sexta-feira, janeiro 22, 2010

VINICIUS TORRES FREIRE

A guerra de Obama contra a banca

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10



Presidente americano propõe ampla reforma a fim de limitar tamanho e atuação dos bancos e diz estar "pronto para a briga"


"SE ESSA gente quer brigar, estou pronto para a briga." Foi com frases como esta que Barack Obama anunciou ontem o mais importante plano de reforma do sistema financeiro americano desde 1933. De um modo sumaríssimo, Obama pretende: 1) limitar o tamanho dos bancos; 2) proibi-los de negociar títulos e ações com seu próprio dinheiro; 3) proibi-los de serem proprietários ou de algum modo financeira ou legalmente responsáveis por fundos de hedge e de "private equity". É uma amputação.
A paulada de Obama derrubou as ações de bancos, provocou aumento de juros e do custo de seguros financeiros, enfim, piorou o faniquito do mercado que começara anteontem.
Em tese, se as intenções de Obama pudessem se tornar realidade sem maiores dificuldades, a amputação da atividade bancária provocaria a princípio uma seca nos mercados de ações e derivativos.
Por outro lado, é difícil entender como, num mercado financeiro tão interconectado, os bancos poderiam exercer várias atividades essenciais sem tomar posições próprias no mercado de derivativos ou de securitização, por exemplo. De resto, se algumas instituições desistirem do status de bancos, o problema apenas terá mudado de nome -haverá riscos imensos não segurados pelo Estado, mas com os mesmos perigos "sistêmicos" em caso de quebra.
Mas essa é uma história para outro dia. O mais relevante agora é que Obama está em guerra aberta contra a banca.
O presidente americano foi acusado de populismo. A popularidade de Obama tem baixado. Os democratas vêm perdendo eleições parciais importantes. As pesquisas registram ainda mau humor crescente com o socorro do governo aos bancos, com o excesso de gastos federais e com o desemprego alto e resistente.
O projeto parece politicamente suspeito. Trata-se de uma grande mudança de rumo nas políticas em relação ao sistema financeiro. Obama parece ter aderido às ideias de Paul Volcker, ex-presidente do Fed lendário por ter acabado com a inflação americana dos anos 1970-80.
A "velha escola" de Volcker prefere um sistema financeiro mais controlado e simples, à maneira do que vigorou entre 1933, ano da lei bancária conhecida como Glass-Steagall, e quase até 1999, quando tais normas foram de vez para o arquivo morto.
A face mais conhecida da lei de 1933 era a separação de bancos estrito senso (instituições que recebem depósitos) de bancos de investimento. Mas Timothy Geithner (secretário do Tesouro) e Larry Summers (principal assessor econômico) jamais deram apoio a tais ideias. Foram adeptos ou promotores da liberalização financeira -Summers como sub e secretário do Tesouro de Clinton, Geithner como presidente do Fed de Nova York durante o governo de George Bush 2.
Ambos vinham defendendo mudanças apenas no sentido de exigir que os bancos tenham um colchão maior de capital para cobrir perdas, mudanças que vêm sendo discutidas nos principais comitês internacionais que discutem as reformas financeiras, como o de Basileia.
No discurso de ontem, Obama reclamou outra vez do "exército de lobistas" da banca que tentam barrar "regras de bom senso" para "proteger a economia e o povo americano".

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