderão impedir uma traição se tiver de acontecer. Que jamais terão controle sobre a libido de seus homens, por mais que os fiscalizem. Que, se forem traídas, não significará que não são amadas. Será que serve de consolo? Melhor relaxar... e – quem sabe? – experimentar.
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