sábado, abril 17, 2010

RiCARDO ALLAN

De mudança para Caracas
Ricardo Allan

CORREIO BRAZILIENSE -  17/04/2010

Sem ter o que fazer a partir de 1° de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva determinou que seguidores lancem sua candidatura a secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Se o balão de ensaio não decolar, serve uma boquinha semelhante na Organização dos Estados Americanos (OEA) ou a presidência do Banco Mundial (Bird). O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o assessor presidencial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, ambos petistas, acreditam que a recém-conquistada visibilidade do Brasil confere credibilidade à pretensão.

Como não consegue viver sem uma disputa eleitoral, Lula sonha em trocar a caça pelos votos no calor das ruas pelo corpo a corpo em refrigerados gabinetes diplomáticos. Confia demais em seu carisma, confundindo o poder econômico do país com suas autoconferidas qualidades pessoais. No plano internacional, vê democracia onde ela não existe. Para Lula, não pode haver maior respeito à liberdade do que em Cuba, Venezuela e Irã. De forma chocante, fecha os olhos às atrocidades dessas ditaduras e desdenha das oposições locais, qualificando seus anseios de abertura política de “choro de perdedor”.

Outro dia, nas páginas do Correio, o ex-embaixador brasileiro em Washington Roberto Abdenur fez um diagnóstico preciso da ideológica política externa atual: “O Brasil chutou o pau da barraca e não se preocupa mais com democracia nem direitos humanos. Ao abraçar os planos nucleares de Mahmud Ahmadinejad (líder iraniano), o governo perde prestígio nos Estados Unidos, na União Europeia e nos países árabes. São erros graves, que vão acabar estourando na nossa cara, atrapalhando nossos objetivos políticos, econômicos e comerciais”.

Em recente entrevista publicada por este jornal, o jurista Ives Gandra Martins chamou a terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) do que ela de fato é: a tentativa de implantar um “regime bolivariano” no país. O plano atenta contra a liberdade de expressão, a livre iniciativa, o respeito à dignidade das pessoas e outros pilares do Estado Democrático de Direito. A candidatura do monoglota presidente brasileiro a qualquer cargo de relevância internacional só pode ser brincadeirinha. Lula é incapaz de pronunciar os termos “direitos humanos” ou “democracia” sem ruborizar. Ele, Amorim e Garcia deveriam fazer as malas e se mudar para Caracas.

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