Para o Brasil, é inaceitável qualquer acordo em Copenhague que comprometa o crescimento econômico
A JULGAR pela mobilização da mídia internacional, a conferência de Copenhague, que começa na próxima semana, será uma espécie de Copa do Mundo do Clima. O mundo olhará para a Dinamarca, mas, diferentemente do que ocorre nas Copas, terá dificuldade de compreender o andamento dos jogos e saber quem são os vencedores. É oportuno relembrar, portanto, as bases da discussão de Copenhague. Os cientistas estão certos de que a temperatura média do planeta Terra vem aumentando de forma significativa desde o advento da revolução industrial, no fim do século 19. Ninguém mais discute que esse aquecimento tem sido provocado principalmente pelo lançamento de gases na atmosfera por indústrias, meios de transporte, geração de energia a partir da queima de combustíveis fósseis e desmatamento. Desde o começo da era industrial, dizem os cientistas, a emissão de gases, notadamente de dióxido de carbono e metano, provocou um aquecimento de 0,8C na temperatura média do planeta. Se esse aquecimento continuar, haverá uma sequência de desastres ambientais que poderão até exterminar a vida no planeta. Alguns desses efeitos já estariam sendo sentidos: secas, furacões, desertificação, enchentes, degelos e elevação do nível dos mares. Os cientistas estabeleceram um número mágico. Segundo eles, o clima na Terra só continuará seguro se o aumento da temperatura média não passar de 2°C. Toda a discussão do aquecimento global parte desse limite. Os países ricos assinaram em 1997 o Protocolo de Kyoto, pelo qual se comprometeram em reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 5,2% até 2012, tendo por base os níveis de 1990. A meta, porém, mostrou-se insuficiente e nem foi levada a sério por todos os países -os EUA, por exemplo, nem ratificaram o acordo. Na reunião da próxima semana, em Copenhague, pretende-se negociar metas mais ambiciosas para o período pós-2012. Estarão em lados opostos, sem dúvida, os países ricos e os emergentes. Para reduzir emissões e mitigar seus efeitos, é preciso conter o crescimento econômico e aportar recursos financeiros. Brasil, China e Índia, por exemplo, vão sustentar a ideia de que cabe aos países desenvolvidos arcar com a maior parte dos custos da redução das emissões. Afinal, foram eles que enriqueceram aquecendo o planeta desde o fim do século 19 -emitiram gases industriais sem nenhuma restrição e devastaram suas florestas naturais. Agora precisam pagar a conta. Os emergentes, naturalmente, não podem fugir de suas responsabilidades. Mas suas metas devem ser diferenciadas para que possam continuar a busca do desenvolvimento e da riqueza. Usar o pretexto do aquecimento para congelar os níveis atuais de desigualdade mundial seria uma atitude ao mesmo tempo desonesta e cruel. No caso do Brasil, deve-se ter em conta também que, em razão de sua matriz hidrelétrica e do potencial produtor de biocombustíveis, o país tornou-se baixo emissor de gases de efeito estufa. Cerca de 45% das fontes de energia no país são renováveis, em comparação com 12% na média mundial e apenas 6% nas nações ricas. Para o Brasil, portanto, é inaceitável qualquer acordo que comprometa o crescimento econômico -esse deveria ser um princípio básico dos negociadores do país em Copenhague. Há uma vasta lista de ações ambientais que o país pode realizar sem afetar seu ritmo de desenvolvimento. A principal delas, certamente, é o controle do desmatamento da Amazônia.
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